Não, não estou falando da participante do Big Brother.
Estou falando da Eslovênia, o país - aquele que no fim da Segunda Guerra Mundial, junto com Bósnia e Herzegovina, Croácia, Macedônia, Montenegro e Sérvia, formava a República Socialista Federativa da Iugoslávia.
Nesse tempo, este sujeito aqui era o dono do pedaço: o Marechal Tito.
Embora as repúblicas iugoslavas até gozassem de certa autonomia, Tito detinha o poder supremo e governava ditatorialmente, sem oposição.
Em 1963, numa canetada, ele virou presidente vitalício da Iugoslávia.
Num ponto, no entanto, Tito merecia certo crédito: a Iugoslávia podia até oferecer menos direitos que as democracias, com uma polícia secreta violenta com opositores - mas o iugoslavo médio tinha mais liberdades que os habitantes de qualquer outro país comunista da Europa.
Tito, aliás, entrou em rota de choque com a União Soviética, num episódio conhecido como Ruptura Tito-Stalin.
O Marechal defendia uma Iugoslávia independente da URSS. E assim o fez.
Stalin ficou tão puto com ele que passou a ficar obcecado com a ideia de assassiná-lo.
Assim, a cortina de ferro foi desajeitadamente rompida por Tito.
Stalin reagiu com pelo menos 22 tentativas de assassinato contra o Marechal.
Stalin tentou assassinar Tito de todas as formas: com uma caixa de jóias que emitiria um gás mortal quando aberta, com um “mecanismo silencioso disfarçado de artigo pessoal” como uma caneta, e até mesmo infectando-o com a bactéria da peste bubônica.
Como revela Robert Service, Tito reagiu com uma carta a Stalin em 1948:
“Pare de enviar pessoas para me matar. Já capturamos cinco deles, um com uma bomba e outro com um fuzil. Se você não parar de enviar assassinos, enviarei um para Moscou e não terei que enviar um segundo.”
Hoje, alguns historiadores defendem a tese de que Stalin - oficialmente acometido por uma hemorragia cerebral causada por um derrame - morreu envenenado a mando de Tito.
A ironia é que Stalin era reconhecidamente admirador desse método de assassinato.
Nesse tempo, os EUA e a URSS lideravam duas alianças militares: a OTAN e o Pacto de Varsóvia.
Em 1961, Tito foi um dos fundadores do Movimento Não Alinhado, que estabeleceu um bloco independente de nações com 120 países.
A primeira conferência do grupo aconteceu na Iugoslávia.
A Eslovênia é o único país europeu que sofreu com três regimes totalitários do século XX: fascismo, nazismo e comunismo.
Em 1941, a Itália tomou o sudoeste, incluindo Liubliana (a capital da Eslovênia), a Alemanha anexou o norte e a Hungria recuperou Prekmurje.
Com a derrota nazista, os comunistas, liderados por Tito, tomaram o poder de um bloco territorial importante dos Bálcãs, dividido em 6 estados constituintes (incluindo a Eslovênia) e 16 milhões de habitantes.
A capital ficava em Belgrado. 1/3 da população iugoslava era sérvia.
Até a década de 1980, a Eslovênia gozava de uma autonomia relativamente ampla dentro da Iugoslávia.
A Eslovênia tinha 1/10 da população total da Iugoslávia, mas era a mais produtiva das repúblicas iugoslavas, respondendo por 1/5 de seu PIB e 1/3 de suas exportações.
Em 1990, o PIB per capita da Eslovênia estava um pouco acima dos 10 mil dólares.
Ela permanece sendo a representante mais rica entre os países da extinta Iugoslávia.
Embora tenha sofrido consistentemente menos repressão que outros países comunistas, a Eslovênia teve 6.500 presos políticos durante 1948-1988 (dados oficiais), e milhares de mortos, vítimas da violência estatal (com muitos desaparecidos).
Após sua morte, uma série de reformas políticas e econômicas tomaram conta da Eslovênia, que conquistou a independência da Iugoslávia em 1991, com 95% de apoio popular.
Hoje o chefe de governo da Eslovênia é esse sujeito aqui: Janez Janša, de direita.
Hoje a Eslovênia é uma democracia consolidada e o país mais desenvolvido dos Bálcãs, com uma economia de alta renda (equiparável à Espanha) e um Índice de Desenvolvimento Humano alto (equiparável ao Japão e Luxemburgo).
Ela é parte da União Europeia, da OCDE e da OTAN.
A Eslovênia também aparece em destaque no bloco dos ex-países comunistas europeus, atrás apenas - mas muito próxima - da República Tcheca.
A Eslovênia é um país da Europa Central, com 2,1 milhões de habitantes (equivalente a Manaus), que faz fronteira com Áustria, Hungria, Croácia e Itália.
Entre os eslovenos que você provavelmente conhece estão Slavoj Žižek e Melania Trump.
Ah, a Eslovênia também já abrigou 5 edições do Big Brother.
A última edição teve como vencedora a enfermeira Mirela Lapanović. Ela faturou 50 mil euros.
Mirela perdeu a guarda do filho após aparecer no programa transando com um colega de confinamento.
Nesse final de semana haverá eleições na Alemanha.
Eu preparei essa thread sobre a Alternativa para a Alemanha, para que, daqui a um tempo, você não seja pego de surpresa sobre quem manda na AfD:
Em abril de 2024, a justiça da República Tcheca anunciou o congelamento dos bens de dois homens acusados de dirigir uma operação de influência para a Rússia na Europa. Os seus nomes eram Viktor Medvedchuk e Artem Marchevsky.
Se você acha que a Rússia não é uma ameaça à segurança mundial, e que todas as acusações recentes contra Moscou não passam de propaganda, russofobia ou histeria, você definitivamente precisa se informar melhor.
Aqui embaixo, revelo por que você está errado:
Nessa semana, publiquei essa thread, em que conto como a inteligência de diferentes nações europeias detecta a ambição russa de atacar países membros da OTAN nos próximos anos – o que poderia provocar uma guerra aberta na Europa.
Nela, disse que a principal ambição política de Vladimir Putin é a restauração dos territórios perdidos na dissolução da União Soviética. cambridge.org/core/journals/…
Putin lamenta repetidas vezes a derrocada da condição imperial russa, e chama a dissolução da União Soviética de “maior tragédia geopolítica do século”. nbcnews.com/id/wbna7632057
Ele entende que esse foi um processo de “desintegração da Rússia histórica sob o nome de União Soviética”. reuters.com/world/europe/p…
Abandonar a Ucrânia não é uma opção para a Europa. O risco de realizar esse movimento é a história se repetir e outros países europeus serem engolidos pela ambição de um ditador imperialista.
Qual a chance disso acontecer e por que isso é tão importante?
Conto aqui embaixo:
Nesse final de semana, numa entrevista para a Economist, Zelensky acusou Moscou de trabalhar na formação de 10 a 15 divisões militares, com mais de 100 mil soldados, com a intenção de enviá-los à Bielorrússia para atacar um país-membro da OTAN.
Você provavelmente já sabe o que é o TikTok, então não preciso perder muito tempo explicando.
Mas de forma resumida: o TikTok nasceu em 2016, como um app para gravar e compartilhar vídeos com sincronização labial. Nada muito revolucionário, mas sucesso imediato.
O conteúdo evoluiu bastante desde então – das dancinhas às análises políticas.
No passado, ele só existia na versão chinesa, chamada Douyin (抖音). Até hoje o Douyin é o aplicativo disponível na China.
Sim, são dois apps. Douyin e TikTok pertencem à mesma empresa, são praticamente a mesma coisa, mas os seus conteúdos são completamente diferentes.
O TikTok que você conhece é bloqueado na China.
Douyin e TikTok são da chinesa ByteDance.
A ByteDance foi fundada pelo chinês Zhang Yiming. Em 2024, Yiming virou o homem mais rico da China. bbc.com/news/articles/…