Eu tenho certeza que a varíola de macaco será classificada como Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional em alguns dias. Eis o porquê. #monkeypox
Toda semana, a OMS tem enviado relatórios da situação da monkeypox no mundo. E desde o primeiro caso na Inglaterra, eu tenho lido os relatórios pra fazer o #ciencianews, quadro que traz notícias científicas lá no @olaciencia. Pois bem, algo mudou de duas semanas pra cá.
Estamos vendo o avanço do vírus pelo mundo(ou deveríamos). A curva já apresenta crescimento exponencial, com cadeias de transmissão independentes em pelo menos 39 países e 1806 casos confirmados até 15/06.
A OMS também relata que casos estão aparecendo não só entre contactantes, sugerindo que estamos perdendo o rastreio de algumas cadeias de transmissão. Em outras palavras, o vírus está circulando sem que consigamos rastreá-lo.
Esse padrão de transmissão silencioso e disseminado em várias regiões geográficas é visto com preocupação pelo diretor da OMS. As palavras "aparição repentina e inesperada" aparece no último relatório, que pode ser lido aqui: who.int/emergencies/di…
O relatório também considerou em 29 de maio que o risco global da varíola de macaco já era "moderado". Isso não tinha aparecido em relatórios anteriores, em que o risco não havia sido avaliado, ou que havia sido considerado "baixo".
A razão para o aumento do risco +
se dá pelo fato de ser a primeira vez que a #monkeypox está disseminada em vários países, com várias cadeias de transmissão.
Por fim, Dr. Tedros Adhanom, na última entrevista coletiva da OMS disse que irá convocar um comitê de emergência para avaliar a situação em 23 de junho. Nessa coletiva, ele cita as palavras "incomum" e "necessita de resposta internacional coordenada", quando se referiu ao surto.
Todos esses detalhes somados revelam uma preocupação da OMS, maior do que antes com a varíola de macaco. As palavras usadas pelo diretor da OMS e escritas no relatório chamam muita atenção para quem já lida com epidemias. São palavras que DEFINEM uma Emergência Internacional.
Aqui está a definição oficial, retirada diretamente do site da OMS. Eu marquei em vermelho exatamente as palavras usadas por eles. Não fica óbvio?
Se é tão claro assim, por que eles não declararam ainda? O que muda?
Bom, a declaração de Emergência em Saúde Pública de Interesse Internacional é uma espécie de alerta/recomendação para que sistemas de saúde do mundo se preparem para lidar com um patógeno que pode afetar além das fronteiras de onde ele causa surtos hoje +
É o chamado para uma resposta coordenada de autoridades de saúde do mundo inteiro: estabeleçam recursos e comitês de emergência para lidar com uma situação potencialmente perigosa!
Não é um alerta de pandemia. É um alerta de que a situação deve ser controlada para não virar uma.
Bom, espero que o fio tenha sido esclarecedor sobre a situação que estou acompanhando e não estou vendo tanta divulgação. Pra quem quiser saber mais, eu tenho feito lives semanais lá no canal. A última você encontra aqui:
Sobre eles não terem declarado Emergência ainda, o Comitê de Emergência convocado para 23 de junho deve unir os dados para confirmar se é emergência ou não. Saberemos em breve. Link da Coletiva da OMS:
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Tenho visto muita gente dizendo que DC não vale a pena e que não sabe por onde começar.
Estamos nessa estrada há 6 anos com o @olaciencia, e acho que posso ajudar.
Segue o fio!🧶
Um dos maiores desafios de quem inicia na DC é ter um alcance considerável ao ponto de "compensar" o imenso trabalho de coletar, analisar e divulgar a informação científica.
Por isso, é crucial que antes mesmo de começar, você conheça bem o seu público.
Se você estuda "câncer de próstata" ou "eventos extremos de chuva", vale a pena pesquisar se esses assuntos têm demanda.
Você possui um conhecimento que seja mais abrangente? Que tenha maior interesse?
Como por exemplo, "como evitar o câncer" ou "mudanças climáticas".
Muitos se perguntam como alguém pode apoiar um remédio sem eficácia. Para quê? A verdade é que essa indústria movimenta muito dinheiro. E eu acompanho grupos de negacionistas há pelo menos um ano para entender como ganham dinheiro com esse modelo de negócios.
Como o negacionista empreendedor ganha dinheiro:
1) Conquista a sua audiência com argumentos de autoridade. Não é raro ver médicos formados em excelentes universidades, defendendo tratamentos ineficazes (na maioria dos casos, conscientes do erro).
2) Conquista as pessoas pelo medo e pela escassez. Temos uma pandemia em curso e poucos médicos que defendem tratamentos ineficazes. Automaticamente, se ele passa a defender, ele é um profissional escasso.
Não existe protocolo 100% seguro. Ana Maria testou positivo hoje (provavelmente em um teste rápido de antígeno), mas disse que estava sentindo uma "gripinha" desde quinta-feira. Ou seja, pode ter infectado toda a produção de quinta e sexta. g1.globo.com/pop-arte/notic…
Na sexta-feira, ela conversou com o ator Alexandre Borges, cara a cara. Se você está com sintomas, fique em casa, mesmo se o teste der negativo. Teste de antígeno ou mesmo o PCR podem falhar, principalmente se a carga viral for baixa.
A sensibilidade do teste de antígeno, mesmo se acima de 90%, é em relação ao PCR, que apesar da sua sensibilidade analítica ser próxima dos 100%, tem sensibilidade clínica próxima dos 70%. Em outras palavras, PCR e antígeno, podem dar falso-negativo. Não existe protocolo seguro.
Acho que sendo mais transparente. Sabíamos que uma vacina com eficácia de 50% teria que ser aplicada em mais de 90% da população para segurar a epidemia. Isso considerando que ela impede a transmissão (o que não sabemos). Ressaltar as limitações de cada vacina é ser responsável.
Antes de mais nada, destaco que mesmo uma vacina com 40-60% de eficácia tem o seu valor, pois trata-se de redução de riscos de casos, internações e óbitos. Cada vida importa. Quando não se tem doses suficientes, uma estratégia usando uma vacina 50% eficaz é válida.
O problema é que a eficácia é apenas um dado científico que depende da taxa de transmissão do vírus. Para um vírus controlado, com baixa circulação e taxa de transmissão, uma vacina com 40% de eficácia é suficiente. Em uma pandemia disseminada, não é.
Recebo esse tipo de pergunta o tempo todo. Infelizmente, não tenho como responder a todos porque são centenas por dia. Mas mostra que ainda tem MUITA gente desinformada por aí e quem precisava ajudar, não está ajudando.
Notícias antigas ressoando novamente...
De repente, vídeos antigos começaram a receber MUITAS views de gente que estava escondida (eles tinham sumido por algum tempo). Alguma coisa fez furar a bolha e estimular esse levante. São CENTENAS de comentários similares
O presidente consegue causar mal de duas formas: 1. inflama seus apoiadores pra não usarem máscara 2. (O que é ainda pior) compartilha uma informação falsa de que a máscara só evita um infectado de transmitir o vírus, mas não protege quem não está infectado.
Sabemos que máscaras protegem de duas formas: (1) de inalar aerossóis e gotículas e (2) de emitir partículas no ar. Quem está infectado, não sabe que está transmitindo, muitas vezes. Esse é o problema da COVID que fez a doença espalhar. Ela espalha antes dos sintomas.
Vai fazer teste pra saber quem está infectado, antes dos sintomas? Não... não usamos essa estratégia. Então, continue usando sua máscara. É o melhor que podemos fazer.