Lembram-se, por exemplo, que a CNPD tinha apanhado um caso em que o data center tinha os controlos de acesso desligados e ficava na única passagem para o vestiários dos agentes?
Felizmente a lei foi mudada, e isso já não vai voltar a acontecer! 🎉
Porque introduziram medidas para que isso não aconteça, certo?
Errado.
O que fizeram foi impedir a CNPD de se pronunciar sobre este tipo de coisas. Sim, alguém se deu ao trabalho de retirar da lei a expressão “controlos de entrada nas instalações”! 🙄
Ou seja, até pode continuar a acontecer, mas ninguém vai saber. E se ninguém sabe, no fundo é como se não acontecesse, não é?
Saíram tb: medidas especiais de segurança “dos suportes de dados, da inserção, da utilização, de acesso, da transmissão, da introdução e do transporte”.
Mas nada transmite melhor a mensagem “estamo-nos a marimbar pra CNPD” quanto o parecer da CNPD agora servir pra… nada.
Quando havia problemas, a CNPD podia condicionar o seu parecer positivo ao cumprimento de recomendações.
Agora, ter parecer positivo ou negativo vai dar ao mm
E se dantes a CNPD intervinha nos pedidos de autorização de utilização de câmaras fixas ou portáteis, agora o parecer é apenas no caso das câmaras fixas.
Não fossem eles dizer alguma coisa sobre a utilização de drones…
Como a imagem acima tb demonstra, há uma excepção que permitia a utilização de câmaras portáteis sem autorização prévia, desde que CNPD desse depois parecer positivo. Agora… já não é preciso.
(É pelo bem da CNPD. São pessoas mt ocupadas, não os podemos chatear com estas coisas)
Um conceito inovador: Imaginem um regime super liberal de escutas telefónicas, sem necessidade de autorização ou mandado judicial, desde que não se grave as conversas… a não ser que se apanhe alguma coisa, aí já se pode gravar. É isto, só que para câmaras de vídeo.
Devem também lembrar-se que a CNPD apanhou uns milhares de videos e imagens que não deviam existir.
Podemos também anunciar que isso não vai voltar a acontecer!
Porque tomaram as medidas adequa…
(Ok, repetir piadas não resulta, é óbvio que já adivinharam: vem aí algo parvo)
A nova lei passou a limitar a acção de fiscalização da CNPD (art. 24º). Agora, só há fiscalização de “dados recolhidos em circunstâncias concretas” em caso de denúncia ou suspeita fundada da sua recolha ilegítima.
É que espiar a população sem legítima suspeita é uma coisa, agora ter fiscalização a intervir sem “fundada suspeita” de irregularidades na utilização dos sistemas é que nem pensar!
Ok, mas e se tiverem sido tirados por acidente? Quem nunca tirou uns milhares de fotos e vídeos sem querer?
Olhar horas a fio para um ecrã é aborrecido, e às vezes passam-se coisas interessantes na rua. Um decote ou saia mais atrevidos, o dedo escapa para o PrintScreen… 👀
Não se preocupem, nada disso acontece! A AR tomou medid...
(brincadeira, tomou porra nenhuma).
Em vez disso, limitou a acção da CNPD. Dantes o parecer abrangia a parte relativa à destruição imediata de imagens e sons acidentalmente obtidos. Agora… não.
No mínimo estranho... 🤔
E como estamos em termos de transparência?
Transparência aqui só se for na lente das câmaras. Existirá uma plataforma (não a tempo a entrada em vigor da lei, vai uma aposta?) que conseguirá ter ainda menos informação que a que é disponibilizada actualmente 👏👏👏.
Guardámos a melhor para o fim.
Caso prático: O que fariam, enquanto legisladores, perante denúncias de que os sistemas de videovigilância do espaço público são um desastre um termos de segurança dos dados e de segurança informática em geral?
…
Resposta errada!
A 🏦AR ajuda: o que se faz nesse caso é integrar esses sistemas inseguros com os “sistemas de videovigilância de qq entidade pública ou privada instalados em locais públicos ou de acesso público” 🤨
Pra polícia ter acesso…
(wait for it)
remoto😬
(wait for it)
em tempo real😱
E pronto, foi esta a reacção do legislador às graves denúncias que a CNPD apresentou à Assembleia da República.
Como podem ver, os problemas foram resolvidos. Da próxima vez já não vai haver ninguém a apresentar denúncias destas 🤐. Quem se mete com a agenda securitária, leva…
A proposta de lei foi aprovada na semana passada em plenário, numa votação rápida (2 min) e discreta, sem debate.
(não cobrimos todas as mudanças, houve +. E sim, houve várias melhorias em relação à proposta inicial - mas tb essa era tão má que qq mudança só podia ser positiva).
Parabéns a todos os envolvidos!
E ainda há quem não core de vergonha pelos diplomas que leva e/ou aprova no Parlamento.
E ainda há quem, fazendo extensa cobertura jornalística sobre o tema, não core de vergonha pela cumplicidade no branqueamento dos factos junto do público.
Por fim, o nosso muito obrigado a quem votou contra!
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Thread com os piores exemplo do funcionamento da videovigilância em Portugal.
(por "funcionamento" entenda-se "bandalheira")
⚠️ Disclaimers: ⚠️ 1. Não recomendado a pessoas sensíveis a direitos, liberdades e garantias.
2. Estes são exemplos reais, dados pela própria CNPD. Nem todos os sistemas sofrem de todos estes problemas, esta é uma distinta selecção de tesourinhos.
3. É thread sobre problemas de segurança de sistemas de videovigilância usados pelas autoridades policiais, logo é mt longa.
Pedimos desde já desculpa por isso... mas culpa não é nossa. Nem nos vamos dar ao trabalho de numerar os posts, que queremos ver se acabamos a thread ainda hoje.
Allô, profissionais do sector da cultura? Talvez queiram prestar atenção a esta thread.
Idem para quem comprou (ou quer comprar) a Playstation 5. Pronto, Xbox tb.
Façam scroll down, que temos memes 😎 1/n
As ligações entre a cultura e a política, em Portugal, são muito, ermm, ergh... características. A Lei da Cópia Privada é dos temas que + o revela. Supostamente esta taxa visa compensar cópias q fazemos para uso exclusivamente privado, a partir dos nossos próprios originais.
2/n
Sim, apesar de hj em dia os + novos já nem saberem o que são essas coisas, continuamos a pagar para poder passar músicas do CD original pro leitor de MP3, e o pior é que a factura continua a crescer de forma alucinante (45%).
3/n
Rádio Comercial, final da manhã: Locutora promove instalação da StayAway Covid, dizendo que ela própria já instalou e que agora está segura, não há ninguém infectado à sua volta.
Já nem é uma questão de sabermos que a app é completamente irrelevante e não ajudará aos esforços contra a Covid, neste momento a questão é já a de a app arriscar-se a ter um efeito negativo.
Manter sempre presente que:
2/3
1. A app NÃO vos mantém seguros. 2. A app NÃO vos avisa sobre pessoas infectadas à vossa volta. 3. Esqueçam o que ouvem sobre a app e continuem a seguir todas as normas de higienização e distância física. Os comunicadores que recomendam a app não percebem patavina do assunto.
3/3
Os jornalistas que têm acompanhado este tema têm aqui uma bela fonte para análise crítica. A Comissão Europeia em Portugal @CE_PTrep está no Twitter e Instagram a a dizer que... 1/10 instagram.com/p/BqwpjqLH2cI/…
Os memes não vão acabar. Contradizem portanto mais de 200 académicos de 25 centros de pesquisa que disseram que os memes NÃO estão salvaguardados.2/10 create.ac.uk/wp-content/upl…
E sim, os memes cabem dentro de uma excepção... em alguns países. A legislação europeia é uma manta de retalhos porque as excepções que beneficiam os utilizadores são opcionais, enquanto que tudo o que os utilizadores têm de cumprir é obrigatório. 3/10