Bom dia. É impressionante como as redes sociais abriram a jaula da agressividade. Não é um atributo de apenas uma força ideológica ou política. É um padrão. Farei um breve fio a respeito. Vamos lá:
1) A violência verbal e a tentativa de cancelamento diário que vigora nas redes sociais sugere um certo adoecimento e extrema insegurança que se espraia neste século XXI. Não é algo normal.
2) A intenção é desqualificar o outro. Não se trata de crítica, mas de um jorro de humilhação para gerar desconforto e exclusão. Para quem se expõe em lives e eventos virtuais, o clima tóxico é uma busca comum vinda de quem perdeu totalmente o autocontrole.
3) Tento compreender o que motiva alguém permanecer num evento virtual e atacar o tempo todo em chats. Fico com a impressão que é gente que fica à espreita para se autoafirmar a partir da desmoralização de quem está se expondo. Tentarei uma ou outra explicação a respeito.
4) Imagino que seja uma espécie de idolatria invertida. Uma dependência emocional com o objeto de sua fúria para poder se afirmar. Richard Sennett fala em "substituição idealizada", ou seja, o medo de ficar solto, de não ter um ponto de referência.
5) Sartre trabalhava a angústia advinda da liberdade: a responsabilidade de ser livre. A linguagem da rejeição é, assim, uma antecipação. E o foco no cancelamento tem o condão de sugerir uma força de quem cancela que, na prática, é pífia. São mais atos simbólicos.
6) Uso o termo cancelamento não como ato em si, mas como subjetividade. É comum o ataque nos chats (ou mesmo aqui no Twitter) ininterruptamente, sem que o agressor resolva abandonar a arena de ataque. Configura uma necessidade de agredir para se promover ou se afirmar.
7) Baumann analisou como a partir do final do século passado passamos a ter uma dupla personalidade: a física (off line) e a virtual (online). A virtual, muitas vezes, é uma construção imaginária, normalmente protegida por um avatar. Uma espécie de heterônimos de Fernando Pessoa
8) Nesse sentido, essa agressividade compulsiva que aparece nas redes sociais revela solidão e necessidade de autoafirmação. Para que ficar num ambiente ouvindo alguém que lhe incomoda? Para projetar sua intenção que não é ouvida no seu cotidiano. Como chegamos a esse ponto?
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Bom dia. Posto um fio sobre a caracterização do bolsonarismo como ideário fascista, subversivo à Ordem Democrática e que deve ser colocado na ilegalidade. Vou me basear no livro que publiquei sobre o fascismo brasileiro. Lá vai:
1) Com o indiciamento de Jair Bolsonaro e 25 militares, sendo 24 do Exército (8 generais, 6 tenentes-coronéis, 7 coronéis, 1 capitão, 1 subtenente e 2 majores) na trama do golpe de Estado, o cenário de risco e a fonte de ameaça à democracia brasileira já está nítido.
2) Os líderes do bolsonarismo se autodeclaram de direita. A direita sustenta que a espécie humana possui distinções comportamentais: alguns são mais esforçados que outros; alguns mais inteligentes ou mais ambiciosos ou mais bem preparados.
Bom dia. Comprei o livro de Byung-Chul Han sobre o conceito de esperança num mundo de multicrise (o palavrão é dele). Vou comentar brevemente num fio. Lá vai:
1) Byung-Chul Han é possivelmente o filósofo mais profícuo do mundo. Não consigo nem acompanhar a produção dele. Acreditei que o seu livro “O Espírito da Esperança” seria o último, mas o livreiro me alertou que era o penúltimo. Mas, isso pouco importa.
2) O que importa é que “O Espírito da Esperança” debulha o trigo que Paulo Freire plantou. Esperançar se tornou o verbo mais citado por educadores brasileiros. Freire empregou a palavra para chamar para a ação.
Bom dia. As eleições municipais que acabaram ontem completaram o círculo vicioso do baixo clero. Este é o fio de hoje. Vamos a ele:
1) As eleições de 2024 foram uma volta ao passado político do Brasil. Uma enorme derrota para a esquerda, mas também uma quebra nas expectativas inflamadas da extrema-direita.
2) Não ter a polarização recente como vitoriosa não significou a vitória da tal terceira via, um modelito repaginado do liberalismo sem sentido em nosso país. Não há espaço para liberalismo no mais desigual dos 10 mais ricos do planeta.
Mais uma vez, me assusto com o envelhecimento do PT. Embora tenha eleito jovens para Câmaras Municipais, o comando e a base do partido envelhecem rapidamente. Vamos aos dados:
1) Segundo dados do TSE de 2022, homens de meia idade são o principal perfil dos filiados a partidos. O PT não foge à regra: 19% dos filiados são homens de 45 a 59 anos de idade, índice similar ao do PCdoB. O índice cai para 14% no caso do PSOL. PSTU vai a 24%
2) Mulheres de 18 a 24 anos não chegam a 1% dos filiados do PT. Já os homens nesta faixa etária não perfazem mais que 0,5% dos filiados petistas. Quase 42% dos homens filiados petistas têm entre 35 a 69 anos (17% dos filiados homens têm de 60 a 74 anos).
Bom dia. Enquanto o mundo continua existindo por aqui, cumpro minha promessa e posto o fio sobre Darcy Ribeiro e suas propostas para a educação brasileira. Lá vai:
1) Darcy Ribeiro, sociólogo e antropólogo, foi defensor da escola pública e da educação integral. Costumava dizer que “a crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”, referindo-se às estruturas sociais segregacionistas presentes no Brasil
2) Sua concepção também foi influenciada pelo movimento Escola Nova, assim como Anísio Teixeira. A idealização dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPS), a partir da experiência da Escola Parque, vem desta filiação.
Bom dia. Ontem, perguntei aqui se deveria continuar os fios sobre educadores e, se sim, quais. Vários sugeriram fazer um mix de teóricos. Então, farei um fio sobre Anísio Teixeira e, mais adiante, sobre Darcy Ribeiro e outros. Começando agora.
1) Anísio Teixeira foi o educador com maior influência política no Brasil. Tanto que seu nome está inscrito no mais importante instituto que realiza exames educacionais, o INEP.
2) O educador baiano seguia o liberal igualitarista John Dewey, pedagogo dos EUA que defendia a democracia e a liberdade de pensamento como elementos para a maturação emocional e intelectual das crianças. Dewey imaginava a educação como base central da formação do cidadão.