O ano de 2022 foi muito dinâmico para as commodities agrícolas. Clima, guerra e economia impactaram os comportamentos dos mercados e dos preços.
Trago aqui alguns gráficos para tentar ilustrar um pouco disso.
No começo do ano, o milho seguia seu comportamento sazonal de preços. O 1º destaque no gráfico indica o início do conflito na Ucrânia. Apesar de forte volatilidade nos primeiros dias, o preço seguia a sazonalidade de alta.
O 2º destaque indica o momento do estabelecimento do acordo de escoamento de grãos. Vê-se um alívio nas tensões do mercado com uma queda acentuada nas cotações, porém ainda assim um movimento esperado, uma vez que os preços caminham para a sazonalidade de baixa nesse momento.
O 3º destaque é o que acredito ser o momento mais disruptivo do comportamento do milho em 2022. Pela sazonalidade, é quando deveria estar nas mínimas do ano. Porém, o clima causou uma forte redução na produção da Europa e impactou a produção e a logística dos EUA.
2) EXPORTAÇÕES - BR X EUA
A dificuldades logística nos EUA por conta dos baixos níveis do Rio Mississippi impôs um custo extra ao importador, favorecendo o milho brasileiro, que passou a ser muito mais competitivo. Em certo momento, a vantagem chegou a USD 60 / Ton.
Com isso, o Brasil registrou um recorde histórico de exportação de milho e os EUA, um atraso histórico no cumprimento de seu programa de exportação. Fechamos 2022 com mais de 43 mmt embarcadas, mas o lineup indica que podemos fechar o ano comercial com mais de 47 mmt.
3) RELAÇÃO TRIGO X MILHO
Milho e trigo competem entre si no mercado de alimentação animal. A relação por ponto de proteína é de aproximadamente 1,44, ou seja, a divisão da cotação do trigo pelo milho tem que dar mais de 1,44 para jogar a vantagem para o milho.
Vê-se que no 2º semestre do ano a vantagem foi do trigo, favorecido pelo recorde de produção na Rússia, Austrália e pela boa safra do Canadá.
As dificuldades logísticas nos EUA favoreceram as entregas domésticas, o que acabou aliviando as pressões negativas nos preços do milho.
4) NOLA X SANTOS
Esse gráfico mostra a diferença entre os preços do milho no Porto de New Orleans e no Porto de Santos. Vê-se que o Brasil esteve mais competitivo durante todo o 2º semestre, que é quando o mercado de milho brasileiro foca no exterior.
O auge da crise logística nos EUA foi nos meses de setembro e outubro, quando a vantagem do milho brasileiro foi maior. Apenas nesses dois meses o Brasil exportou 13 mmt, o que representa 63% de toda exportação de milho em 2021.
Essas dificuldades nos EUA aceleraram os processos de credenciamento de exportadores brasileiros para venderem milho à China. As exportações de milho para a China esse ano já representam 3,5% do total. Apenas nessa semana, 19,7% do lineup tem por destino a China.
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Ao se avaliar uma commodity é fundamental mapear quais são as outras commodities com as ela mantém correlação. Em termos simples, deve-se verificar quais são as commodities que, quando experimentam oscilações de preços, interferem nela.
Não apenas identificar as commodities, mas também é importante avaliar como ela se comporta diante das outras com as quais mantém correlação. A correlação nem sempre é positiva e quase nunca se manifesta na mesma proporção.
Alguns exemplos de commodities correlacionadas...
O petróleo mantém correlação com quase todas as agrícolas.
Como é base para fabricação de biodiesel, quando o preço do petróleo sobe, aumenta-se a margem para a produção do combustível, incentivando o refino. Dessa forma, demanda-se mais óleo de soja, que é apreciado.