Thread by @AnarcoFino

Bolsonaro não é um (ex-)militar atípico. O militar ama sua pátria (um projeto) e odeia o seu povo (o presente), isso fica muito explícito quando olhamos tanto para a Ditadura Militar quanto para a fundação da República.

Tudo se passa como se o povo brasileiro carregasse consigo uma mácula, o "pecado da miscigenação". Lembram-se da fala do Mourão sobre os vícios que os brasileiros supostamente herdaram dos negros, dos indígenas e dos portugueses?

congressoemfoco.uol.com.br/area/pais/mour…

Caberia então a instituição militar reformar o Brasil, libertá-lo de seus elementos espúrios, domesticando-o. De sua própria perspectiva, os militares não apenas se pensam como agentes do progresso, mas como eles próprios sendo o modelo desse progresso. Ponto fundamental!

Diferentemente da eugenia nazista, que se imaginava enquanto um projeto global futuro os militares se imaginam como um futuro já realizado.

Enquanto a suposta pureza da raça ariana só poderia ser conquistada no futuro, a existência "diferenciada" dos militares era algo já conquistado, elemento presente.

Enquanto os alemães pensavam em um projeto global, uma reforma da sociedade - donde a necessidade de exterminar os elementos que consideravam indesejáveis -, os militares pensavam na formação de uma casta capaz de reger os próprios "indesejáveis".

Quando olhamos de perto vemos os valores fundamentais do militarismo presentes: hierarquia e obediência. O pensamento militar visa criar uma hierarquia na própria sociedade, com os militares no topo. Caberia aos demais obedecer os militares.

A Ditadura Militar nunca foi apenas um projeto político, era um projeto de sociedade. Donde a utilização da máquina de extermínio pelos militares ser diferente da nazista: aqui o extermínio está relacionado a chamada doutrina da guerra revolucionária.

Basicamente, o extermínio sistemático dos insubmissos teria como objetivo constituir uma máquina de terror capaz de manter a obediência da sociedade. Domesticá-la.

Contudo, ao contrário do nazismo, o militarismo à brasileira pretende manter a existência dos elementos indesejáveis, pois neste regime é preciso que existam aqueles cuja única função é obedecer, aqueles que possam ser sacrificados continuamente para a manutenção dos privilégios.

Aqui poderíamos fazer diversas associações com os planos de crescimento da economia brasileira durante a ditadura, que se apoiavam no trabalho escravo e no sacrifício de trabalhadores - o Brasil era recordista de acidentes de trabalho, por exemplo.

Como estamos na internet é importante salientar que não estou fazendo esta distinção para dizer que um é menos pior que o outro, apenas salientando a diferença para dizer que, justamente, se tratam de projetos opressivos diferentes (mas que podem caminhar juntos até certo ponto).

A pátria que os militares tanto amam é esse projeto de sujeição do povo brasileiro, da constituição de uma aristocracia de oficiais, dessa fusão entre governo e caserna. O povo são aqueles pelos quais eles não podem ter nenhum apreço, aqueles que devem dominar.

A ojeriza ao povo faz parte desse espírito militar. Não é a toa que Figueiredo afirmara adorar mais os cavalos do que as pessoas, que o brasileiro era incapaz de votar por não ter hábitos higiênicos. Cavalos podiam ser domesticados, o povo não.

www1.folha.uol.com.br/folha-100-anos…

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