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Dec 1, 2021 29 tweets 16 min read Read on X
Hoje é o dia mundial de combate à #AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), causada pelo vírus HIV, inicialmente detectada nos anos 80. Tivemos muitos avanços científicos de lá para cá, mas ainda temos imensos desafios, tanto na saúde, quanto na sociedade 👇🧶
A AIDS afeta milhares de pessoas no mundo. De acordo com a @WHO , apenas em 2017, 940 mil pessoas morreram de causas relacionadas ao HIV e 1,8 milhão foram infectadas pelo vírus. Isso equivale a 5 mil novos casos todos os dias. msf.org.br/o-que-fazemos/…
Segundo o @MSF , atualmente, 36,9 milhões de pessoas vivem com a doença no mundo. Destas, 1,8 milhão são crianças com menos de 15 anos de idade. Dois terços do total de pessoas infectadas pelo HIV vivem em países da África.
Logo após sua detecção, ainda nos anos 80, a expectativa de vida era muito limitada no início, mas começou a aumentar conforme a ciência avançava. Hoje, temos terapias que podem ajudar no manejo da doença, mas ainda buscamos alternativas melhores
O HIV é um retrovírus (subfamília dos Lentiviridae). Esses vírus compartilham algumas propriedades comuns: período de incubação longo antes do surgimento dos sintomas, infecção das células do sangue e do sistema nervoso e supressão do sistema imune. aids.gov.br/pt-br/publico-…
Existem 2 subtipos importantes: o HIV-1 e o HIV-2.

O HIV-2 é menos transmissível e menos virulento do que o HIV-1. As bases moleculares para essas diferenças fatídicas ainda são precisam ser melhor compreendidas scientificamerican.com/article/the-or…
O HIV-1 é o que aflige dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo, o que infelizmente vivemos uma pandemia. Para entender como a catástrofe da AIDS aconteceu à humanidade, os cientistas rastrearam o HIV-1 até sua origem. Esse livro reúne muito disso:

wwnorton.com/books/The-Chim…
A origem nos remete a Franceville, no sudeste do Gabão🇬🇦, na África Central, e a uma instituição chamada Centre International de Recherches Médicales (CIRMF). Chimpanzés em cativeiro foram testados para HIV-1 e -2. O soro sanguíneo de 2 deles reagiu fortemente para o HIV-1
Mas era necessário encontrar o material genético do vírus para uma maior confirmação. Isso veio um tempo depois, por um trabalho que conseguiu isolar um vírus do bebê chimpanzé. nature.com/articles/17130
A partir daí, mais estudos foram feitos, e os pesquisadores investigaram não apenas a origem do HIV, mas também sua diversidade em humanos, descobrindo três linhagens principais de HIV-1, chamadas de “grupos” retrovirology.biomedcentral.com/articles/10.11…
Cada grupo era um aglomerado de cepas geneticamente distintas dos outros aglomerados (e também dentro de cada grupo!) uma vez que o HIV está sempre evoluindo. Mas, naturalmente, as diferenças entre os grupos eram muito maiores. thelancet.com/journals/lanin…
Segundo Quammen "O Grupo M foi o mais difundido e nefasto. A letra M significava “principal”, porque esse grupo era responsável pela maioria das infecções por HIV em todo o mundo. Sem HIV-1 grupo M, não houve pandemia global, não houve milhões de mortes" scientificamerican.com/article/the-or…
Essa caracterização em grupos também abrange o HIV-2, menos virulento que o HIV-1. Lá pelo ano 2000, 7 grupos de HIV-2 eram conhecidos: A, B, C, D, E, F e G. (Um oitavo grupo, aparecendo mais tarde, tornou-se H.). A maioria deles era extremamente rara
sciencedirect.com/topics/agricul…
Uma das coisas mais arrepiantes que li no livro "O Contágio" de Quammen foi um achado de cientistas que cada um desses doze grupos (oito de HIV- 2, quatro de HIV-1) reflete uma instância independente de transmissão entre espécies. Doze transbordamentos. Doze spillovers
Em outras palavras, Quammen comenta: "o HIV não aconteceu à humanidade apenas uma vez. Aconteceu pelo menos uma dúzia de vezes - uma dúzia que conhecemos, e provavelmente muitas mais vezes na história anterior"
Houve relatos, ao longo da história, de pacientes que se recuperaram da infecção. Apesar de termos alguns resultados interessantes com relação a isso, ainda precisa-se entender quais mecanismos estiveram envolvidos nesses casos específicos sp.unifesp.br/epe/noticias/o…
O @canaltech fez uma matéria compilando alguns avanços importantes na área de pesquisa sobre o HIV/AIDS:

1⃣Vacina em testes no Brasil
2⃣Imunizante utilizando a tecnologia do RNA mensageiro

Havia comentado nesse fio:
3⃣ O sistema CRISPR contra o HIV
4⃣ Dovato (Aprovado pela @anvisa_oficial )

Mais em: agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/…
Para a agência, a aprovação representa um avanço no tratamento, já que reúne em uma dose diária dois antirretrovirais. “A possibilidade de doses únicas simplifica o tratamento e a adesão de pacientes”, informou, por meio de nota agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/…
"Será indicado como um regime complemento para o tratamento da infecção pelo HIV-1 em adultos e adolescentes >12 anos de pelo menos 40kg, sem histórico de tratamento antirretroviral prévio ou em substituição ao regime antirretroviral atual em pessoas com supressão virológica."
5⃣ Medicamento injetável

Mais em: bbc.com/news/health-59…
6⃣PrEP e PeP
Infelizmente, pessoas convivendo com o HIV sofrem preconceito na sociedade. Esse estigma e discriminação prejudicam os esforços no enfrentamento a epidemia do HIV. Por isso, temos dias como hoje, para simbolizar uma luta de todos os dias.

unaids.org.br/estigma-e-disc…
O querido @rafalpx me mandou agorinha um paper do @nmrfaria e colaboradores, que é fantástico, que contribui muito no entendimento da origem e espalhamento do HIV-1 em populações humanas
ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/P…

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Jul 16
É uma questão de tempo até um surto maior ocorrer.

O @CDCgov confirmou, essa semana, 4 casos humanos de gripe aviária (H5N1) no Colorado🇺🇸, com a possibilidade de um 5º caso que ainda será confirmado, após exposição a aves infectadas em granja 🔻
Segundo o @CDCgov "todos os trabalhadores que testaram positivo relataram doença leve. Os trabalhadores relataram conjuntivite e lacrimejamento, além de sintomas mais típicos da gripe, como febre, calafrios, tosse e dor de garganta/coriza"

Porém, H5N1 é um vírus perigoso...
Primeiro, a partir dos dados que temos dos últimos anos, sua letalidade é alta.

Segundo, o H5N1 é capaz de infectar o encéfalo🧠 e parece fazer isso com mais frequência que outros influenza

Read 9 tweets
Jul 11
Gripe aviária: novos dados apontam que o vírus H5N1 responsável pelo surto em bovinos nos EUA apresenta adaptações capazes de facilitar a infecção e transmissão em mamíferos.

Já passou da hora de reconhecermos o crescente risco pra saúde pública dessa doença - fio🔻Image
RESUMO DOS ACHADOS:
1⃣a cepa de H5N1 que infectou bovinos (🐄-H5N1) pode induzir doença grave após ingestão oral ou infecção respiratória;
2⃣em ambos os casos, pode levar à disseminação sistêmica do vírus para diferentes tecidos do corpo
3⃣🐄-H5N1 pode ser transmitido de roedoras lactantes para seus filhotes, mas não para animais adultos com os quais tenham contato direto
4⃣uma possível explicação: em furões, o ➡️🐄-H5N1 não foi capaz de se transmitir de forma eficiente pela via respiratória (gotículas)
Read 20 tweets
Jul 6
Em 2024, o Brasil viu uma epidemia de dengue sem precedentes na sua história. As regiões das Américas concentraram a maioria dos casos, com destaque para o Brasil, com mais de 80% dos casos registrados

O que nos levou a isso? Fio do dia 🔻Image
O dado acima foi compartilhado pelo @ECDC_EU reforçando a grande ameaça à saúde pública que as arboviroses (vírus transmitidos por insetos) trazem, com riscos para grandes epidemias, impactos socioeconômicos e sobre o sistema de saúde

ecdc.europa.eu/en/dengue-mont…
Até abril de 2024, a @WHO registrou mais de 7,6 milhões de casos suspeitos de dengue em todo o mundo, com mais de 3 mil óbitos. Aumento ocorreu especialmente na região das américas (90% dos casos notificados), com destaque para o Brasil (+80% dos casos)
Read 18 tweets
Jun 25
Vacinas trazem risco pra Alzheimer?

Alegações tem sido feitas por conta de um artigo recente, mas além de o artigo não comprovar a existência do risco, ele também tem tantos fatores de confusão que me surpreende ter sido publicado

Então respira, e vem de fio 🔻 Image
O artigo utilizou dados de mais de 558 mil indivíduos de Seul 🇰🇷, divididos em dois grupos: vacinados e não vacinados

A ideia era analisar se há associação com o comprometimento cognitivo leve, que pode ser visto anterior ao desenvolvimento de demências, como Alzheimer
Os pesquisadores então analisaram os registros entre 2020 e 2021. Importante notar: as campanhas de vacinação em Seul começaram em 2021.

Isso faz com que o número de pessoas com 2 doses seja pequeno, comparado ao tamanho inicial da amostra


Read 14 tweets
Jun 18
Li e tenho algumas questões importantes:
- Mesmo pessoas fora de grupos prioritários e até mesmo que tiveram Covid-19 leve, podem desenvolver sequelas pós-Covid;
- Sequelas pós-Covid podem ser duradouras, reduzirem a qualidade de vida e trazer riscos à saúde;

Tem mais🔻
Nessa parte de um fio recente, trago alguns dados recentes quanto as informações sobre sequelas pós-Covid. Não só há um risco de morte permanecendo elevado, como há uma perda significativa da saúde como um todo.
Portanto, me preocupa não termos ainda uma construção de políticas públicas para a Covid longa. Sabendo dos seus riscos, da prevalência estimada em outros países, poderíamos já estar ao menos com políticas instituídas para reduzir riscos de contaminação com vírus respiratórios
Read 9 tweets
Jun 6
Se tu passar por manchetes sugerindo que a vacinação contra Covid-19 ajudou a aumentar o excesso de óbitos, saiba que não é o que o estudo original sugere: o excesso de mortes “permanece elevado” APESAR do uso de vacinas (e outras medidas). Sem essas medidas, seria ainda maior🔻
O artigo original está no link abaixo e conclui: "o excesso de mortalidade permaneceu elevado no mundo ocidental durante três anos consecutivos, apesar da implementação de medidas de contenção e das vacinas contra a COVID-19."

bmjpublichealth.bmj.com/content/2/1/e0…
O artigo tem limitações importantes e deixa de lado a quantidade de mortes que foram evitadas graças a vacinação. Ainda, a circulação persistentemente alta do vírus, pelo enfraquecimento das medidas mitigatórias, pode estar por trás desse excesso.
Read 12 tweets

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