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Jun 25 16 tweets 8 min read
Voltei ontem de Atalaia do Norte, de onde consegui postar pouco por conta do sinal precário (o upload de uma única foto leva longos minutos). Então posto agora um resumo do que vimos e descobrimos por lá, eu, o @oliverlaughland e o Danilo do Carmo.

#JusticaParaDomEBruno
Começamos por Tabatinga, cidade mt violenta, na fronteira do Brasil com Peru e Colombia. Na véspera, um homem havia sido executado a tiros num restaurante em Letícia (a cidade colombiana, onde se chega com um reles atravessar de rua). Morreu tb uma turista holandesa
Lá, encontramos a família do Maxciel Pereira dos Santos, indigenista da Funai que foi pupilo do Bruno Pereira - e que tb foi executado a tiros, em 2019. Sua mãe, Noemia, nos contou que Max era o caçula de seus 13 filhos. E que a investigação da PF está parada há 2 anos e 9 meses.
Assim como Bruno, Maxciel combatia o comércio ilegal de pirarucu. Sofria ameaças. Foi morto no dia 6 de setembro, quando prestava serviço para a @funaioficial (o contrato ia até outubro). A família nunca foi indenizada pelo Estado.
Contamos essa história aqui: theguardian.com/world/2022/jun…
De Tabatinga segue-se de barco a Benjamin Constant, cidade que centraliza os cartéis de droga, pesca e extração de madeira. Do outro lado do rio fica a cidade peruana de Islândia, onde vive o traficante Colombia, um dos suspeitos de ser o mandante do assassinato de Bruno e Dom.
De Benjamin parte-se de carro a Atalaia do Norte. É lá que fica a sede da Univaja.
Fomos à delegacia, onde estão presos provisoriamente Pelado e mais dois suspeitos pelo crime. A Polícia Civil ainda tenta prender mais cinco pessoas, a maior parte parentes de Pelado. Ontem pela primeira vez PC e PF admitiram publicamente que investigam um mandante - o que é bom.
Tráfico de peixe é tão lucrativo quanto drogas, disse o @DelegadoSaraiva. Bruno atrapalhava a atividade de peixes grandes. Até 2019, tinha respaldo da Funai. Destruída a fundação, passou a combater pela Univaja, sem o Estado. Ele e Dom foram mortos pela política de @jairbolsonaro
Falamos com pessoas na casa onde Dom e Bruno dormiram; falamos com Churrasco, que Bruno tentou encontrar antes de ser morto. E acompanhamos a vinda de indígenas das aldeias distantes para homemageá-los.
Na terça, indígenas de várias etnias discursaram e cantaram em honra de Dom e Bruno na sede da Univaja.
Um deles era Tamakouri Kanamari, que um dia depois levaria mais uma denúncia de invasão de seu território à Funai.
Publicamos uma série de matérias, junto com o @adowniebrazil, que estão no site do @guardian. Ainda publicaremos mais um texto e um vídeo. Mas como chegou muita gente nova por aqui, por sugestão do @tomphillipsin, achei importante contar um pouco do que vimos por lá.
Queria agradecer publicamente ao @caio_, que me indicou para o trabalho. Não conheci o Bruno, mas o @rubensvalente, que o conheceu muito bem, diz que ele tinha tudo para chegar a ser ministro, dada a sua competência.

Mas conheci o Dom.
A morte do Dom me deixou mt perturbado. E por deferência a ele, o único lugar onde eu gostaria de ter estado, neste momento, era no Vale do Javari. Para que ao menos a gente ajude a fazer esse crime ser solucionado. Para que a gente tente proteger aquela região como ele protegeu.
E pq, em última instância, lutar por #JusticaParaDomEBruno é lutar contra esse simulacro de Hitler que governa o Brasil. No que depender de mim, lutarei cada dia para enviar esses vermes de volta ao esgoto. E para que ninguém mais perca a chance de dizer “Amazônia, sua linda”.

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Jun 25
O cidadão de bem, em seu esplendor. Acabo de ser largado com malas, numa avenida erma a caminho do aeroporto de Manaus, por um 🚙 da @Uber_Brasil. Ele usava camisa de uma festa evangélica, falou disso, o papo naturalmente migrou p/ a prisão do Milton Ribeiro e daí p/ Bolsonaro. ImageImage
Era como se eu falasse com um bot, impermeável a qq evidência do real. “Pq não investigam a Petrobras?” Argumentei que foi a empresa mais investigada. “O PT matou 18 mil pessoas a mais com a H1N1 do que Bolsonaro com a Covid-19.” Isso em Manaus, epicentro da tragédia Pazuello.
Outrora eu ainda ouviria com parcimônia, mas desde que o Bolsonaro veio celebrar a morte do Dom com uma motociata nazista em Manaus, eu não tenho mais paciência. O debate ficou acalorado, até que em um determinado momento eu pedi que parássemos de falar, pq só haveria de piorar.
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Jun 10
Amanhã vai rolar um evento quase sem precedentes pra quem trabalha com ecologia. Um animal extinto na natureza - a ararinha azul - voltará a voar livremente, depois de 22 anos em que só existiu em cativeiro.
Acompanho essa história desde 2015, quando escrevi sobre Presley, uma ararinha já idosa, que havia sido "achada" na casa de uma senhora, nos EUA, e repatriada para o Brasil, na esperança de ajudar a salvar a espécie, que tinha cerca de 100 exemplares.
piaui.folha.uol.com.br/materia/presle…
Desde então, muitas águas rolaram. Primeiro um sheik do Catar conseguiu "reunir" (a compra e venda é ilegal) quase todas as aves que haviam sobrado em um criatório chamado Al Wabra (fora ararinhas, ele também colecionava carros, quadros e vários outros símbolos de poder).
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Jun 6
Carta da minha amiga Alessandra Sampaio, mulher do Dom Phillips:

"Quero implorar às autoridades brasileiras que busquem meu marido, Dom Phillips, e seu parceiro de expedição, Bruno Pereira, com urgência. No momento em que faço este apelo, eles já estão desaparecidos há mais de +
30 horas no Vale do Javari, uma das regiões mais conflagradas da Amazônia. Na floresta, cada segundo conta, cada segundo pode ser vida ou morte. Sabemos que, depois que anoitece, se torna muito difícil se mover, quase impossível encontrar pessoas desaparecidas. Uma manhã +
perdida é um dia perdido, um dia perdido é uma noite perdida. Só posso rezar para que Dom e Bruno estejam bem, em algum lugar, impedidos de seguir por algum motivo mecânico, e tudo isso vire apenas mais uma história numa vida repleta delas. Conheço, porém, o momento vivido +
Read 7 tweets
Sep 28, 2021
De quando o jornalismo ERRA FEIO. Hoje o @JornalOGlobo publica uma matéria que fala de infanticídio entre os indígenas suruwahás.

Obviamente não vou defender infanticídio, mas posso apontar as omissões que tornam essa reportagem bem irresponsável +
Entre os suruwahás existe ou existia (não sei dizer) uma prática de matar crianças nascidas com algum tipo evidente de doença ou má-formação. Sob qualquer ponto de vista humanitário, é uma prática horrorosa.

Mas neste caso, o buraco (antropológico e jurídico) é mais embaixo +
ERRO 1: Os suruwahás são um povo indígena de "recente contato". Ou seja: até pouco tempo estavam isolados, sem contato com o conjunto de normas e leis que nos regem. Dessa forma, se enquadram na categoria "inimputável", prevista na Constituição.

Isso a matéria não cita +
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