Estudo da @NatureComms demonstra que vírus muito relacionados ao vírus SARS-CoV-2 (responsável pela pandemia da COVID-19) já circulavam desde 2010 em Camboja🇰🇭, adicionando mais uma evidência da origem a partir da evolução (e não do laboratório) desse vírus
Bora ler 🧶👇
Em julho desse ano, fiz um fio comentando um artigo da @CellCellPress sobre novas identificações de coronavírus em morcegos🦇, nos dando mais indicativos sobre sua origem evolutiva
A busca pela origem e os reservatórios (animais que podem abrigar o vírus na natureza) é bastante desafiadora. Onde começou, de fato? Em qual animal? Para onde o vírus foi? Recontar essa história não é fácil e requer um extenso estudo, mas a busca precisa ser feita
Acredita-se que os morcegos-ferradura🦇 (gênero Rhinolophus) sejam o principal reservatório natural de coronavírus relacionados à SARS, também chamados de Sarbecovírus. Outros estudos demonstraram, também, outros possíveis reservatórios
Uma alta diversidade de espécies de coronavírus foi encontrada em 🦇Rhinolophus coletados em várias províncias da China🇨🇳, e o presente artigo, inclusive, aponta que o sudeste da Ásia é uma região crítica para o monitoramento de novos coronavírus nature.com/articles/s4146…
Na província de Yunnan🇨🇳, estudos observaram que alguns 🦇-ferradura abrigavam coronavírus MUITO próximos ao SARS-CoV-2, comentei alguns deles neste fio. São eles: RaTG13 (sequenciado em 2013), RmYN02 (2019), RpYN06 (2020)
Mais de 25% da diversidade de morcegos do mundo é encontrada no sudeste da Ásia. Outros coronavírus foram encontrados fora da China, com uma proximidade imensa ao SARS-CoV-2, como descrito abaixo:
No presente trabalho, mais 2 coronavírus MUITO próximos ao SARS-CoV-2 foram encontrados, dessa vez em Camboja🇰🇭. Os autores avaliaram 430 amostras arquivadas de seis famílias de morcegos e duas famílias de mamíferos carnívoros nature.com/articles/s4146…
Essas duas sequências de material genético de coronavírus encontrada nas amostras revelaram uma íntima relação com SARS-CoV-2, exibindo 92,6% de identidade nas sequencia de nucleotídeos, isto é, as "letrinhas do DNA", em todo o genoma
São o RshSTT182 e o RshSTT200
Apesar da distância geográfica com o SARS-CoV-2 identificado na China, a análise filogenética usando sequências de genoma completo mostra que RshSTT182 e RshSTT200 representam uma sublineagem de vírus relacionados com SARS-CoV-2 (em laranja)
Em várias regiões do genoma*, o RshSTT182 e o RshSTT200 estão geneticamente mais próximos do SARS-CoV-2 do que QUALQUER outro vírus intimamente relacionado descoberto até o momento
*incluindo a região que vai de nsp4 a nsp8 dentro de orf1a
Sabemos que os sarbecovírus podem realizar várias recombinações em sua história. Essa troca genética já tinha sido discutida em outros trabalhos, como trago nesse fio:
Os autores descobriram que o RshSTT182 e o RshSTT200 também são "vírus de mosaico", ou seja, que podem ter passado por eventos de recombinação, adquirindo elementos genéticos de outros coronavírus-parentes próximos na sublinhagem do SARS-CoV-2.
Curiosamente, ambas as regiões mostrando alta similaridade com SARS-CoV-2 (nsp4 a 8 dentro de orf1a e orf8) se sobrepõem com regiões identificadas como recombinantes. Isso nos dá uma pista imensa da história do SARS-CoV-2
Que? Como assim Mell?
Todos esses elementos sugerem uma co-circulação de ancestrais dessas sub-linhagens virais com uma área geográfica mais ampla, e espécies de morcegos mais distintas do que aquelas previamente identificadas.
Para uma análise de risco, com o intuito de entender a gama de hospedeiros (incluindo humanos) e a patogênese associada a esta sub-linhagem SARS-CoV-2, os autores realizaram modelagens de homologia
A análise sugere que o subdomínio externo da estrutura do domínio de ligação ao receptor de pico (RBD, que liga no receptor de nossas células para o vírus entrar) é altamente semelhante ao SARS-CoV-2!
Para termos uma ideia: 5 dos 6 resíduos de aminoácidos (estruturas que formam as proteínas) relatados como os principais determinantes da ligação eficiente do receptor do SARS-CoV-2 ao receptor ACE2 de humanos SÃO CONSERVADOS ou seja, é igualzinho ao do SARS-CoV-2
Porém, as partículas virais que tinham a Spike do RshSTT200 não conseguiram HEK293T que expressam o ACE2 humano. Isso sugere que, provavelmente, para permitir a infecção e a transmissão subsequente, houve adaptações nessa região para tal
Resumindo: temos MUITOS achados importantes/interessantes:
1⃣ Os vírus relacionados ao SARS-CoV-2 têm uma distribuição geográfica muito mais ampla do que se entendia anteriormente e provavelmente circulam por meio de várias espécies de Rhinolophus🦇
2⃣Os pangolins, bem como os membros da ordem Carnivora, especialmente as famílias Viverridae, Mustelidae e Felidae são suscetíveis à infecção por SARS-CoV-2, podem representar hospedeiros intermediários para transmissão a humanos e não devem ser ignorados na vigilância na região
É preciso ter uma amostragem maior de regiões em Mianmar🇲🇲, Laos🇱🇦, Tailândia🇹🇭, Camboja🇰🇭 e Vietnã🇻🇳, além das províncias de Yunnan e Guanxi da China🇨🇳, ligando a área de amostragem dos vírus mais próximos ao SARS-CoV-2 identificados até o momento
3⃣O sudeste da Ásia, que hospeda uma grande diversidade de vida selvagem e onde existe amplo comércio e contato humano com hospedeiros selvagens de coronavírus semelhantes ao SARS, pode representar uma área a ser considerada na busca contínua pelas origens do SARS-CoV-2
A região está passando por mudanças dramáticas no uso do solo, como desenv. de infraestrutura, desenvolvimento urbano e expansão agrícola, que podem aumentar o contato entre morcegos, outros animais selvagens e humanos.
A vigilância contínua e ampliada de morcegos e outros animais selvagens importantes no sudeste da Ásia é, portanto, um componente crucial para a preparação e prevenção de uma pandemia futura. Mas precisamos lembrar que existem muitos sítios fora de lá, que precisam ser cuidados
Em 50 anos, a vida selvagem monitorada na Terra reduziu em média em 73% e se tu acha que isso não tem a ver contigo ou com tua saúde, eu tenho outra notícia ruim...
Há MUITO o que ser feito nos próximos 5 anos para enfrentar as crises climática e de biodiversidade 🔻🧵
O relatório do World Wide Fund for Nature (WWF) se baseia no Índice Planeta Vivo (IPV), fornecido pela SZL (Sociedade Zoológica de Londres) e que inclui quase 35.000 tendências populacionais de 5.495 espécies monitoradas entre 1970-2020. wwflpr.awsassets.panda.org/downloads/rela…
Segundo os dados, o maior declínio foi visto nos ecossistemas de água doce (-85%), seguido pelos terrestres (-69%) e pelos marinhos (-56%). As quedas mais acentuadas aconteceram aqui na América Latina e no Caribe (95%), seguido pela África (-76%) e Ásia-Pacífico (-60%)
Estamos vendo há dias reportagens sobre as queimadas no Brasil, ou observando fenômenos como "sol vermelho" no sul, "céu cinza" na região metropolitana de SP...
Mas temos que falar dos riscos à saúde que a exposição à fumaça das queimadas traz - o fio 🔻
A exposição à fumaça das queimadas traz inúmeros riscos para a saúde humana e animal. Entre os sintomas dessa exposição, a Secretaria de Saúde do Ceará fez um post compilando alguns deles. Reparem que não são só sintomas respiratórios
Além dos efeitos diretos à saúde, a exposição a fumaça também pode indiretamente contribuir para agravo de doenças cardiovasculares e respiratórias (ex.: asma, bronquite, doença pulmonar obstrutiva crônica ou Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) amazonia.fiocruz.br/?p=47815
Mpox nunca deixou de circular, e até o momento, o vírus detectado no país não é o clado Ib, responsável pelo surto da Rep. Dem. do Congo e países vizinhos e outras regiões, como Suécia, Paquistão.
e por isso é tão importante estar atento aos sintomas e testar. Abaixo, algumas imagens de sinais de alerta e sintomas da doença. Ampliar a testagem e vigilância genômica para identificar clados em circulação é fundamental neste momento. Se tiver sintomas, procure assistência
Mpox é uma doença que pode se transmitir pelo contato sexual e vimos que redes de transmissão dentro desse aspecto tiveram uma participação importante em novos casos na emergência de 2022.
Mas o vírus também se transmite por contato próximo e prolongado
Atualizações sobre #Mpox e dúvidas que surgiram nesse post:
- Há casos no Brasil, mas segundo o @minsaude são causados pelo vírus do clado II (o que circulou na emergência de 2022). Ainda não há casos registrados do clado Ib no país
Mas... (mais no mini fio)🔻
Isso não significa que o vírus do clado Ib não esteja circulando no país, de forma subnotificada. Por isso é importante cuidar os sinais suspeitos: pessoa de qualquer idade que apresente, de modo repentino, lesões nas mucosas/pele, em qualquer parte do corpo
Se tu tiver qualquer um desses sinais suspeitos, ou os sintomas abaixo, procure atendimento médico para realizar exames específicos, e buscar um diagnóstico. Evite compartilhar talheres, objetos, e evite contato próximo, direto e prolongado se suspeito ou diagnosticado
O mundo enfrenta uma ameaça conhecida e negligenciada e que hoje, foi declarada como Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional: #mpox
Nesse fio, falo de sintomas, transmissão, vacinas e por que temos uma 2ª emergência declarada num período de 2 anos 🔻
Mpox é a doença causada por monkeypox virus (MPXV), que pertence ao mesmo gênero que a varíola humana. Ficou conhecido como varíola dos macacos/símia, mas o nome foi mudado para não gerar um entendimento errado que apenas macacos podem transmitir a doença
A transmissão desse vírus se dá pelo contato com animais infectados/reservatórios do vírus, como roedores, por exemplo. Há também a transmissão entre humanos, pelo contato direto, próximo e prolongado (e isso engloba partículas expelidas no ar)
Existe um vírus que se espalha fácil, traz risco tanto durante a infecção (e especialmente com comorbidades, ex: asma), quanto traz risco para sequelas em diferentes tecidos, por tempo indeterminado
O que vimos abaixo é a coroação da banalização da COVID-19.
Se tu achou absurdo um atleta competir nessas condições, te digo que a situação no mundo é muito complicada também.
Não estamos testando adequadamente, não estamos vacinando suficientemente (e não falo só o fato da vacinação não ser universal - o que é uma preocupação)
Não estamos encarando a COVID-19 como ela é: uma pandemia.
Se a situação acima causa revolta e preocupação com a situação do atleta, ela é um produto da banalização de uma doença séria, que segue entre nós e que fingir o contrário não fará ela sumir.