Zero surpresa para mim o que está sendo o (des)governo Bolsonaro, e longe de mim, bem longe, me julgar algum gênio por isso. Mas ainda que me choque, não me surpreendo com certa surpresa bem ampla. O Brasil é um país que possui certas bolhas de cognição surpreendentes (1/7).
Eu lembro bem da década de 2000, e da oposição a Lula. Eu ficava chocado com a qualidade e a natureza da oposição a Lula. Ainda que fosse adotar um viés de direita, aquilo estava errado e era perigoso. Era mesmo, deu nisso (2/7).
Existe uma falta de solo comum no Brasil, seja por causa da escravidão e da colonização, mas também pela forma como ocorreu a imigração do século 19 e 20 para o Brasil, vinda da periferia da Europa, Oriente Médio e Extremo Oriente (3/7).
É uma questão de classe, terrivelmente racializada, como parcelas da população brasileira vão aderir a uma espécie de projeto de extrema direita subalterno e, ao mesmo tempo, bastante autoritário porque não podem conviver com os princípios básicos para um Brasil moderno (4/7).
O que são esses princípios básicos? Ele passa pelo fato de que o Brasil tem de se afirmar em sua pluralidade, o que envolve, obviamente, em abraçar nossa multiplicidade étnica, padrões sexuais para além do heteronormativo várias outras questões (5/7).
Eu sou pessimista em relação a isso. O governo Lula adotou uma forma de reformismo gradual, e muito lento, que obteve certo êxito, mas foi derrubado mesmo assim - sem incomodar objetivamente ninguém, quase pedindo licença para diminuir a desigualdade (6/7).
Isso sugere o grau de radicalismo do lado de lá. Seja da ultraelite ancestral ou das camadas médias tradicionais, não-negras, não-índias, e ao mesmo tempo fugitivas da fome e da guerra no passado (7/7).
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Ano que vem, teremos uma batalha importante no Brasil. Lula é central nisso. São tempos de desordem internacional, deflagrada por uma crise financeira em 2008 no centro do sistema e uma pandemia em 2020, onde a potência central, os EUA, lutam a todo custo para se manter (1/7).
A ordem mundial, primeiro como a ordem da banda capitalista, depois de todo o mundo, viu seu equilíbrio desequilibrado ir para o espaço (abração procê, Varou). E aí, virou esse salve-se quem puder, que nos atravessou em um bom momento, aqui e no continente (2/7).
Tem amigos que investigam bem a natureza do sistema, seus dispositivos, mas insistem em não olhar para essa velharia chamada geopolítica. E, assim, ignoram a ação de frações burocráticas e políticas nacionais em uma terra que não, não é plana (3/7).
Holliday sendo normalizado pela enésima vez, mas desta vez em companhia coerente. Existe um liberalismo que pode se apresentar como esquerda, mas é, antes de tudo, liberalismo. Não adianta: a diferença entre o MBL e a esquerda liberal é menor do que muita gente gostaria (1/5)
Seja um liberalismo que se apresenta "ao centro" (como Tabata) ou "à esquerda" (como Isa Penna) - embora a segunda está em franca campanha de rebranding, talvez para se unir de alguma forma à segunda (2/5).
Enquanto isso, Holliday é um cara que estava sendo violento com professores e servidores em São Paulo agora há pouco, ou hostilizando fisicamente um vereador idoso do partido de Isa como o respeitável Toninho Vespoli (3/5).
Pibinho do Brasil no 3º trimestre sugere que a parasitagem, pilhagem e incertezas produziram resultados gerais muito ruins. Para as pessoas normais, isso já vinha acontecendo faz tempo, mas agora isso chega mais em cima. Não se enganem: no topo, continuam ganhando (1/5).
O ponto é que neste momento estamos como na crise pandêmica do 1º trimestre: chegou algum problema em cima. Pelo menos para a elitona ter de gerir. E a coisa chegou no campo, com o bloqueio da carne brasileira pela China (2/5).
Isso explica o movimento por Moro: a ilusão de fazer um Bolsonarismo sem Bolsonaro, substituindo o "carisma" pela "frieza técnica", mas mantendo o arranjo geral. O problema é o arranjo, que ainda é capaz de se segurar, mas não produzir crescimento (3/5).
A aprovação de André Mendonça era previsível; uma vez que ele foi à sabatina no Senado, estava tudo certo e amarrado. Se não estivesse, ele nem iria. O que isso significa (1/7)?
Primeiramente, que Mendonça é um quadro da Igreja Presbiteriana. Enquanto Bolsonaro acena para as massas neopentecostais e seus pastores, mas ele Mendonça pertence a uma instituição tradicional com um baita aparato, inclusive universidades (2/7).
Mendonça se indispôs com os ministros do STF, quando tinha de agir como advogado pessoal de Bolsonaro no Ministério da Justiça e na AGU. Isso o obrigou a costurar. A classe política queria Aras e Aras queria a vaga (3/7).
Seguindo a dica da @UrbanNathalia, vi a matéria do @elmostrador sobre Kast e seus vínculos gringos. Uma bomba, mas só reforça o óbvio: a enésima comprovação da relação de atores públicos e privados dos EUA com a extrema-direita latino-americana (1/7). elmostrador.cl/noticias/pais/…
De Kast a Moro, passando por Bolsonaro, Macri, Lenin Moreno, a direita venezuelana, colombiana e os golpistas da Bolívia, sempre um lobby ou alguma agência americana aparece. E não é clichê, ou melhor, a nossa realidade é clichê (2/7).
Uma mega corporação de saúde, com mil negócios no Chile, operando para eleger um fascistão e, assim, salvar seus negócios espúrios de ameaças socializantes -- também conhecida como salvar a vida das pessoas (3/7).
Xiomara Castro de Zelaya, ex-primeira dama hondurenha ganha a eleição em seu país. Isso não é trivial. Xiomara viu seu marido sofrer o golpe de Estado que serviu de balão de ensaio para Paraguai e, ainda, Brasil anos atrás, sua vitória é plena de significado (1/7).
Honduras antecipou o golpe limpinho e cheiroso do qual fomos vítimas, com judiciário e legislativo dando aura de legalidade a processos de exceção - com militares "garantindo" ao fundo. Foi assim com Manuel Zelaya, marido de Xiomara (2/7).
Não à toa a direita tentou melar a apuração hoje, mas pelo jeito não vai funcionar. Depois da Nicarágua, é a segunda grande derrota de aliados americanos na América Central, com discurso de defesa do Multilateralismo e da cooperação Sul-Sul (3/7).