Thread by @drilippi

Meu TG/TCC foi sobre seguir boias no Sudoeste Atlântico para achar "calombos" na superfície do Oceano: "Verificação da estrutura de duas células na região Sudoeste do Atlântico Sul utilizando dados de derivadores lagrangeanos"

#OceanoEmFio

Como q fiz isso? Segue o fio

⚠️Disclaimer: Faz 10 anos q entreguei isso então pode ser q fale alguma besteira pq alguns anos depois eu fui pra outras áreas

Antes, q raios de calombos são esses?
No Oceano temos ondas (das minúsculas às enormes), mas além disso há muitas dinâmicas que ajudam a mover as águas do oceano e desviar o movimento. Uma delas é o gradiente de pressão.

Gradiente de pressão quer dizer que em um ponto do oceano a coluna d'água tem mais pressão do que em outro pto

A tendência é buscar o equilíbrio, então deve acontecer algum movimento pra essa pressão se igualar entre esses ptos (considerando um pedaço de bacia oceânica)

Para meso e larga escala, a gnt pode considerar também o Efeito de Coriolis (causado pela rotação e formato da Terra, explicação longa aqui )

Que faz as correntes no Hemisfério Sul (HS) darem uma escorregadela/desviada (defleção) pra esquerda

Juntando os dois (p/ meso e larga escala): Se tiver um pto A com mais pressão e um pto B com menos pressão, o movimento vai ser de A -> B mas no meio do caminho vai defletindo pra esquerda.
Meio que isso é Movimento Geostrófico

A diferença de pressão em geral é determinada pela densidade da água do mar: Um volume X de água mais fria e mais salina vai ser mais densa ("mais pesada") que o mesmo volume de água mais quente e menos salina

Meu estudo viu a região do Sudoeste do Atlântico entre 20º Sul e 40º Sul e 20º Oeste e 50º Oeste. Região que banha o litoral sul e sudeste do Brasil

Para achar como que era o padrão de gradiente de pressão fui no World Ocean Atlas de 2009 para baixar dados de climatologia da região,
ncei.noaa.gov/products/world…

Usei dados de salinidade e temperatura.
Os gráficos mostra perfis: no eixo vertical está a profundidade e no eixo horizontal representa uma seção de pontos escolhidos na bacia. As cores variam seguindo a sequência do arco-íris: quanto mais vermelho mais o valor (sal./temp.)

A partir dessa porrada de dados calculei o volume específico

Disso deu pra calcular as anomalias do geopotencial, que é uma integral das anomalias de volume específico

"Mas o título não fala nada disso! Q raios tem a ver com derivadores lagrangeanos e o q são?"

Calma, o negócio é meio doido mesmo

Derivadores lagrangeanos são boias que saem mundo a fora medindo as condições ambientais por onde passam.

Imagina q seu smart watch pegaria as diferentes temperaturas do ambiente durante uma trilha sua. Seriam algo similar...

Esses derivadores são compostos por uma boia, sensores ambientais (podem variar com o modelo que parâmetros medem), uma antena para transmitir os dados e uma "vela" que fica submersa pra evitar que a boia seja arrastada pelo vento e ajude a boia a seguir o fluxo da água

Existe o programa GOOS (Global Ocean Observing System) que tem um braço brasileiro. Esse sistema junta diferentes fontes de dados observacionais: boias fixas, derivadores, gliders, XBT, etc...
goosbrasil.org

O Brasil tem o programa PNBoia sob responsa da Marinha do BR que organiza o lançamento desses derivadores por navios da Marinha ou de empresas (marinha mercante, transportadores,...) ou de pesquisa
marinha.mil.br/chm/dados-do-g…

Isso é uma evolução da garrafas jogadas ao mar para pesquisa, mas fica pra outro fio
whoi.edu/oceanus/featur…

Pelo site do GOOS-Brasil eu peguei uma cacetada de trajetos de boias na região de estudo. Pra exemplificar, tem o trajeto de 1 boia na 1a imagem e na segunda vários trajetos

Com esses dados a gnt calculou a velocidade média das boias utilizando uma grade de 1ºx1º e sobrepus sobre os gráficos de anomalia de geopotencial

Peguei os dados do QuickSCAT, satélite que mede/media ventos, para saber o quanto precisaria me preocupar com o arrasto dos derivadores

Sobrepus todos esses dados nesse gráfico horrível (me desculpem gnt, eu era só uma graduanda fazendo 20 e poucos créditos e organizando um evento nacional enquanto fazia esse TG)
Setas em roxo: vento, setas azuis: vel das boias, linhas e gradientes: anomalia de geopotencial

Conclusão? não chegamos a nenhum lugar resultando nessa linda frase:

"Este trabalho deixa como sua contribuição mais importante de demonstrar que os derivadores não são bons indicadores das feições de meso e larga escala para as análises climatológicas anuais."

E aqui terminamos a tour do meu TG. Foi trabalhado, aprendi mil coisas, mtas ferramentas, aprendi sobre o Oceano, LaTeX , mas não trouxe nenhuma grande contribuição pra ciência

E tá tudo bem, é só um TG :)