O biopoder é um regime de controle dos corpos que se vale dos discursos da saúde para a imposição de uma normatividade, de uma "moral do ser saudável". Em resumo, o discurso da "saúde" pode servir muito bem como um regime de controle material e ideológico das pessoas.
Por isso, sempre considero extremamente complicado utilizar o pretexto da "saúde" como justificativa para um padrão de comportamento ou norma. Sob a régua dos discursos do que é ou não saudável, pode estar velado um regime de normatividade.
Vale lembrar que a concepção do que é ou não saudável (corpos saudáveis, hábitos saudáveis) não se dá no vácuo. Cada uma dessas noções são formuladas em determinados contextos sociais, políticos e históricos. O que é considerado saudável hoje, não é o mesmo que uma década atrás.
Isso fica ainda mais evidente no contexto do neoliberalismo, onde a compreensão de saúde é cada vez mais influenciada pela noção de performance, resultado, desempenho. Hoje, o ideal de sujeito saudável é o sujeito do desempenho (embora entre o ideal e o real exista um abismo).
Por isso, é muito importante ter sempre em mente que os discursos da saúde não são isentos de um certo conteúdo moral e normativo — principalmente quando o "ser saudável" se impõe como norma.
Em cada tempo histórico circulam representações muito particulares do que é saúde. Portanto, é bem possível que, ao se falar sobre o imperativo de "ser saudável", se esteja demandando como norma o sujeito do desempenho, "empresário de si mesmo".
Isso não significa ser contrário a hábitos saudáveis, promoção da saúde, etc. Significa ter consciência de que o ethos do "ser saudável", atende muito bem a interesses biopolíticos. Sob o pretexto da "saúde", o que se impõe goela abaixo é um regime de controle e normatividade.
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