Nova thread de notícias sobre garimpo ilegal em terras indígenas. O que saiu de importante entre 28/11 e 05/12? O que ficou de fora?
Esse assunto é fundamental para 2022. Mas nem os presidenciáveis e nem nós mesmos estamos prontos pra essa conversa.
Bora?Segue o🧶
Começo com dados importantes (e muito dolorosos) sobre as terras dos Munduruku. Dados do @GreenpeaceBR apresentados por @distopi em 01/12 mostram que em 5 anos o garimpo destruiu mais de 600km de rios na TI Munduruku.
(Comentário nos próximos tweets) noticias.uol.com.br/meio-ambiente/…
Os dados do Greenpeace merecem ainda comentário mais aprofundado. Vejam o que o gráfico abaixo indica sobre 2018. Uma análise crítica do que acontece agora na região precisa levar esse ano em consideração por vários motivos. 2 estudos não foram mencionados na matéria (prox tweet)
Um é o laudo da PF (2018) que mostra como o garimpo ilegal despejava 7 milhões de toneladas de sedimentos por ano em parte da bacia do Tapajós.
Outro é "O cerco do ouro", que ajuda a entender o contexto do principal rio afetado or garimpo ali, o avanço e suas consequências.
O laudo citado no tweet anterior também é citado em artigo (do mesmo autor), republicado no @o_eco. Dá uma introdução mais completa aos principais problemas do garimpo ilegal, e pontos fundamentais que são deixados de lado em ações de combate. Recomendo. oeco.org.br/colunas/minera…
O @hyurypotter publicou dia 04/12 um vídeo com imagens chocantes (feitas em operação do Ibama) do avanço do garimpo ilegal na TI Sai Cinza, também dos Munduruku.
Por um lado sabemos que sob Bolsonaro e sob alta do preço do ouro, o garimpo ilegal nas TIs explode. Mas o que dá as condições para isso, em cada região? E quanto disso tem a ver com os entraves administrativos do Estado? Sem olhar pra isso, como encarar o debate em 2022?
Um dos pontos que ajuda a discutir a 2ª pergunta é o total descontrole da cadeia do ouro. Essa condição é prato cheio para o crime organizado. Parte fundamental desse problema é exposta nesta matéria da @reporterb, de 30/11, que tá muito boa.
Mas ainda é difícil, em geral, pra gente se apropriar do debate. Parece, ainda, assunto de especialistas - ou seja, temos um problema. Por isso,esta matéria da @LModelli, de 01/12, é importante. Traz pontos básicos pra quem precisa começar a entender disso g1.globo.com/meio-ambiente/…
Como problema pouco é bobagem, quando se trata de garimpo no Brasil, vimos outro aspecto dessa 'corrida do ouro' em uma matéria do @InfoAmazoniaBR, de 01/12: a atuação das cooperativas. Comentam a fragilidade dos processos de permissões de lavra, inclusive infoamazonia.org/2021/12/01/coo…
Já que estamos falando de cooperativas, vale muito conferir essa entrevista que saiu em 30/11 na @amazonia_real. E aí está outra face do problema, como tantos de nós têm repetido: garimpo hoje é sinônimo de investimentos (i.e, interesses) de peso. amazoniareal.com.br/coogam-rio-mad…
A absurda fragilidade dos processo que permitem a exploração mineral não-industrial no país ficou evidente no caso do traficante com 800 hectares pra garimpar na Amazônia. Saiu dia 30/11 uma nova notícia sobre esse caso.
É importante que a gente não perca de vista que o problema tá longe de se reduzir a checar ficha criminal de quem quer garimpar. Precisamos, antes, nos perguntar: por que existe narcogarimpo? Como funciona? Quem sofre com isso?
A limitação do comentário de Moro é até caricata
Não, Moro: nada é óbvio e fácil quando se trata de garimpo em terras indígenas. Perguntem a quem encara esse problema há décadas, como os Yanomami. Este artigo, de 04/12, fala das ofensivas garimpeiras nas terras deles, no final dos anos 1980 e agora www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2…
E não é só Moro, entre os presidenciáveis, que ainda não está pautando o assunto do garimpo ilegal como precisa ser feito. Isso me preocupa muito. Quão preparado Lula está, por exemplo, pra encarar o lobby do garimpo? Exemplo do que é preciso encarar: brasil.elpais.com/brasil/2021-11…
E hoje ainda saiu esta bomba aqui. General Heleno autorizando investida garimpeira pesada numa reunião onde há mais e 20 povos indígenas. Difícil. www1.folha.uol.com.br/ambiente/2021/…
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Viram a matéria do @showdavida sobre a situação crítica da saúde Yanomami em meio à invasão de 20 mil garimpeiros? (Link a seguir)
Alguns pontos pra lembrar e não cair no discurso bolsonarista de que a atividade favorece indígenas, e de que o garimpo é dos garimpeiros 🧶:
1) a matéria fala brevemente, mas prestemos atenção: garimpo é "empreendimento"! Precisa de muita grana pra arcar com maquinário, insumos e logística. Quem sustenta e manda naquilo são empresários. Contratam táxi aéreo a 200mil por semana, p ex - como @amazonia_real já mostrou.
2) a matéria menciona por alto o cerco dos garimpeiros contra indígenas, a violência decorrente disso e a insegurança absurda. Não fala (não era o foco) que tem facção criminosa lá. Lavando dinheiro. Usando a logística pro tráfico. Atacando indígenas. A quem serve o garimpo?
Já que a @secomvc resolveu apelar para a retórica do "não te contaram, mas nós te contamos", vamos começar a desmenti-la falando do que ela não está contando sobre a atuação do governo em relação aos Yanomami?
Seguem alguns fatos 🧶:
1) Isolados foram mortos por garimpeiros na TI Yanomami; crianças morreram em decorrência da presença do garimpo ilegal; indígena foi atropelado por avião de garimpo;garimpeiros atacaram durante meses comunidades Yanomami. Links a seguir.
Esse é o 1º tweet de uma thread cheia de imprecisões, distorções, mentiras e omissões da Secom. Não é trivial o esforço de promover desinformação justamente a respeito desse povo. E é sério. Precisamos de especialistas em checagem pra desmentir. Fico à disposição pra colaborar.
Lembrando que não faltam trabalhos sérios e consistente a respeito da situação dos Yanomami. O @socioambiental publicou 2 estudos, em 2020 e 2021; a @ApibOficial acompanha a ADPF no STF; a @amazonia_real faz cobertura impecável e a @agenciapublica divulgou excelentes reportagens.
Isso tudo - evidentemente - sem falar no trabalho incansável das lideranças e suas organizações. A Hutukara tem divulgado notas e falado publicamente, como mostra @Dario_Kopenawa ; e @JYanomami, do Condisi, tem mostrado muito bem os impactos do garimpo, junto com @MYekwana.
Facções de narcotraficantes de São Paulo e Santa Catarina, altamente armadas, lavando dinheiro com ouro de garimpo ilegal em terra indígena. Atacando os Yanomami e aterrorizando os Munduruku. Brasil, 2021. oglobo.globo.com/brasil/seguran…
"Armados com pistolas, escopetas e fuzis, eles começaram a ganhar dinheiro fazendo a segurança dos garimpeiros contra indígenas e piratas, até que uma de suas lideranças.. decidiu tomar o controle de um campo de extração de ouro na região do Rio Uraricoera, no início deste ano"
"Hoje vocês vão ver quem manda no bagulho. Nóis é a guerra, neguinho" - os caras disseram para os Yanomami no rio Uraricoera, em maio. Os indígenas ficaram MESES sob ataque.
A gente passa batido por tanta coisa ao supor que nossas maneiras de pensar se estendem pra todo mundo... Quando a pausa pra questionar 'o que será que isso quer dizer' pode abrir um mundo.
Textos indígenas fazem o convite a essa pausa a todo momento. Por exemplo:
as cartas dos Munduruku falam sempre que estar na terra é condição para a sobrevivência do povo: dependem dela. Uma leitura apressada poderia supor que só estão falando de adquirir alimento e garantir subsistência. Mas isso diz mais sobre quem tá lendo (e ver essa imagem +
refletida pode nos fazer entender coisas importantes sobre nós mesmos). Se prestarmos atenção ao que eles dizem quando afirmam essa "dependência", vemos que há muito mais nessa ideia: a origem mítica do território (e do povo), que estabelece a relação entre habitar e lutar pela