Um preprint apontou para uma nova linhagem do SARS-CoV-2, que circulou na Am. do Norte e Central, gerada por eventos de recombinação. Entender esses eventos é relevante para entender os caminhos evolutivos que o vírus pode trilhar.
Vamos por partes então! O que são eventos de recombinação, afinal? De uma forma simples e geral, a recombinação é a troca de material genético entre genomas (por exemplo, entre vírus). O GIF abaixo mostra quando a porção vermelha é trocada pela verde, por exemplo👇
É diferente do que falamos na maior parte do tempo, quando o vírus adquiria mutações pontuais ("trocas de letrinhas", deleção de uma partezinha de seu material genético). Na figura abaixo, traduzida por mim*, fica mais claro os eventos
Esses eventos de recombinação são propiciados especialmente durante uma co-infecção, ou seja, quando por exemplo um organismo se infecta com duas versões do SARS-CoV-2 diferentes.
A enzima que copia o material genético do vírus para o processo de formar mais vírus pode acabar combinando os materiais genéticos ali presentes (das duas versões desse mesmo vírus). Além disso, no caso de um vírus de RNA, esse processo pode ajudar a corrigir mutações deletérias
A recombinação ocorre em muitos vírus, incluindo influenza, HIV e outros coronavírus, e é uma forma sofisticada de evolução, em que o vírus pode passar a ser mais virulento ou infectar mais organismos, ou até mesmo novas espécies, dependendo.
Um estudo da @ScienceAdvances mostra que uma região da Spike foi introduzida pela recombinação com coronavírus de pangolins e isso possivelmente foi uma etapa crítica na evolução da capacidade do SARS-CoV-2 de infectar humanos science.org/doi/10.1126/sc…
Na MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), temos evidências sugerindo que recombinações a partir de co-infecção frequentes com linhagens distintas de MERS-CoV ocorrem provavelmente em camelos, trazendo uma fonte de possíveis infecções em humanos
Um trabalho publicado na @CellCellPress trouxe dados apontando para eventos de recombinação entre final de 2020 - início de 2021, em amostras do Reino Unido 🇬🇧. Esse vírus carregam alterações características da variante B.1.1.7 (#Alfa), mas tem um porém interessante 😶👇
Existem partes do genoma que não carregam o conjunto de alterações que são definidores da linhagem #Alfa. Porém, carregam alterações presentes em vírus não-B.1.1.7 que circulam na mesma área geográfica ao mesmo tempo que os recombinantes 🤯
Ainda nesse trabalho, em quatro casos, houve evidência de transmissão progressiva de um vírus de origem recombinante, incluindo um grupo de transmissão de 45 casos sequenciados ao longo de 2 meses sciencedirect.com/science/articl…!
A partir do trabalho desses cientistas, bem como de outros grupos, temos um conjunto de evidências apontando que a recombinação desempenhou um papel no surgimento e na evolução contínua do SARS-CoV-2. E agora, temos esse novo dado, que falarei a seguir 👇
Num preprint recente, analisando 4 linhagens do SARS-CoV-2 que circularam na Am.Norte/Central (.1.627, B.1.628, B.1.631 e B.1.634), viu-se que B.1.628 se originou de um evento de recombinação entre um vírus principal B.1.631 e um vírus de linhagem B.1.634
Ainda, temos dados demonstrando a distribuição espacial e temporal das três linhagens, que co-circularam nos EUA🇺🇸 e no México🇲🇽 durante 2021, sugerindo que foi nesta região que ocorreu o evento de recombinação
O @oatila fez um fio muito esclarecedor sobre esse evento em específico e porque é importante acompanhá-lo. Não temos indicativo de que resultou em uma variante mais transmissível que a Delta, ou que haja um escape vacinal importante.
Porém, o alerta que ele citou ali é relevante. A transmissão sustentadamente alta é o nosso maior desafio. Podemos ter um risco de ver esses eventos de recombinação, entre outras modificações no vírus, acontecendo.
Mas é importante destacar que, como mencionei ali no início do fio, a recombinação no SARS-CoV-2 não é algo inesperado. Nessa matéria do @vocativo o prof. Eduardo Flores explica:
Ainda, na mesma matéria, o prof. Flores traz o mesmo alerta quanto a transmisão, riscos de eventos de recombinação e caminhos evolutivos que podem ser tomados pelo vírus. Não temos indicativo de algo mais transmissível que a Delta, mas devemos correr o risco?
Felizmente, coinfecções parecem ser incomuns, então não temos um motivo de pânico nesse momento. Mas soma-se a miríade de alertas quanto a manter uma transmissão alta, especialmente com uma cobertura vacinal necessitando aumentar.
Nesse fio recente do @schrarstzhaupt devemos lembrar que estamos em um cabo de guerra com o vírus: de um lado, o vírus e seus mecanismos evolutivos. Do outro, as vacinas, e todas as medidas (como máscara, distanciamento..) que nos protegem do vírus
Nenhum de nós quer retroceder e viver novas restrições. Mas não devemos achar que a situação está propícia para grandes flexibilizações. Se não, poderemos estar pegando um caminho sabidamente complicado, como o do leste europeu, atualmente
Portanto, não há mistério: precisamos aumentar a cobertura vacinal:
📍estimular as pessoas a buscar a 1ª dose
📍estimular as pessoas a retornar para a 2ª dose
📍estimular as pessoas a voltar para a 3ª dose, se pertencentes ao público-alvo atual
E junto do aumento da cobertura vacinal, medidas que são SEMPRE bem-vindas e necessárias:
📍uso de máscaras, principalmente em ambientes fechados
📍distanciamento físico sempre que possível
📍ambientes abertos/ventilados sempre que possível
Vamos falar da B.1.1.529, uma variante descoberta pela primeira vez em Botsuana🇧🇼 e com seis casos de infecção confirmados na África do Sul🇿🇦, e que apresenta um número elevado de mutações. Devemos nos preocupar? O que sabemos sobre ela?
Bueno, 10 casos de infecção com essa variante foram confirmados em três países (Botsuana🇧🇼, África do Sul🇿🇦 e Hong Kong🇭🇰). A B.1.1.529 apresenta uma série de mutações, muitas delas localizadas na Spike, como mostra o tuíte de @PeacockFlu
A descrição dessa variante pode ser encontrada no link abaixo. Devido ao alto número de mutações na Spike, especialistas estão discutindo quanto a estabilidade dessa variante. Algumas dessas mutações não são comuns e algumas são extremamente raras
A partir de 06/12, um comprovante de vacinação será exigido na Itália para o acesso a restaurantes em locais fechados, cinemas e eventos esportivos. A 💉também ficará obrigatória para servidores da segurança pública, militares e funcionários de escolas
A Itália🇮🇹 com cerca de 73% da população completamente imunizada vê um avanço de casos, sem um acompanhamento de mesma proporção nos óbitos - impacto positivo das vacinas em reduzir o risco de doença grave
Outro ponto positivo nessa situação foi a manutenção de algumas das medidas não farmacológicas como a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados. Isso tudo evitou situações alarmantes como a vivida pelo leste europeu, a exemplo Áustria🇦🇹
Recomendação da Anvisa para o MS quanto a reforço:
Tomou Pfizer? Reforço Pfizer
Tomou AZ? Reforço AZ
Tomou Janssen? Reforço Janssen
Tomou coronavac? Reforço Pfizer
É recomendação ao MS, enquanto a agência avalia a necessidade do reforço. O MS tem autonomia para seguir ou não
Se tu tomou um reforço diferente, ou um regime heterologo: não tem problema, pessoal. É uma recomendação da Anvisa ao MS, o MS pode adotar outra proposta. A Anvisa recomenda dessa forma por ainda estar analisando dados de reforço enviados pelas farmacêuticas.
Temos um conjunto de dados, além de aprovações no exterior para regimes heterologos e combinações. Vamos aguardar as novas manifestações do MS e as futuras análises que a Anvisa irá divulgar. Vacinem-se, o reforço é muito importante!
Reunião da @anvisa_oficial sobre reforço:
📍Inclusão da dose de reforço na bula da @pfizer para maiores de 18 anos com 6 meses (pelo menos) da 2ª dose
📍Para as outras 💉: a agência segue analisando a necessidade, mas se o MS quiser dar seguimento, que seja com a mesma 💉recebida
Ou seja, a agência recomenda que, se o MS quiser aplicar reforço independente da 💉 recebida pela pessoa, que prefira aplicar um regime homólogo
- Se recebeu Janssen --> Janssen
- Se recebeu AZ --> AZ
Isso é uma *recomendação* da @anvisa_oficial ao MS, importante lembrar
- Para vacinas de vírus inativado --> preferencialmente a adoção do regime heterólogo, com a vacina de RNA para reforço (1h40min47s)
@anvisa_oficial aprova inclusão da dose de reforço na bula da vacina da @pfizer para maiores de 18 anos após pelo menos 6 meses do recebimento da dose 2
Importante destacar que a @anvisa_oficial não está aprovando, neste momento, o reforço para Janssen ou AstraZeneca aqui, pois esses processos ainda estão sendo avaliados pela agência (1h40min34s do vídeo acima)
Até mesmo em ambientes abertos, um distanciamento físico de 2m pode trazer riscos para 2 pessoas sem 😷, se uma delas, com COVID-19, começa a tossir.
Uso de 😷, boa ventilação do ambiente e a 💉são estratégias que SOMADAS ao distanciamento, protegem muito MUITO!
Mini-fio 🧶👇
Pesquisadores de Cambridge🇬🇧 avaliaram as distribuições estatísticas da posição e do tamanho das gotas que evaporam após uma tosse, a partir de simulações. Verificou-se que há grandes variações na distribuição espacial das gotas, mesmo considerando um distanciamento
O principal resultado: A distribuição das gotas sugere que, na ausência de coberturas faciais, uma tosse desprotegida não é segura a 2 metros de distância do emissor, mesmo ao ar livre.