"As pessoas se incomodam com o pobre tendo carro ou andando de avião”. Foi assim que o ex-presidente Lula respondeu a uma crítica sobre as filas nos aeroportos brasileiros durante uma palestra sediada na Universidade Federal do ABC em julho de 2013.
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"Em 10 anos, fizemos com que 53 milhões começassem a andar de avião. Claro que tem problema em aeroporto." Meses depois, em uma cerimonia de aniversário de 10 anos do Bolsa Família, Lula insistiria no tema: "Eu sei que incomoda muita gente que os pobres estão evoluindo."
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"A patroa bota um perfume à noite para ir jantar e a empregada vem de manhã com o mesmo perfume. (...) O cidadão vai para o aeroporto, chega lá está a empregada dele com a família no avião, pegando o lugar dele", disse Lula.
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As falas de Lula foram duramente criticadas pela imprensa. O discurso foi rotulado como demagógico, irresponsável e populista. Os jornais afirmavam que o ex-presidente tentava "dividir a sociedade" - como se esta já não estivesse dividida há séculos".
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A observação de Lula, entretanto, estava correta. A ascensão dos pobres criou um profundo mal estar nas classes médias e na elite, que interpretaram o avanço das camadas menos favorecidas da sociedade como um processo de perda de status e de privilégios.
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Em um país tão socialmente segregado quanto o Brasil, onde as relações sociais foram forjadas pela dinâmica da exploração e da escravidão, as aparências, o status social e a ostentação de poder aquisitivo têm enorme importância nas dinâmicas de sociabilização.
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Um celular caro, um carro novo, uma roupa de grife e até mesmo uma viagem são ferramentas de afirmação social que, no imaginário popular, garantem respeitabilidade. Nesse contexto, a mobilidade social no governo Lula teve um profundo impacto psicológico na sociedade.
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Durante o governo Lula, 60% dos brasileiros tiveram incremento de renda e 36 milhões saíram da miséria. Formou-se uma nova classe média que, embora despida de status, logrou concentrar um importante poder de consumo.
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Essa nova classe média passou a comprar carro, casa, frequentar restaurante, fazer cursos, viajar, etc. O potencial de consumo alimentou um sentimento de bem estar, fomentando um novo ciclo de investimentos e a criação de novos nichos econômicos voltados à classe C.
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O ingresso desses consumidores emergentes em espaços até então relegados à elite e à classe média tradicional causou atritos, desconforto e reações violentas - um desejo visceral de "devolver" a nova classe média ao seu "devido lugar".
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O exemplo mais bem acabado desse fenômeno é um texto de Danuza Leão, publicado na Folha em 2012, em que, com desconcertante sinceridade, a socialite se queixa do fato de que "ser rico perdeu a graça", demonstrando inconformidade com o fenômeno da ascensão social.
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"Bom mesmo é possuir coisas exclusivas, a que só nós temos acesso; se todo mundo fosse rico, a vida seria um tédio", pontua a socialite, mostrando-se irritada porque não pode mais "se diferenciar do resto da humanidade", pois "todos têm acesso a absolutamente tudo"...
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...uma vez que os emergentes agora podem parcelar tudo "pagando módicas prestações mensais". E conclui que viajar para Nova York ou Paris perdeu o encanto, pois agora, "por R$ 50 mensais, o porteiro do prédio também pode ir, então qual é a graça?".
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Danuza pode ter sido a mais vocal, mas estava longe de ser a única personalidade afluente incomodada com a ascensão dos emergentes.
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Em novembro de 2010, por exemplo, o apresentador Luiz Carlos Prates, da RBS - retransmissora da Rede Globo em Santa Catarina -, fez um comentário raivoso atribuindo o aumento dos acidentes de trânsito à popularização dos automóveis no Brasil.
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Prates se queixou do fato de que agora "qualquer miserável pode comprar um carro", o que, na sua visão, ocorreu graças a "este governo espúrio que popularizou, pelo crédito fácil, o carro para quem nunca tinha lido um livro".
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Em 2014, Rosa Marina de Brito Meyer, professora de letras da PUC-RJ, fez uma publicação nas redes sociais zombando de um passageiro que aguardava para embarcar no mesmo avião onde ela viajaria, ironizando com a legenda: "Aeroporto ou rodoviária?".
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Mais recentemente, Lilian Taranto, ex-esposa de Renato Aragão, queixou-se de ter de dividir o voo com um passageiro que usava bermuda e chinelo. "Para uma blogueira vintage, passando dos 50, o aeroporto começa a ficar um saco… Parece rodoviária, né, gente?"
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Em fevereiro de 2020, Paulo Guedes, ministro da economia de Bolsonaro, demonstrou incômodo semelhante ao justificar a alta da cotação do dólar. Guedes criticou a taxa de câmbio do dólar a R$ 1,80 durante os governos petistas.
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Segundo o ministro, a cotação estava tão baixa que "até empregada doméstica estava indo para a Disneylândia", o que rotulou como "uma festa danada" que precisava acabar.
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Guedes e outros representantes de sua classe podem ficar tranquilos agora. Cerca de 60% da classe trabalhadora relata redução de sua renda. Mais de 20 milhões de brasileiros voltaram a passar fome e temos o menor consumo de carne da história.
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Metade dos brasileiros está sobrevivendo com menos de 500 reais mensais. E os aeroportos estão novamente vazios para o usufruto exclusivo e confortável da elite e dos setores médios do Brasil.
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Há 126 anos, em 21/07/1899, nascia o escritor norte-americano Ernest Hemingway. Considerado um dos maiores romancistas do século 20, Hemingway também foi um ativo participante da luta antifascista. Contamos sua história hoje, no @operamundi
Ernest Hemingway nasceu em Oak Park, subúrbio de Chicago, filho do médico Clarence Edmonds e da cantora de ópera Grace Hall. Cursou o ensino básico na River Forest High School, dedicando-se também ao esporte, praticando boxe, atletismo, polo aquático e futebol americano.
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Após concluir o ensino secundário, Hemingway decidiu não cursar a universidade — uma decisão que desagradou profundamente seus pais. Em busca da independência financeira, ele preferiu procurar um trabalho, passando a escrever como jornalista para o “The Kansas City Star”.
Há 89 anos, as tropas de Francisco Franco lançavam um golpe contra o governo de centro-esquerda de Manuel Azaña, dando início à Guerra Civil Espanhola, um dos conflitos mais sangrentos da Europa no século 20. Contamos essa história no @operamundi
Desde o séc. 19, a Espanha encontrava-se submersa em uma grave crise política, intensificada pela perda de suas possessões coloniais diante da expansão imperialista dos EUA e pelo crescimento dos movimentos autonomistas das comunidades bascas e catalãs.
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O forte domínio da igreja católica era contestado por liberais e anticlericais de esquerda. E a despeito do crescimento econômico oriundo da industrialização, a população não sentia mudanças nas suas condições de vida. O país seguia marcado pela enorme concentração de renda
Há 644 anos, o padre John Ball era enforcado e esquartejado na Inglaterra. Ele foi um dos líderes da Revolta dos Camponeses — uma insurreição de 60 mil trabalhadores contra o regime de servidão e os senhores feudais. Leia mais no @operamundi
@operamundi A eclosão da pandemia de Peste Negra em meados do século 14 teve um profundo impacto sobre a estrutura socioeconômica da Inglaterra feudal. A doença causou um verdadeiro colapso demográfico no país, dizimando cerca de 50% da população inglesa.
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A mortalidade elevada gerou uma grave escassez de mão de obra na agricultura. Com menos trabalhadores disponíveis, o salário dos camponeses começou a subir. Entre 1340 e 1380, o poder de compra real dos trabalhadores rurais cresceu cerca de 40%.
Há 236 anos, a população de Paris invadia, saqueava e destruía a Bastilha — a fortaleza medieval utilizada como prisão pela monarquia. O episódio é considerado o marco inicial da Revolução Francesa. Contamos essa história hoje no @operamundi
Tributária dos avanços das ideias iluministas e da fragilização da autoridade da Igreja e do Antigo Regime, a Revolução Francesa teve como elemento de ignição imediata a grave crise política, social e econômica que assolou a França no fim do século XVIII.
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As péssimas colheitas, o alto custo de vida e o desemprego alimentavam a insatisfação popular em relação à monarquia e o ressentimento contra a aristocracia francesa, ao passo que a burguesia reivindicava a ampliação de seu poder político.
Há 202 anos, em 2 de julho de 1823, as tropas portuguesas eram derrotadas em Salvador e a Independência da Bahia era proclamada. O triunfo foi fundamental para consolidar a emancipação política do Brasil. Contamos essa história hoje no @operamundi
A independência brasileira foi o capítulo final do processo de emancipação iniciado após a transferência da corte portuguesa para o Rio. A invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão forçou D. João VI a transferir a administração do império português para o Brasil.
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Esse processo culminou com a elevação do Brasil ao status de Reino Unido a Portugal. Com a eclosão da Revolução Liberal do Porto e o retorno de João VI a Lisboa, o Brasil vislumbrou o risco de perder sua relativa autonomia.
Há 88 anos, nascia Vladimir Herzog. Diretor de jornalismo da TV Cultura e militante do PCB, ele se destacou pelas denúncias sobre malfeitos da ditadura militar — motivo pelo qual foi torturado e morto nos porões do DOI-CODI. Leia mais no @operamundi
Vlado Herzog nasceu em Osijek, na Croácia, então parte do Reino da Iugoslávia. Ele era filho de Zora Wolner e Zigmund Herzog, um casal de comerciantes judeus. O pai tinha uma pequena loja de porcelanas em Banja Luka, onde a família viveu até o início dos anos 40.
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Em abril de 1941, após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a Iugoslávia foi invadida pela Alemanha nazista. O país foi desmembrado e ocupado pelas forças do Eixo e um Estado fantoche colaboracionista foi instalado na Croácia.