O primeiro ponto a entender é que nós formulamos a PEC a partir de princípios fundamentados no que há de mais moderno na elaboração de regimes fiscais.
Por acaso, a nossa PEC acabou ficando bem parecida com a mudança de regras e arcabouço proposta pela União Europeia.
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Lá no PIIE onde eu trabalho tenho 2 colegas que estão ligados à formulação da UE. Depois que apresentamos a nossa PEC, tenho conversado bastante com eles. A UE tinha regras muito rígidas que se mostraram inadequadas na crise de 2010-2012.
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Além disso, as regras existiam no vácuo de um regime fiscal, como o nosso Teto atual de Gastos.
Portanto, o que nós fizemos foi:
1. Articular o Regime Fiscal Sustentável. Como? Trazendo de volta o planejamento para a política fiscal.
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O arcabouço, portanto, fica assim:
1. Primeiro, se estabelece uma visão de desenvolvimento de longo prazo para o País, com metas. Entra aí o planejamento.
2. Em seguida, uma trajetória para a dívida pública compatível com as metas de desenvolvimento é delineada.
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Evidentemente, a trajetória de endividamento prevê uma redução da dívida no médio prazo. Como se operacionaliza a meta de endividamento?
3. Aqui entra o instrumento. Qual o instrumento? Uma regra de crescimento para as despesas, ou, um Teto de Gastos. Mas, não o que temos.
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O Teto seria quadrienal -- para ser compatível com os ciclos políticos. Afinal, governo têm de poder traçar as metas de desenvolvimento do País, ou ajustá-las.
Além disso, propomos revisões periódicas dos gastos públicos, retirando os que deixaram de funcionar.
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As revisões periódicas de gastos, prática adotada por diversos países, reduz o desperdício do recurso público e melhora a eficiência alocativa. Elas são elemento fundamental.
Os detalhes das metas e regras devem ser elaborados por Lei Complementar.
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Ou seja, não há detalhamento na Constituição.
Contudo, nós excluímos da regra do Teto as despesas com programas de redução de pobreza. Por que? Porque essa é uma POLÍTICA DE ESTADO e não uma política de governo.
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Está aí o conteúdo de nossa PEC. Simples, porém profundo. Elaborado a partir de princípios para que se possa fazer o necessário para o desenvolvimento do País com responsabilidade fiscal, social, e ambiental.
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A CNN Brasil chama de “PEC do Estouro” a proposta que prevê ajuda para os que têm fome e precisam do Farmácia Popular.
Outras emissoras comparam o orçamento familiar ao público, metáfora, simples, conveniente, e errada.
Editoriais fazem terrorismo fiscal dia sim, outro também
Enquanto rola o besteirol e a desinformação, um grupo de mulheres especialistas em finanças públicas tenta atravessar o “debate” formulando propostas para uma nova âncora fiscal. O Teto atual não só ruiu, mas virou regra de contingenciamento.
Estamos sendo ouvidas?
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Sim, por quem importa. Quem importa? Vocês. A mídia tradicional é um caso perdido de ignorância e cacofonia, com exceções, é claro.
Hoje continuaremos a maratona Mulheres Debatem o Teto.
Detalhes virão mais tarde, mas enquanto isso, vocês podem ajudar atravessando os clichês.
Durante mais de 10 anos eu escrevi em jornais e revistas como colunista regular. Por 10 anos ininterruptos escrevi no Estadão. Mas, também passei uns meses na Folha, uns anos na Época, uns tempos na Exame, uns anos no O Globo a Mais e por aí vai...
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Perdi a conta do número de artigos publicados -- eu escrevo rápido e houve longos períodos em que escrevi ao menos duas colunas por semana. Sempre curti escrever, portanto sempre o fiz por prazer. Para mim, ver a coluna publicada nunca foi muito importante.
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A parte legal mesmo era sentar para escrever. Ao longo do tempo, fui perdendo esse prazer. Em parte, devido ao formato que se deve seguir em uma coluna de jornal. Há pouca liberdade para experimentar e brincar. Essa liberdade só encontrei no O Globo a Mais e na Época.
Esse texto é bastante didático para que se compreenda o tamanho da encrenca na discussão fiscal brasileira. Quem puder disponibilizá-lo aberto, será ótimo.
Não vou falar muito sobre o que está escrito porque a premissa é tecnocracia pura e não merece o tempo. Contudo, é preciso destacar dois pontos:
1. O texto constrói o argumento de que as bases do Teto de Gastos se foram com a pandemia (um dos autores foi formulador do Teto).
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Essa tese não se sustenta, posto que o Teto foi alterado pela primeira vez por meio da EC 102 de 2019. Em 2019, não tínhamos pandemia. E, o Teto havia sido desenhado para que 2019 fosse, na prática, seu primeiro ano de vigência.