Tipo, tudo que a gente avançou em direitos humanos, à custa de muita luta, de muito sangue, de muito suor e lágrimas, esbarra sempre nesse sentido: é mais barato escravizar os sujeitos.
Disso decorre um argumento liberal de que a escravidão não amplia o mercado consumidor, que o sujeito sem liberdade e sem renda não compra e por aí vai.
Mas no atual estágio do capitalismo hoje, que a expansão do mercado consumidor não é desejável para muita gente...
...qual o problema de colocar pessoas sob a mira de uma escopeta para elas cavarem cebola? Elas não vão comer essas cebolas. Se comerem, vão ter que pagar. E se não tiverem dinheiro, vão trabalhar até pagar. Win-win situation, né não?
O "único" problema é moral. É social. É humano.
Mas todos esses problemas podem ser colocados de lado se o preço da cebola estiver baixo o suficiente para exigir uma mão-de-obra em estado de miséria. Ou de escravidão.
Eu sou Polanyista nessa (não confundir com "poliano"): se a gente separou a economia da sociedade e tá confortável com essa separação, então tudo que é imoral e condenável do ponto de vista social, sempre vai ter um cretino pra dizer que, imoral, ou não, aquela prática dá lucro.
E aí, claro, a tristeza de constatar que os cretinos se disseminam em todos os lugares da vida social exatamente para dizer que é assim, que o "econômico" tem que ser levado em conta. O famoso "veja bem", ou "vou bancar o advogado do diabo".
Gente que acha que o agro é pop ao falar do escravismo colonial na cana de açúcar, que defende que o garimpo ilegal que mata crianças indígenas é atividade econômica como qualquer outra, que acha que venda de órgãos pode gerar distribuição de renda...tá todo mundo aí.
Todo mundo defendendo que existe o econômico e o social. Que o primeiro é tão ou mais importante que o segundo. E que no fundo, é capaz até de perguntar: mas afinal, qual o problema de mandar pessoas cavarem cebolas com suas próprias mãos sob a mira de um fuzil?
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Dormi mal ontem por causa do horror do que houve ontem em Gaza, do massacre de civis que buscavam alimentos.
Parece que segundo os monopolizadores da memória do holocausto, não se pode fazer comparações com o nazismo.
Beleza. Vou lembrar do que houve na Índia, em 1919.
Nesse ano, os ingleses praticamente sepultaram todas as conversas com os líderes indianos para um plano de independência. E, tão logo a 1ª GM acabou, os ingleses promulgaram o Rowlatt Act, uma lei que permitia que o governo colonial britânico prendesse qualquer pessoa...
...suspeita de participar de qualquer atividade contrária ao governo colonial. E mais: elas sequer teriam acesso aos processos. Kafka é fichinha.
Na região do Punjab, ao longo dos meses de março e abril, uma série de protestos contra a lei deixaram os governadores e chefes...
É preciso que se diga uma coisa sobre negacionismo do holocausto.
Um dos maiores nomes críticos a esse negacionismo foi um historiador francês e judeu chamado Pierre Vidal-Naqet.
Vidal-Naqet escreveu, em 1987, um livro chamado "Os assassinos da memória", onde desfere duras críticas a acadêmicos e a imprensa por darem palco aos chamados intelectuais negacionistas.
Baseada numa falsa ideia de "arena pública", muita gente acabou abrindo espaço para negacionistas preferirem as maiores mentiras sobre a Shoah. E, em alguns casos, com o aval de intelectuais renomados (como Noam Chomsky, p. ex.).
Por ocasião do conflito, tenho tentado retomar leituras sobre movimentos israelenses e palestinos que lutaram contra o sionismo ao longo do século XX.
Um dos mais interessantes foi o Matzpen:
Durante a Guerra dos Seis Dias, o Matzpen se aliou com grupos palestinos para denunciar a guerra e exigir a "des-sionização" de Israel. A defesa era da criação de um Estado único e secular para árabes e israelenses.
Na verdade, nos anos 1960 e 1970, uma parcela significativa da esquerda israelense era anti-sionista. A Guerra dos Seis Dias foi determinante nesse sentido, mas os "rachas" entre a esquerda (inclusive os comunistas) era anterior.
Em 1967, as cortes israelenses criaram dois sistemas jurídicos distintos. A jurisprudência dos territórios ocupados é coordenada por tribunais militares.
Ontem eu postei um mapa que o Irgun divulgava sobre o projeto de Erez Israel, na década de 1930 - e que manteve-se fiel a ele em 1940.
Fui acusado de antissemitismo por isso. Mas antes de dar processo a rodo, vou dar aula de história.
A história do Irgun remete ao sionismo revisionista de Ze'ev Jabotinsky. Na formação do sionismo político israelense após 1917, Jabotisnky liderou um grupo de sionistas que contestava o pragmatismo de líderes como Ben Gurion.
Para eles, a Palestina deveria ser conquistada...
...militarmente. E isso implicava (nos anos 1930, ao menos) num governo militarista e autoritário. Jabotinsky era um grande admirador do fascismo italiano e de Benito Mussolini.
Mas para além da conquista da Palestina, Jabotinsky defendia a criação da "Grande Israel".
7 livros que fundamentaram as minhas concepções sobre a questão Palestina:
1) "A questão da Palestina", de Edward Said. Um livro inescapável. A partir da história da colonização israelense na Palestina durante os anos do mandato britânico, o autor mostra como a identidade palestina se construiu num "não-direito" à terra.
2) "The Palestine Nakba", de Nur Masalha. Infelizmente, sem tradução, mas um livro poderoso que retoma a importância de entender um projeto de História decolonial por meio da memória dos palestinos sobre a Nakba, a "catástrofe", ocorrida em 1948.