Assexualidade
🖤💜🤍Explicada por uma pessoa da comunidade assexual🖤💜🤍 ImageImageImageImage
no início de 2018 fiz uma thread explicando oq é assexualidade e notei q diversos conceitos atualmente estavam desatualizados, então aproveitei o gancho de apresentar( q ainda não ocorreu) no gp de estudos sobre a comunidade LGBTQIA+ sobre assexualidade(eu, como uma pessoa ace)
e por isso resolvi refazer ela, usando o material q usei para fazer a apresentação, para continuar dando mais voz para nós, da comunidade assexual
começando com essa compilação de memes Image
antes de falar sobre, gostaria de lembrar que ser LGBTQIA+ não é o que a sociedade julga como ESPERADO de alguém, a comunidade LGBTQIA+ vai contra esses padrões normativos impostos desde que o mundo é mundo.
TODO MUNDO DA COMUNIDADE LGBTQIA+, INDEPENDENTEMENTE DA LETRA(ou letras) EM QUE SE ESTÁ INSERIDO SOFRE ALGUM TIPO DE OPRESSÃO OU ATÉ MESMO É INVALIDADO!
nós somos o verdadeiro significado do A(juntamente com arromânticos e tem pessoas que colocam agênero também, enquanto outras colocam agênero no T)
a thread será dividida em diversos tópicos, alocados aqui: Image
assexualidade basicamente é sobre:
-não sentir nenhuma/ nula;
-sentir rara/ pouca/ condicionada ATRAÇÃO SEXUAL;
um dos tipos de atração existentes;
lembrando que atração sexual ≠ desejo sexual(libido, tesão, etc), tópicos esses que serão abordados em seus respectivos momentos Image
existem vários tipos de assexuais, o espectro ace é vasto mas ninguém é mais ou menos assexual por ser de x identidade assexual ou y identidade assexual, todo mundo do espectro, acima de tudo, É ASSEXUAL e ponto.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS

o termo correto para se referir a pessoas que fazem parte do espectro assexual( de modo geral) é pessoa assexual ou pessoas assexuais; Image
o uso de “pessoa assexuada” está equivocado
o termo “assexuada” normalmente se refere a Reprodução Assexuada, em que se reproduzem por meio da Mitose, a exemplo de bactérias, pessoas assexuais não são bactérias que se reproduzem por meio da mitose, criando clones idênticos a ela.
o ser humano se reproduz por meio da Reprodução Sexuada.

chamar uma pessoa assexual de assexuada é visto como algo pejorativo!
HISTÓRIA DA ASSEXUALIDADE SOB UM VIÉS:
-CIENTÍFICO;
-FEMINISTA;
-COMO IDENTIDADE QUEER E PARTE DA COMUNIDADE LGBTQIA+;
-ASSEXUALIDADE E A ERA DA INTERNET.
-E PORQUE ASSEXUALIDADE NÃO PODE SER CONSIDERADA UMA “INVENÇÃO” RECENTE Image
a assexualidade como comunidade dentro das definições que conhecemos atualmente só foi surgir ao longo dos anos 1990 e 2000.

porém, todavia, entretanto, a construção histórica até o conceito atual sobre assexualidade foi longa e data de séculos.
CURIOSIDADE!

durante a dinastia Qing, na China, existiu a “The Golden Orchid Society” (A Sociedade da Orquídea Dourada), que durou aproximadamente 300 anos (entre 1644 e 1949) e era uma organização de mulheres que viviam em solidariedade, contra o casamento heterossexual.
algumas dessas mulheres eram heterossexuais e evitavam casamentos por razões não relacionadas a suas sexualidades, porém, a maioria delas eram sáficas ou assexuais. e a Golden Orchid Society era onde conseguiam viver suas sexualidades em paz (isso na medida do possível).
elas se “autopenteavam”, arrumando seus cabelos no estilo utilizado pelas mulheres casadas, e inclusive realizavam cerimônias para comemorar suas decisões de se absterem do casamento.
Casal de 2 homens/pessoas alinhadas ao masculino(ou neutro) - casal AQUILEANO
Casal de 2 mulheres/pessoas alinhadas ao feminino(ou neutro) - casal SÁFICO
Casal com 1 pessoa alinhada ao masculino e uma ao feminino(ou neutro, para ambos) - casal DUARICO
o uso desses termos tem como objetivo ser mais inclusivo, já que muitas vezes, por exemplo, quando uma mulher bi está em um relacionamento com uma mulher, dizem que ela é lésbica(apagando a bissexualidade)
e quando essa mesma mulher bi está num relacionamento com um homem, dizem que ela “virou” hétero, novamente apagando a bissexualidade dela.
agora sim iremos começar a de fato embarcar no histórico da assexualidade, com vários pontos-chave Image
começando no ano de 1869: esse foi o ano em que Karl-Maria Kertbeny argumentou contra a lei da sodomia prussiana e citou os termos "homossexual", "heterossexual" e "monossexual", esse último termo seria uma referência às pessoas que apenas se masturbavam. Image
um lembrete que podem sim existir fatos anteriores a esse mas acabei colocando os mais importantes e tals
prosseguindo, essa é considerada a primeira vez na história que tivemos a menção de algo que se parece com o que consideramos como assexualidade atualmente, é fato que, ainda era muito precário e muito específico, todavia, foi o pontapé para o desenvolvimento. Image
se é importante reforçar que, naquela época, se utilizavam os termos desejo e atração como sinônimos e que, atualmente, já se sabe que são definições diferentes. Image
ainda no século XIX, em 1880 se teve o Movimento Spinster, que era um híbrido entre o movimento de pureza social e o movimento feminista, esse movimento durou até os anos 1930.
atualmente* a pesquisadora Tone Hellesund(1967-...) aponta que é possível que essas mulheres fossem assexuais, lésbicas, bissexuais e/ou transgênero, por conta das ideologias defendidas pelo movimento e da forma com que guiavam suas vidas.
uma citação de hellesund Image
além de Hellesund, a cientista política Sheila Jeffreys publicou um livro sobre esse movimento, chamado The Spinster and Her Enemies (As Spinster e Seus Inimigos)
esse livro trata justamente dessa interseção entre o movimento de pureza social e o movimento feminista, inserindo as orientações sexuais no movimento, incluindo a assexualidade.
Carl Schlegel foi um dos primeiros ativistas gays da era moderna nos EUA.

logo no comecinho do século XX, ele incluiu a assexualidade em um de seus discursos, pedindo pela igualdade de direitos para pessoas queer. Image
a feminista Helen Fraser, em seu artigo denominado Women’s Suffrage, publicado em 1907 na revista The Westminster Review, falou sobre os “tipos de homem” e “tipos de mulher”.
dentro disso, ela lista: “homens masculinos”, “homens femininos” e “homens pouco sexuais”; e “mulheres masculinas”, “mulheres femininas” e “mulheres assexuais”.
reparem como é curioso o fato de que ela mesma isenta os homens da possibilidade de serem assexuais (no sentido de não sexuais) ao se pautar num discurso do homem como predatório.
Fraser ainda dizia que “a mulher assexual deseja banir toda a beleza sexual que ela não sente e entende da vida”.
além disso, expressa diversas vezes sua opinião de que a “mulher masculina”, apoiada pela “mulher assexual”, tende a dominar a mulher feminina em uma tentativa de se assimilar ao homem por “negar” sua feminilidade.
no ano de 1917, o autor Correa Moylan Walsh publicou um livro entitulado Feminism ,no qual ele critica o feminismo através da sua opinião de que mulheres lésbicas e assexuais seriam as responsáveis pela destruição do movimento feminista e pelo declínio da humanidade. Image
* “Urnings” pode ser traduzido literalmente a algo parecido com “homossexual”, no momento histórico em que o livro foi escrito o termo era usado de forma generalista, similar ao termo queer (que surge mais tarde).
nota-se que mesmo naquela época, pessoas assexuais já eram incluídas dentro do que hoje conhecemos como queer(em vários países como os EUA se usa queer como uma forma alternativa de falar LGBTQIA+, assim como outros termos como MOGAI).
além do próprio autor se utilizar da mesma linha argumentativa, agora, porém, com um discurso extremamente eugenista. Image
entre 1918/1922, Jennie June, considerada uma das primeiras mulheres transsexuais a publicar a sua autobiografia nos EUA, usou o termo “anaphrodite” para descrever pessoas que não sentiam atração por ninguém. Image
mais uma vez, ainda não é o termo utilizado atualmente e nem o mais acertado, mas estava no caminho.
A PATOLOGIZAÇÃO DA ASSEXUALIDADE

em 1940 é lançado, por Clifford Allen, um livro chamado “The Sexual perversions and Abnormalities: A Study in the Psychology of Paraphilia”
livro esse que no se colocava a assexualidade como uma “substituição de uma preferência sexual anormal inibida”, se referindo à homossexualidade. Ele propõe também um tratamento, que ele mesmo, no texto, admite ter riscos e desvantagens.
essa é considerada, por muitos, a primeira menção do termo “assexualidade” dentro da literatura científica.
no final da década de 40, o autor lançou uma nova versão desse livro, no qual colocou a assexualidade como um dos quatro tipos de “transtorno de travestismo”. Image
1948/1953: nesses anos foi acrescentado um "x" na Escala de Kinsey para se referir a homens (em 48) e mulheres (em 53) que não relataram nenhum contato ou relação sexual. Image
bom, o que é a Escala de Kinsey?
ela foi concebida por Alfred Kinsey, a Escala Kinsey vem para marcar a história da ciência, sendo referência até hoje
ela surgiu originalmente para avaliar o comportamento sexual de pessoas em um espectro dividido entre 3 grupos (heterossexual, bissexual e homossexual).
o grupo referente à bissexualidade, porém, era definido por “não ter forte preferencia entre os gêneros”, o que incluía assexuais dentro dessa definição, junto com quaisquer outras identidades monodissentes (que não pertencem ao dualismo heterossexual/homossexual).
bi hoje em dia se encontra dentro do espectro multissexual.

e não é de se surpreender que, anos depois, as comunidades bissexual e assexual tenham suas lutas e pautas quase como se fossem uma só.
mais tarde, a Escala Kinsey passou a incluir a categoria “X” para englobar pessoas que não apresentavam qualquer comportamento sexual.
em 1948, foi utilizada dessa forma em uma pesquisa que apontou que 1,5% dos homens adultos entravam nessa categoria e, em 1953, foi feito outro estudo que incluía mulheres, e apontou que 19% das mulheres entravam na categoria “X”.
se é muito importante lembrar que essa escala mede o desejo por contato sexual com um indivíduo de determinado gênero, o que significa que quem está na categoria X não necessariamente seja uma pessoa assexual(já que assexualidade é sobre ATRAÇÃO SEXUAL).
logo, qualquer pessoa que simplesmente não se engaje/ não tenha interesse em práticas sexuais poderia cair na categoria.
todavia, essa escala é popular dentro da comunidade Ace até hoje, e é fácil entender o porquê: geralmente, quem ainda está se descobrindo quando busca sobre “falta de atração sexual” no Google e normalmente se depara com o teste da Escala Kinsey.
pode-se dizer que, de certa forma, ela já ajudou muitas pessoas a minimamente não se sentirem “anormais”, já que é reconhecida cientificamente.
nos anos 1950, movimentações queer na mídia se tornaram mais frequentes, e as menções à assexualidade dentro do movimento também.
em 1952, a revista Transvestia, escrita por pessoas trans para a comunidade trans, citou a assexualidade ao falar sobre a sexualidade de pessoas trans, dizendo que, enquanto muitas pessoas trans são heterossexuais, algumas também podem ser assexuais.
em 1965, a mesma revista publicou uma descrição do que pode ser considerada a primeira menção da assexualidade como um espectro, chamando de “A-sexual Range”.
em outubro de 1970, outro jornal de pessoas trans, o Trans Liberation Newspaper (Jornal de Libertação Trans), incluiu a assexualidade em seu discurso. Image
ainda em 1970, o jornal The Village Voice acabou levantando discussões e curiosidade sobre a assexualidade como identidade de forma meramente acidental.
já em 1971, o jornal publicou uma paródia chamada “Asexuals Have Problems Too!” (Assexuais têm problemas também!), porém, entre as cartas de leitores enviadas para publicação no jornal, alguns leitores apresentaram experiências reais.
em 1973, foi divulgada na revista Off our Backs (edição de fevereiro/março) uma foto que era para ter saído no artigo Your Own Label ,de Frances Chapman, da edição anterior. Image
pouco depois dessa época, se iniciou o fenômeno dos zines (publicações de escritores e artistas independentes), e muitos dos zines queer faziam referências à assexualidade.
os zines sempre foram uma importante forma de dar voz aos grupos marginalizados e, infelizmente, por não serem registrados oficialmente, muitos acabaram se perdendo com o tempo.
existem pessoas que pesquisam e resgatam esses zines, como a pesquisadora e fundadora do Ace Zine Archive da Biblioteca Pública de Brooklyn, Olivia Montoya, que diz que os zines foram “o fóssil dessa comunidade”, estando presentes menções à assexualidade desde os anos 1970. Image
apesar dessas menções à assexualidade em artigos, discursos, jornais e zines, a assexualidade se mostrou presente na comunidade LGBTQIA+ no século XX em uma luta de solidariedade com a bissexualidade.

até hoje, pode-se dizer que as duas comunidades são bastante unidas.
essa “Solidariedade Bi-Ace” se dá pois, com o crescimento dos movimentos de libertação gay no início do século XX, elevou-se uma demanda pela inclusão de pessoas que fugiam da homossexualidade e heterossexualidade nos debates acerca de sexualidades.
essas pessoas levantavam a máxima “not straight, not gay” (não hétero, não gay), abarcando junto nessa definição todas as partes do espectro multissexual(bissexualidade, pansexualidade, etc), assim como a assexualidade.
a assexualidade era frequentemente colocada sob a mesma definição e/ou categoria que a bissexualidade em pesquisas, livros e artigos. assim como a própria Escala Kinsey originalmente colocava ambas na mesma área entre a homossexualidade e a heterossexualidade.
e isso explica muito do pq a comunidade bi e ace estarem lado a lado em suas lutas, como se fosse uma só.
ASSEXUALIDADE E FEMINISMO

1968: naquele ano, uma organização feminista chamada Cell 16 foi quem inspirou o surgimento de movimentos feministas separatistas lésbicos.
inclusive, o grupo publicou um livro chamado No More Fun and Games: a Journal of Female Liberation, no qual há um texto entitulado Asexuality, em que a autora define a assexualidade como algo diferente do celibato.
THE ASEXUAL MANIFESTO(1972)
considerado por muitos como o primeiro manifesto assexual, escrito por Lisa Orlando, em 1972, publicado pelo New York Radical Feminists (NYRF). Image
esse manifesto não representa a comunidade assexual atualmente, ainda mais tendo em vista que Lisa Orlando sequer era assexual e muito menos sabia o que de fato era assexualidade.
o manifesto possui diversos estereótipos nocivos que invalidam a pluralidade da comunidade assexual.
mesmo que a Lisa negue o uso do termo “celibatário”, a definição dada por ela sobre o que é assexualidade é bem semelhante: “não relacionar-se sexualmente a ninguém”. Image
a assexualidade citada nesse manifesto se refere a uma “assexualidade política” – uma prática celibatária para fins de resistência política, sem relação com o conceito de assexualidade como orientação sexual/ espectro de sexualidade.
apesar dos pesares, esse movimento foi importante para a trajetória da comunidade assexual.
afinal, essas feministas, na época, criticavam ativamente toda uma questão da alossexualidade (termo que designa o oposto da assexualidade) como algo compulsório e, de forma geral, a obrigatoriedade de sexo dentro dos relacionamentos.
elas se levantavam ativamente contra o que, hoje, alguns pesquisadores nomearam como “sexonormatividade” ou “alonorma”/ allonormatividade, e que impactam diretamente na vida de pessoas assexuais.
1974: David Bowie discute um pouco sobre assexualidade na revista Rolling Stone no artigo "David Bowie em conversa sobre sexualidade com William S. Burroughs" ImageImage
1977: Myra Jonson escreveu um artigo intitulado “Asexual and Autoerotic Women: Two Invisible Groups” (Mulheres Assexuais e Autoeróticas: Dois Grupos Invisíveis)" no livro The Sexually Oppressed (Os Sexualmente Oprimidos)
é considerado um dos primeiros trabalhos acadêmicos sobre assexualidade.
ela descreveu a assexualidade como falta completa de desejo sexual, diferenciando de pessoas que experienciavam desejo sexual, mas não tinham vontade de saciar esse desejo com outros, descritos como “autoeróticos”.
o foco de seu trabalho eram problemas experienciados por mulheres assexuais, que ela considerou terem sido ignoradas pela revolução sexual e movimentos feministas.
1979: Michael D. Storms questiona a escala de Kinsey e a possibilidade de confundir a bissexualidade com a assexualidade.
a primeira vez que a assexualidade foi realmente incluída em um estudo que usava a Escala Kinsey foi em 1979, no trabalho de Michael D. Storms.
depois disso, outros livros, como o The Mismeasure of Desire: The Science, Theory, and Ethics of Sexual Orientation e o Bisexuality: A Critical Reader, citaram diretamente a assexualidade na escala, e não apenas o “grupo X”.
novamente, a assexualidade era frequentemente colocada sob a mesma definição e/ou categoria que a bissexualidade em pesquisas, livros e artigos.

assim como a própria Escala Kinsey originalmente colocava ambas na mesma área entre a homossexualidade e a heterossexualidade.
foi 10 anos após o levante de Stonewall, iniciado por mulheres trans nos anos 1960, que a definição de bissexual deixou de ser uma espécie de “termo guarda-chuva” para definir especificamente pessoas atraídas por múltiplos gêneros.
antes, bissexual era esse termo que abarcava todas as sexualidades fora do dualismo hétero/homossexual, porém, hoje se usa “multissexuais” para se referir a bissexuais, pansexuais, etc como conjunto e, “monodissentes”, para se referir a bi, pan, [...] e ace como conjunto.
portanto, bissexualidade não é mais um termo generalista e não deve ser usado como tal.
o termo “gay” também era uma espécie de termo guarda-chuva que abarcava todas as minorias sexuais e de gênero.
todavia, como muitas lésbicas se sentiam excluídas dentro do movimento, em torno dos anos 1980 começou a ser feita uma separação mais evidente entre a luta de gays e de lésbicas.
diante disso tudo, pessoas trans e bissexuais também fortaleceram suas lutas de forma isolada ao longo dos anos 1980 e 1990.
mais tarde, em meados dessa última década e início dos anos 2000, as identidades que antes estavam aglutinadas à bissexualidade começaram a se estabelecer de forma mais forte como comunidades isoladas, incluindo a assexualidade.
1983: Ano em que saiu o primeiro estudo com dados empíricos sobre a assexualidade, usando uma variação da Escala de Kinsey.

-Mental Health Implications of Sexual Orientation (Implicações da Orientação Sexual na Saúde Mental), de Paula Nurius.
o estudo se utilizou de uma variante da Escala Kinsey e observou a saúde mental de 689 participantes em relação ao comportamento sexual ou desejo pelo mesmo.
o psicólogo Anthony F. Bogaert é o pesquisador mais famoso dentro do tema da assexualidade

no ano de 1994, ele conduziu seu primeiro estudo sobre o tema e concluiu que, na época, 1 em cada 100 pessoas se identificavam como assexuais.
uma década depois, ele fez um novo estudo, publicado também no Journal of Sex Research, que indicou que 1% de uma amostra de 18.000 pessoas britânicas investigadas diziam não sentir atração sexual.
esse dado, por mais desatualizado que esteja, ainda é bastante divulgado até os dias atuais por sua repercussão na mídia.
somente naquele ano, a revista New Scientist dedicou uma edição à assexualidade em resposta ao trabalho de Bogaert, e o canal Discovery dedicou um episódio da série The Sex Files para a assexualidade.
apesar da Escala Kinsey e dos trabalhos de Bogaert serem muito importantes para a história da assexualidade, o trabalho que realmente é aclamado pela comunidade assexual foi o artigo publicado por Zoe O’Reilly
trabalho esse publicado em 1997, na StarNet Dispatches Webzine, batizado de My life as an amoeba (Minha vida de ameba), já que foi em sua seção de comentários que surgiu a primeira “comunidade assexual online”.
o trabalho de O’Reilly teve todo esse impacto não só por isso, mas principalmente pelo fato de a própria autora ser assexual, além de tê-lo escrito em primeira pessoa.
isso naturalmente gerou uma enorme identificação entre leitores, que não imaginavam que poderiam ser assexuais ou que, sequer, existisse a assexualidade.

pode-se até dizer que Zoe O’Reilly foi a primeira pessoa a se assumir assexual na internet.
também se teve o Haven for the Human Amoeba (HHA), que foi um grupo criado no Yahoo após o sucesso do artigo de Zoe (aliás, o nome do grupo foi inspirado no nome do artigo).
e assim como o HHA surgiu a partir da seção de comentários do My Life As An Amoeba, em 2001 surgiu a Asexual Visibility and Education Network (AVEN) por meio da demanda por um site mais estruturado por membros do HHA.
CRIAÇÃO DA AVEN EM 2001
A AVEN(The Asexual Visibility and Education Network ) foi fundada no início de 2001 e é considerada a PRIMEIRA COMUNIDADE ASSEXUAL DA INTERNET. Image
por meio da AVEN se teve uma maior visibilidade da comunidade assexual em um âmbito global, isso não quer dizer que assexuais não existiam antes, mas sim, que, por meio da internet se possibilitou que mais pessoas soubessem da existência da assexualidade. Image
A AVEN se tornou uma rede de educação e visibilidade assexual e, também, referência internacional sobre a assexualidade.
foi fundada pelo ativista assexual David Jay e atualmente abarca em seus fóruns a maior comunidade assexual da internet e é responsável pela organização de diversos eventos de grande porte, como a UK Asexuality Conference (Conferência Assexual do Reino Unido). Image
2002: foi aprovado, em Nova York, a única legislação que inclui e menciona a assexualidade (Lei de Não Discriminação de Orientação Sexual).
2010: Ano em que foi mostrada a bandeira do orgulho assexual. Image
foi também dentro dos debates em fóruns da AVEN que nasceu e foi apresentada ao público em 2010 a bandeira do orgulho assexual, além de outros símbolos da assexualidade.
diferente de muitas bandeiras do orgulho, que foram criadas por uma ou um grupo seleto de pessoas, o sistema de fórum online da AVEN possibilitou que a bandeira Ace fosse criada coletivamente através de votações e discussões globais.
em 2012, ocorreu a primeira Conferência Assexual Internacional durante a 2012 World Pride, em Londres, mostrando que cada vez mais as pessoas assexuais estavam se fortalecendo enquanto comunidade dentro e fora da internet, e trazendo ao mundo suas vivências, questões e demandas.
inclusive, mesmo que a homossexualidade tenha sido removida do DSM em 1973, foi apenas em 2013 que a assexualidade deixou de ser taxada como “Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo”
com uma mudança feita na quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), que, agora, inclui uma exceção nesse transtorno para que pessoas que se identificam como assexuais não sejam diagnosticadas e tratadas erroneamente.
essa mudança só ocorreu pois, anos antes, em 2008, o ativista e criador da AVEN, David Jay, se encontrou com Mara Keisling, a diretora executiva do National Center for Transgender Equality, que sugeriu à comunidade assexual tentar entrar em contato com o comitê do DSM-V
e discutir mudanças na categoria das desordens sexuais.

a partir disso, Jay criou um grupo com outros usuários da AVEN para promover esse diálogo em busca de alterar a definição do Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (HSDD).

o resultado, claro, foi positivo.
todavia, no CID-10, uma referência internacional para a medicina na categorização de doenças, a assexualidade ainda se enquadra como Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo, passível de ser tratada.
e essa visão da assexualidade como patologia não se resume a manuais de categorização de doenças
algumas pesquisas de grande escala, como a National LGBT Survey do Reino Unido, feita em 2018, apontam dados alarmantes sobre oferta de terapia de reorientação sexual (vulgarmente chamada de “cura gay”), dentre outras informações.
de acordo com a pesquisa, pessoas assexuais cisgênero (cuja identidade de gênero corresponde ao gênero que lhe foi atribuído no nascimento) são as que se sentem menos confortáveis sendo LGBTQIA+
além de também terem mais resistência a se abrirem, mesmo com amigos, sobre isso (por medo de rejeição).

assexuais também são as pessoas que receberam mais ofertas de terapia de reorientação sexual.
no Brasil e em muitos países essa prática é crime, mesmo que exista na ilegalidade.
na própria UK Asexuality Conference foi debatida essa questão da medicalização desnecessária e de preconceito por parte de profissionais da saúde quando as pessoas mencionam ser assexuais.
isso é negativo não apenas pelo simples fato de que excesso de remédios causa danos à saúde, como também por criar medo e receio em consultas com médicos ou psicólogos.
reforçando, outra questão muito séria enfrentada por pessoas assexuais é a medicalização.
é bastante comum profissionais da saúde não terem informação ou conhecimento mínimo sobre a assexualidade e, por isso, encararem essa reduzida ou ausente atração sexual como doenças e transtornos.
não são poucas as pessoas que, antes de se descobrirem assexuais, chegaram a fazer tratamentos hormonais ou uso de outros remédios e terapias para tentar “se consertar” e se “normalizar”.
O NOVO MANIFESTO ASSEXUAL(2020)
no ano de 2020, brasileiros, donos de um perfil voltado para a comunidade Aroace(arromânticos E assexuais), donos do Aroaceiros, reformularam o manifesto assexual(1972) Image
e fizeram o novo manifesto assexual, por entenderem que o antigo não representa a comunidade assexual atualmente.

link: docs.google.com/document/d/1lU…
passamos pela parte histórica e a seguir abarcaremos no conceito atual de assexualidade
CONCEITO ATUAL DE ASSEXUALIDADE

uma pessoa assexual é uma pessoa que não sente nenhuma/ nula, sente rara/ pouca/ condicionada ATRAÇÃO SEXUAL (um dos tipos de atração existentes);

alguns tipos de atração(créditos: @lanaflowerz) Image
é um espectro de sexualidade e é muito vasto, assim como qualquer outra parte da comunidade LGBTQIA+;

existem diversas identidades assexuais dentro do espectro;
alguns exemplos: Assexual Estrito; Gray-A; Demissexual, AceFlux, etc.
o significado das cores da bandeira assexual
Preto= Assexualidade
Cinza= O Espectro Assexual
Branco= Representa a sexualidade
Roxo= Para toda a comunidade assexual Image
ALGUMAS IDENTIDADES ASSEXUAIS
Assexualidade Estrita: Falta total de atração sexual, independente de circunstância ou gênero. Image
Grayssexualidade: Atração sexual rara e circunstancial, com ou sem um motivo específico. Image
Demissexualidade: Atração sexual podendo ser desenvolvida apenas no caso da existência de um vínculo afetivo e/ou emocional com outra pessoa. Image
Assexualidade Fluída/Aceflux: Fluidez através do espectro assexual, podendo alternar entre identidades dentro do espectro. Image
essas são apenas algumas identidades dentro do espectro assexual, o espectro é muito mais amplo e vasto e existem diversas orientações compreendidas dentro do mesmo. as possibilidades são infinitas! Image
também se é importante salientar que assexualidade pode ser usado como um termo guarda-chuva, em que estão inseridas diversas identidades assexuais, etc.
resumidamente, por exemplo, todo demissexual é assexual, porém nem todo assexual é demissexual, justamente por se existirem diversas identidades assexuais dentro do espectro assexual.
ASSEXUALIDADE E ARROMANTICIDADE NÃO SÃO A MESMA COISA!

assexualidade é referente a ATRAÇÃO SEXUAL(nenhuma, nula, rara, pouca, condicionada)

arromanticidade é referente a ATRAÇÃO ROMÂNTICA(nenhuma, nula, rara, pouca, condicionada)
você ser assexual não te torna automaticamente arromântico, assim como ser arromântico não te torna automaticamente assexual, elas existem de forma separada, porém pode sim existir a possibilidade da pessoa ser AROACE(assexual E arromântica), mas não é regra.
bandeira assexual / bandeira arromântica/ bandeira aroace ImageImageImage
DIFERENÇA ENTRE ATRAÇÃO SEXUAL E DESEJO SEXUAL

ainda se tem a diferenciação entre ATRAÇÃO SEXUAL e DESEJO SEXUAL (libido, tesão, etc);

a atração(seja qual for) é voltada para alguém, para um indivíduo enquanto o desejo não, é voltado para o ato em si.
EX PRÁTICO
ATRAÇÃO SEXUAL- quero transar com fulano.
DESEJO SEXUAL- quero transar.
assexualidade ≠ falta de libido

libido basicamente é o desejo sexual/ tesão;

assexualidade é sobre ATRAÇÃO SEXUAL e não sobre DESEJO SEXUAL.

existem pessoas assexuais com a libido alta, assim como existem pessoas não-assexuais com a libido baixa.
ASSEXUAIS PODEM SER TAMBÉM:

Assexual E Hétero; (Heterossexual / Heterromântico)
Assexual E Gay; (Homossexual / Homorromântico)
Assexual E Lésbica; (Homossexual / Homorromântico)
Assexual E Bissexual/ Birromântico;
Assexual E Pansexual/ Panrromântico;
entre outras orientações sexuais e ou/ orientações românticas, etc.

a existência de uma não anula a outra, elas coexistem!
hétero, gay, lésbica, bi, pan, ace, etc se enquadram como orientação sexual, porém você ser ace não anula a possibilidade de você ter alguma outra orientação sexual(e vice-versa), elas se complementam.
infelizmente se tem muita desinformação sobre porque nunca ouvem a gente que é da comunidade ace e muitas vezes acabam somente ouvindo pessoas que sequer são da comunidade e repassam achismo e desinformação como se fossem verdades absolutas.
a assexualidade diz o COMO você se atrai(nenhuma, nula, rara, pouca, condicionada), assim como a allosexualidade(atração sexual do modo que a sociedade espera) enquanto as outras orientações sexuais dizem o POR QUEM você se atrai( het, gay, lésbica, bi, pan, etc)
sexualidade é voltada a ATRAÇÃO SEXUAL e assexualidade é sobre ATRAÇÃO SEXUAL também
"então por quê allossexual(não-aces) não são da comunidade LGBTQIA+ por serem allossexuais? E por quê assexuais estão na comunidade por serem assexuais?“

vamos lá
um exemplo básico, ninguém tá na comunidade LGBTQIA+ por ser hétero(sim, pessoas trans, intersexo, aces, etc PODEM ser hétero, mas estão na comunidade por serem do T, I, A)

a sociedade É HETERONORMATIVA, ser hétero é o que a sociedade espera q você seja, é o "ideal“.
assim como a sociedade É ALLONORMATIVA, você ser allo, sentir atração sexual do modo q a sociedade espera, é, sendo redundante, o que ela espera q você seja, é o "ideal“.

o oposto de LGBTQIA+ é CHAP
Cisgênero Heterossexual Allossexual Perisexo
a sociedade é
-CISNORMATIVA
-HETERONORMATIVA
-ALLONORMATIVA
E
-PERINORMATIVA

sim, existem allos na comunidade mas eles não estão na comunidade por serem allos, mas sim por serem de outras letras da sigla LGBTQIA+, simples assim :)
DESMISTIFICANDO A ASSEXUALIDADE ImageImage
ASSEXUALIDADE NÃO É SOBRE SEXO, É SOBRE ATRAÇÃO SEXUAL

não se deve confundir assexualidade com:
-ser celibatário;
-adepto a abstinência;
-ser contra sexo;
-ser conservador;
-ser puritano;
-ser moralista;
etc;. Image
ASSEXUALIDADE É CAUSADA POR TRAUMA, DOENÇA MENTAL OU INFLUXO DE HORMÔNIOS?

NÃO! já está mais que comprovado que uma coisa não tem nada a ver com a outra, assexualidade não é derivada de trauma, doença mental ou falta de hormônios.
tanto traumas, doenças mentais ou influxo de hormônios podem ocorrer com pessoas allossexuais(pessoas não-assexuais) e não se existem provas que sustentem que uma orientação sexual e doenças/ traumas/ influxo de hormônios estejam ligadas.
de acordo com um Estudo realizado em 2010(Brotto, et. al., 2010) “Não há taxas maiores de doenças mentais entre assexuais” do que entre a população em geral.
a ausência e a pouca atração sexual por muito tempo foram consideradas patologias, que requisitariam intervenções de profissionais de saúde.

a assexualidade, como uma orientação sexual, não pode ser confundida com uma doença, ou o resultado de um trauma ou influxos hormonais.
inúmeras pesquisas mostram que pessoas assexuais não possuem traumas e alteração dos níveis hormonais esperados.
uma das grandes lutas do movimento assexual para a despatoloização foi a anotação, no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, Quinta Edição (DSM-V), para que pessoas que se identificam como assexuais não recebam diagnósticos de TDSH
mas isso não considera que esse sofrimento possa ser gerado por uma cultura sexonormativa, que exclui e gera sofrimento daqueles que não cumprem o padrão de desejo sexual(sendo que assexualidade é sobre ATRAÇÃO SEXUAL, embora os termos ainda sejam muito confundidos).
o DSM denomina de maneira diferente a baixa atração/desejo sexual, para homens e mulheres cis, denotando o quanto a expectativa social voltada à sexualidade de homens e mulheres cis é diferente (uma consequência do machismo estrutural)
e pode-se dizer que isso contamina a área da “ciência”, que a princípio se propõe neutra a julgamentos e padrões culturais.
A ASSEXUALIDADE EM UMA VISÃO FREUDIANA NÃO TEM NADA A VER COM A ASSEXUALIDADE COMO UM ESPECTRO DE SEXUALIDADE

o pai da psicanálise também falou sobre assexualidade, todavia, nada relacionado a assexualidade atualmente, como um espectro de sexualidade; Image
assexualidade para Freud era muito mais atrelada a falta de libido, além de ser considerada uma doença que precisava ser curada;
usa-se esse argumento dessa visão freudiana para se invalidar a comunidade assexual atual, o que, no mínimo, é burro e desonesto, já que são coisas distintas.
ASSEXUALIDADE É OUTRO NOME PARA CELIBATO E/OU ABSTINÊNCIA?

NÃO! O celibato e a abstinência são uma escolha, isso independente da pessoa ser assexual ou não, assexualidade NÃO É ESCOLHA!

a assexualidade é uma orientação sexual, o celibato e a abstinência são comportamentos;
uma pessoa assexual não sente, ou sente pouca/ condicionada atração sexual por outras pessoas e pode ou não, decidir praticar atividades sexuais.
uma pessoa celibatária não pratica sexo por algum motivo, nem sempre por sua escolha, enquanto, na abstinência, uma pessoa escolhe não praticar sexo.
os conceitos podem se sobrepor, mas não se confundem. Uma pessoa assexual poderia ser celibatária ou abstinente, sem que os conceitos se tornem confusos.
ASSEXUAIS NÃO SOFREM PRECONCEITO?

muito pelo contrário , assexuais enfrentam preconceitos, opressões e discriminações.
as pesquisas indicam que as precariedades e vulnerabilidades associadas com a visibilização e não reconhecimento das experiências assexuais, leva a taxas ligeiramente mais altas de suicídio e tentativa, retraimento social
e problemas interpessoais comparados com grupos heterossexuais e não heterossexuais ou, ainda mais a fundo, comparado com grupos de pessoas allossexuais(não-assexuais), já que pessoas assexuais podem ser hétero, homo, bi, pan, etc.
ACEFOBIA: A DISCRIMINAÇÃO DE PESSOAS ASSEXUAIS

a acefobia é normalizada pela sociedade. Como exemplos pode-se dizer até mesmo a ideia de se invalidar uma pessoa por ela ser assexual, negar a existência dela.
também se pode citar casos de estupro corretivo para tentar se “curar” a assexualidade de alguém, além de ameaças de estupro para se “curar” a assexualidade
assim como se pode citar os “tratamentos” que se faziam na “cura gay” na década de 60 para se “curar” pessoas não-heterossexuais, e que, em uma sociedade conservadora ainda é perpetrada.
violência médica, a exemplo de indicação de hormônios para uma pessoa que está com os hormônios normais mas simplesmente indicarem o uso por a pessoa ser assexual, na tentativa de “consertar” ela.

entre diversas outras diversas formas presentes no dia-a-dia.
CASO BIANCA DEVINS

em 14 de julho de 2019, Brandon Andrew Clark assassinou Bianca Michelle Devins depois de vê-la beijar outro homem, embora relatórios policiais digam que o assassinato foi premeditado. Image
após uma tentativa de suicídio imediata e malfeita, ele foi acusado de assassinato em segundo grau . Posteriormente, ele se declarou culpado pelo assassinato e foi condenado a 25 anos de prisão perpétua.
o assassino postou imagens de seu corpo sem vida online, que se tornaram virais. E ainda, as imagens foram enviadas para sua família.
O GRUPO EXTREMISTA INCEL

as imagens do cadáver de Devins foram amplamente compartilhadas nas redes sociais como Instagram, Facebook e Twitter .  

eles ganharam força no site 4chan com centenas de postagens elogiando Clark por cometer "outro assassinato no 4chan".
os usuários de Incels. co e 8chan também estavam comemorando a morte da jovem.
incels são parte de um grupo extremista de homens celibatários involuntariamente

é uma subcultura online que propaga seu ódio as mulheres;

além de discursos de ódio contra mulheres, consequentemente, se tem discursos contra o feminismo;
ASSEXUALIDADE É INVENÇÃO MODERNA DA INTERNET?

NÃO! como já explicado, a construção do conceito atual de assexualidade como um espectro levou no mínimo 1 SÉCULO E MEIO.
a assexualidade somente tornou-se grande conhecida do público, como orientação sexual, a partir da AVEN, uma comunidade virtual, fundada em 2001, que possui como objetivo propagar informações e visibilidade sobre a assexualidade.
todavia, registros de ativistas e discussões sobre a assexualidade são anteriores.
a comunidade assexual(assim como diversas outras partes da comunidade LGBTQIA+ e outras minorias sociais) se utilizou da internet para criar uma rede de ativistas e suporte mundial, com a existência de ativismo assexual em diversas partes do globo.
ASSEXUAIS NÃO TRANSAM E NÃO SENTEM DESEJO SEXUAL?

assexualidade é voltada para a ATRAÇÃO SEXUAL, seja nenhum, nula, rara pouca ou condicionada, aces podem sentir desejo sexual e podem voluntariamente se envolver em atividades sexuais, pelas mais variadas razões.
assim como podem não querer, transar ou não transar é uma escolha individual, de cada um, assim como existem não-aces que não transam por n razões.

resumindo: assexuais que transam, transam porque querem!

Assexualidade não é sobre não transar!
do mesmo jeito que existem assexuais que não possuem interesse em sexo, existem assexuais que possuem esse interesse (SERÁ ABORDADO EM TERMOS IMPORTANTES) ;

logo, assexualidade NÃO TEM NADA A VER COM SER CELIBATÁRIO, ADEPTO A ABSTINÊNCIA, SER ANTI-SEXO, ETC.
TERMOS IMPORTANTES DENTRO DA ASSEXUALIDADE
créditos para o @dino_livly
acabei pegando as definições, vou colocar aqui também
sex-repulsed- (ou sexo-repulsivo) é um termo que as pessoas que acham o ato ou ideia de realizar sexo (e tudo relacionado) algo muito repugnante, desagradável. normalmente também não gostam de falar sobre o assunto.
sex negative- (ou sexo-negativo) o termo abrange pessoas que não tem interesse em sexo ou coisas relacionadas mas também não acham o assunto ou ato desagradável ou nojento. Nesse caso, depende de cada pessoa como se comportará em relação a realizar ou não o ato sexual.
sex-neutral- (ou sexo-neutro) as pessoas que utilizam desse termo são neutras ao assunto ou ato. Não há um acordo em relação a praticar/conversar ou não sobre sexo, considerando que não há tanta importância sobre o assunto.
sex-favorable- (sexo-favorável) o termo é utilizado por pessoas que são favoráveis ao assunto ou ato sexual e tudo relacionado. São mais predispostos a se relacionar sexualmente com alguém. É o oposto de sex-repulsed.
sex-positive- (ou sexo-positivo) são as pessoas que se sentem confortáveis ou até gostam de conversar ou dormir com alguém, porém sem haver uma grande importância tão grande sobre isto. É descrito como contrário a sex-negative.
ambos os termos negativo e positivo falam sobre o seu conforto em relação a algo, mas de uma forma em que não há tanta importância no assunto.
enquanto os conceitos de repulsivo e favorável falam sobre o que você como considera o ato sexual, sendo algo nojento ou estimulante/propício a acontecer.
aquele lembrete básico de que esses termos podem ser utilizados POR QUALQUER PESSOA, não somente por pessoas da comunidade assexual!
EXEMPLOS DE FALAS ACEFÓBICAS, PROBLEMÁTICAS E SEM NOÇÃO QUE SÃO CONSTANTEMENTE OUVIDAS POR NÓS DA COMUNIDADE ASSEXUAL

É só uma fase;
Você tem uma doença, precisa ser curado;
Você só não encontrou a pessoa certa;
Isso ai é traço da personalidade baseado em trauma;
Você tem problemas;
Já pensou em procurar ajuda profissional pra se “curar” da assexualidade?
É só sentar num vibrador pra “curar” a sua assexualidade;
Deveriam te estuprar pra te “curarem” da assexualidade;
Tá querendo uma opressão pra chamar de sua;
Você é estranho;
Mas não é todo mundo assim?(quando descobrem o que de fato é assexualidade)
Qual a diferença disso pra alguém normal como eu?
Não tem namoro sem sexo, namoro sem sexo é amizade;( a sociedade resume aces a não transar, sendo que uma coisa não tem nada a ver com a outra);
Ninguém nunca vai se interessar por você porque você é assexual;
Você já transou, você não é assexual(???);
Seus namoros são de brincadeira;
Então você nunca vai gostar de ninguém, é um psicopata(psicofobia, além de acefobia);
Você é um alien, anormal;
Tudo bem ser assexual, mas não precisa falar sobre;
É só falta de libido;
Sexualidade Tumblr;
Relaxa, eu posso te fazer mudar de ideia;
O que aconteceu pra você “virar” assexual? Algum trauma? Ou será que é porque não me provou ainda;
Você é muito exigente;
Ace deveria só namorar ace;
Nossa mas e se a outra pessoa quiser transar?
Vocês não morrem, então não faz parte da comunidade LGBTQIA+;
Isso não é normal;
Já pensou em terapia pra se “curar” da assexualidade?
Eu não consigo ficar com alguém assexual, sexo é fundamental pra mim;
Vai fazer eu me sentir insuficiente se não tiver sexo no relacionamento;
Vai pro médico pra ver se ele te “cura” da assexualidade;
Espera mais um pouco amiga, você vai conhecer a pessoa certa;
Mas você precisa ter filhos;
Assexuais não podem ser sexys, assexualidade e ser sexy é algo contraditório;
Você se masturba? Você transa?(perguntas desnecessárias);
Não, você não é assexual se você é pan, ou você é assexual ou é pan, os dois não dá, se decida(os termos coexistem);
Você não é melhor do que ninguém por não gostar de sexo(mais uma vez o estereótipo dando oi);
Quem que não gosta de transar?
Você só quer chamar atenção;
Assexualidade é escolha;
Assexualidade é a mesma coisa que celibato;
Você só é assexual porque não me pegou ainda;
Assexualidade é modinha;
Cansei de sofrer por amor, vou “virar” assexual;
Sempre soube que você era estranha;
Você só diz que é assexual pra parecer cult;
Como você é assexual se já gostou de tal pessoa?
Você só é gay/ lésbica/ bi pan, etc e não quer se assumir;
Mas você já ficou com tal pessoa;
Coragem pra assumir que tem uma doença, que precisa ser urgentemente tratada;
Tem que voltar o hospício de Barbacena;
Assexualidade não existe;
Você é assexuado;
Você só não gosta de transar;
Você não ama de verdade;
Tudo bem ser assexual mas não precisa de símbolos;
Mas você nem sofre preconceito;
E tão errados em te mandarem se tratar?
Você tem problemas hormonais;
Não, você não é demissexual(identidade ace), você só é normal e quer bancar o diferentão;
Vem comigo numa festa tomar umas cervejas que isso passa rapidinho;
Não sabia que traço de personalidade era sexualidade agora;
Agora inventaram essa coisa de assexual mas todo mundo precisa de sexo;
Não despertou sua sexualidade ainda;
Isso é um problema psicológico;
Quer dizer que você é uma planta?
Não é só uma questão de preferência?
Não faz sentido ter o A na sigla ;
Você ainda não descobriu seu fetiche certo, quando descobrir vai ser só vapo;
Você diz isso porque tem problemas com sua infância né?
É porque você é infantil então não quer gostar de sexo;
Você só pode saber depois de ter experimentado tudo, só depois dos 18 anos;
Eu também era assim antes de transar;
Assexualidade é besteira;
Você vai morrer sozinho;
Você é muito novo pra saber o que é;
Pra que falar de assexualidade? Um assunto inútil, ninguém quer saber, não transar não é sexualidade(estereótipo*) e ninguém liga se você não transa(puro suco de estereótipo acefóbico baseado em achismo e desinformação);
Você só tá confuso;
Só é assexual quem é feio e pra sair por cima diz que é assexual;
Eu também achei que era assexual, até conhecer a pessoa certa;
Você não é da comunidade LGBTQIA+;
Assexuais são só a desculpinha pra ter hétero infiltrado na comunidade, o A da sigla é de aliado viu? Um CHAP, Cis Hétero Allossexual Perisexo, e dai que é tudo aquilo que a comunidade LGBTQIA+ não é?
Assexuais são o motivo de ninguém levar comunidade LGBTQIA+ a sério;
Assexuais são puritanos, conservadores, contra sexo e querem irritar os outros mas vivem no século passado;
Ah, eu também sou assexuado[como piada];
Como assim você é assexual se faz piada com conotação sexual?
Gosto de você, uma pena que você seja “assexuado”;
Como assim você é assexual e é extrovertido?
Tá só se fazendo de difícil;
Você é uma pedra;
Você não é assexual, você tem depressão;
Ah, mas uma hora você vai querer fazer;
Você só se rotulou assim pra se sentir especial e justificar sua baixa auto estima;
Isso aí é problema de falta de hormônios, você já foi se consultar?
Não é pela sua religião não?
Você é freira?
Como assim você é assexual e namora?
Como você sabe que é assexual se nunca transou?
Acho que só dá pra ter certeza depois que experimentar;
Entre outros diversos ex.
ALGUMAS DATAS IMPORTANTES!

O Dia Internacional da Assexualidade (DIA), acontece no dia 6 de abril e faz parte da campanha mundial que busca promover todo o espectro ace. Ace é um termo guarda-chuva ou seja, abrange diversas identidades assexuais.
Outubro é o mês da visibilidade assexual.

A última semana de outubro é a semana da consciência/ visibilidade assexual(Ace Week).
ALGUMAS PESSOAS ASSEXUAIS NAS MÍDIAS

a seguir colocarei algumas pessoas assumidamente assexuais(de qualquer parte do espectro), se quiserem comentar outro, fiquem a vontade
Ace Dad Advice
o cody fala bastante sobre assexualidade, é como um pai pra mim.
yt: youtube.com/channel/UCKc5A…
tiktok: tiktok.com/@acedadadvice
tt: twitter.com/CDaigleOrians
insta: instagram.com/cdaigleorians/ Image
YASMIN BENOIT.
ela é modelo de lingerie e ativista assexual, maravilhosa dms
tt: twitter.com/theyasminbenoi…
insta: instagram.com/theyasminbenoi… Image
YASMIN BENOIT E A COLEÇÃO DE LINGERIES ASSEXUAIS
recentemente, no mês da visibilidade assexual(Outubro), mais especificamente na AceWeek(última semana de outubro), mostrou-se uma coleção de lingeries assexuais, com as cores da bandeira assexual
o que gerou muitos comentários de pessoas ignorantes, falando que não deveria usar lingerie porque só usa lingerie quem quer transar e que assexuais deveriam usar as “calcinhas de vovó”
além de que era contraditório ela, uma pessoa assexual, ser modelo de lingerie porque “assexuais não são isso, sexys”.
se teve comentários acefóbicos, a chamando de objeto de BDSM, falando que ela estava se sexualizando, se contradizendo ao ser assexual e vestir lingerie, além de comentários extremamente racistas, debochando do corpo e da aparência dela.
não é a 1ª vez que ela é atacada por pessoas extremamente conservadoras que definem assexualidade a estereótipos nocivos e mentirosos.
ALINA DURSO

não poderia faltar a mamacita, perfeita e didática
tt: twitter.com/alinadurso?ref…
insta: instagram.com/alinadurso/ Image
MONJINHO/ MONGE HAN

ele é um ilustrador e mais um milhão de funções e faz algum tempo que se assumiu demissexual(uma identidade ace)
tt: twitter.com/mongehan
insta: instagram.com/mongehan/?hl=p… Image
BABI DEWET

ela é escritora, produtora de eventos, etc e é demissexual.
tt: twitter.com/babidewet?ref_…
insta: instagram.com/babidewet/?hl=…
yt: youtube.com/channel/UCAAaf… Image
INDICAÇÃO DE LIVROS SOBRE O ASSUNTO

-A de Assexual: Entendendo a Assexualidade Humana por Cláudia P. Costa 

-Assexualidade: subjetividades emergentes no século XXI por Paulo Victor Bezerra

ambos tem na amazon, seja em ebook ou físico ImageImage
LIVROS DIVERSOS COM REPRESENTATIVIDADE ASSEXUAL
menção honrosa ao todd chavez de bojack horseman ImageImageImageImage
NÓS EXISTIMOS E RESISTIMOS!
seja onde for, na internet ou no mundo físico, a assexualidade existe e sempre existiu com suas demandas e luta por inclusão, compreensão e, principalmente, aceitação.
ainda existe um longo caminho a ser trilhado, principalmente nesta era que é pautada na mídia e na visibilidade como maior instrumentos de reconhecimento e educação em larga escala.
REFERÊNCIAS USADAS PARA A CONFECÇÃO DO MATERIAL
The History of Assexuality: aceinthehole.co/2018/08/22/the…

História da Assexualidade: recortcanal.com/historia-da-as…

Assexualidade: um olhar psicanalítico para o futuro: pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr…
Mitos sobre assexualidade: sbmfc.org.br/noticias/mitos…

AVEN: asexuality.org

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1 Nov
vcs sabiam q no início do século passado teve um autor a criticava o feminismo e ainda culpava lésbicas e assexuais pela destruição do movimento feminista e pelo declínio da humanidade? além do próprio tbm ter um discurso eugenista q pqp ImageImage
sim, não corresponde ao q assexualidade é hj em dia já q coloca como um sinônimo de celibato e abstinência e sabemos q celibato e abstinência são escolhas enquanto a assexualidade não, etc
mas é interessante pensar q nós já incomodavamos o CHAP branco privilegiado no século passado enquanto hj em dia se tem esses mesmos discursos retrógrados e ainda com pessoas q não sabem nd sobre assexualidade dizendo a somos uma "invenção " da pandemia
Read 9 tweets
31 Oct
o povo qnd descobre por meio de pessoas assexuais q se pode ser ace E gay, ace E lésbica, ace E hétero, ace E bi, ace E pan, etc pq sempre q vão "pesquisar" sobre, em fontes nd confiáveis acham gnt não-ace falando q assexualidade é sobre não se atrair por ngm, etc Image
vamos lá mon anges, o espectro assexual(em q estão inseridas várias identidades e subidentidades/ subrrótulos, entre eles ace estrito, gray-a, demissexual, aceflux, etc), mas basicamente é sobre não sentir nenhuma/ nula, sentir rara/ pouca/ condicionada ATRAÇÃO SEXUAL Image
e atração sexual é um dos tipos de atração existente
lembrando que atração sexual ≠ desejo sexual
o desejo é o ato em si, enquanto a atração tem um receptor
ex:
atração sexual: quero transar com fulano
desejo sexual: quero transar
Read 8 tweets
14 Apr
OS LIVROS DO STEPHEN KING EM ORDEM CRONOLÓGICA, A THREAD
antes de começar, vou fazer uma breve apresentação sobre quem é o velhinho king, bom, ele é um escritor e geralmente seus livros rondam os gêneros do terror/ ficção sobrenatural e científica, suspense e fantasia, ele é autor de mais de cinquenta livros best-sellers no mundo.
na thread tbm estarão livros q o king publicou com algum pseudônimo
Read 80 tweets
12 Apr
porque assexualidade é inválida, a thread Image
não é
se você invalida aces/ aros/ aroaces eu quero que você vá tomar no seu cu, todas tem contexto histórico e são extremamente válidas e bastaria vcs estudarem sobre pra saberem disso invés de invalidar os outros baseado em achismo e desinformação
Read 4 tweets

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