Pensar a História Profile picture
Oct 7 36 tweets 13 min read Twitter logo Read on Twitter
Mapa mostrando o avanço israelense sobre as terras da Palestina ao longo dos anos. A criação do Estado de Israel em 1948, a partir de território desmembrado da Palestina, desencadeou uma série de conflitos que persistem há mais de 70 anos e já ceifaram milhares de vidas.

1/36 Image
Situada em uma encruzilhada estratégica entre a Ásia, a África e a Europa e cercada pelas civilizações do Mar Mediterrâneo e do Crescente Fértil, a região da Palestina é um território marcado por disputas desde a Antiguidade.

2/36 Image
Habitada por tribos semitas, nômades e indo-europeias e berço dos reinos de Samaria e Judá, a região foi controlada por muitos impérios ao longo da história. Assírios, babilônicos, persas, egípcios, helênicos e romanos se sucederam no domínio da Palestina.

3/36 Image
Após a Revolta de Barcoquebas e a expulsão dos judeus de Jerusalém, a região foi convertida na província romana de Síria Palestina e passou a ser progressivamente habitada por árabes. Cristianizada pelo Império Bizantino, ganhou de Constantinopla o status de "Terra Santa".

4/36 Image
Após a conquista árabe (634-640), a região foi islamizada e integrada aos califados muçulmanos. Foi governada pelos egípcios e cobiçada pelos cruzados até ser anexada pelo Império Otomano, que a controlou do século XVI até a Primeira Guerra Mundial.

5/36 Image
Por mais de 1.300 anos, a Palestina manteve-se habitada por uma maioria absoluta de muçulmanos. O perfil demográfico e religioso da região começou a se alterar no fim do século XIX, quando o sionismo ganhou força e passou a insuflar a imigração judia para a Palestina.

6/36 Image
O sionismo é um movimento ultraconservador que surgiu em reação ao processo de assimilacionismo, buscando preservar a "pureza" da cultura judaica. Seu principal articulador foi Theodor Herzl, autor de "O Estado Judeu" — obra basilar do movimento sionista.

7/36 Image
Herzl argumentava que o antissemitismo só seria resolvido quando os judeus dispersos pelo mundo se reunissem em um Estado independente. A Palestina tornou-se o local mais cobiçado para a instalação deste Estado judeu,...

8/36 Image
...justificado pela pregação mística (o regresso a uma suposta "terra prometida" para o "povo escolhido") e pelo revisionismo histórico (a concepção equivocada de que a Palestina seria "uma terra sem povo para um povo sem terra").

9/36 Image
A campanha pelo "lar dos judeus" na Palestina contou com forte apoio da burguesia ocidental. Isso porque Herzl assegurava que um Estado judeu serviria como um enclave da Europa no Oriente Médio. Em suas palavras, "uma sentinela avançada da civilização contra a barbárie".

10/36 Image
Criava-se, assim, um vínculo indissociável entre sionismo e imperialismo. O Estado judeu na Palestina garantiria ao Ocidente uma fortaleza para conter o avanço do nacionalismo árabe e dos movimentos anticoloniais/anti-imperialistas que estavam em expansão no Oriente Médio.

11/36 Image
A derrota do Império Otomano na 1ª Guerra forneceu as condições ideais para que o projeto avançasse, dando ao Reino Unido o controle da Palestina. Os Acordos de San Remo, que referendavam o mandato britânico, já mencionavam a criação do "lar nacional para o povo judeu".

12/36 Image
Rejeitando o projeto de Estado judeu, os palestinos organizaram uma série de insurreições, todas violentamente esmagadas. Ignorando a autodeterminação do povo palestino, o movimento sionista passou a promover a imigração clandestina de colonos judeus para a Palestina.

13/36 Image
Ao mesmo tempo, os sionistas financiaram a criação de grupos terroristas como o Irgun, Stern e Haganá, responsáveis por coordenar ações armadas e atentados contra os palestinos, visando intimidá-los e forçá-los a abandonarem suas propriedades e aldeias.

14/36 Image
A resistência internacional à campanha sionista seria completamente demovida após a revelação do Holocausto e das inúmeras atrocidades cometidas pela Alemanha nazista contra o povo judeu durante a Segunda Guerra Mundial.

15/36 Image
Em 1947, a Assembleia Geral da ONU aprovou a criação do Estado de Israel, que deveria partilhar o território com um Estado árabe. Conforme a resolução, Israel ficaria com 56,4% do território e o Estado palestino com 42,9%. Jerusalém seria administrada pela ONU.

16/36 Image
Em maio de 1948, os britânicos se retiraram da Palestina e o Estado de Israel foi oficialmente fundado. Contrariando a resolução da ONU, entretanto, Israel impediu a instalação de um Estado palestino, dando continuidade à política de colonização dos territórios árabes.

17/36 Image
Visando impor a criação do Estado palestino, os países da Liga Árabe declararam guerra a Israel. Apoiado por estadunidenses e europeus, Israel venceu a Guerra Árabe-Israelense e ampliou seu território, reduzindo a área palestina aos bolsões da Cisjordânia e Faixa de Gaza.

18/36 Image
Paralelamente ao conflito, Israel empreendeu um processo massivo de limpeza étnica, através da remoção compulsória da população árabe das terras palestinas. Foi o início do chamado êxodo palestino, ou "Nakba" ("A Catástrofe").

19/36 Image
Aproximadamente 800 mil palestinos foram expulsos de Israel (80% da população árabe do país até então). Além de expulsar os moradores, Israel destruiu cerca de 600 cidades palestinas, visando erradicar registros históricos árabes, e deu início à hebraização do território.

20/36 Image
Com isso, os palestinos, que eram a maioria em 15 dos 16 distritos de Israel, tornaram-se grupos minoritários em todo o país. Em 1964, os países da Liga Árabe criaram a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), movimento que visava restaurar a pátria palestina.

21/36 Image
Em 1967, após o Egito bloquear o acesso dos navios israelenses ao Canal de Suez, Israel lançou uma ofensiva militar contra as nações árabes, dando início à Guerra dos Seis Dias. Vitorioso, Israel ampliou ainda mais seu território, ocupando Sinai, Jerusalém e Cisjordânia.

22/36 Image
Em 1973, Egito, Síria e Iraque tentaram retomar os territórios ocupados, originando a Guerra do Yom Kippur. O apoio militar dos EUA a Israel motivou a União Soviética a entrar na batalha ao lado das nações árabes. Não obstante, a ONU conseguiu negociar um cessar-fogo.

23/36 Image
No ano seguinte, Yasser Arafat, presidente da OLP, fez um discurso histórico no plenário da ONU denunciando as sistemáticas violações das resoluções internacionais e dos direitos humanos do povo palestino cometidas por Israel.

24/36 Image
Apoiada pelos países socialistas, Movimento dos Países Não-Alinhados, Organização de Unidade Africana e Liga Árabe, a OLP obteve vitórias diplomáticas e crescente apoio internacional. Israel, entretanto, seguiu conduzindo operações militares contra aliados da Palestina.

25/36 Image
Entre 1978 e 1982, Israel realizou uma série de ataques ao Líbano, visando destruir bases da OLP. As operações deixaram dezenas de milhares de mortos e ensejaram os Massacres de Sabra e Shatila, cometidos por uma milícia maronita apoiada por soldados israelenses.

26/36 Image
Os palestinos responderam articulando uma série de levantes durante a Primeira Intifada. Em 1988, o Conselho Nacional da Palestina aprovou a declaração de independência do Estado da Palestina (atualmente reconhecido por 137 dos 193 países-membros da ONU).

27/36 Image
Em 1993, após o Acordo de Paz de Oslo, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) assumiu a gestão dos territórios da Faixa de Gaza e das áreas A e B da Cisjordânia. Israel, entretanto, não honrou os acordos e continuou expandindo os assentamentos em terras palestinas.

28/36 Image
O assassinato de 52 muçulmanos por terroristas israelenses durante o Massacre do Túmulo dos Patriarcas e a subsequente repressão brutal aos manifestantes palestinos, causando a morte de outras 19 pessoas, também minaram o apoio público dos árabes ao Acordo de Paz.

29/36 Image
Israel também frustrou as negociações de paz em Camp David ao se negar a devolver os territórios ocupados, originando uma nova onda de levantes populares palestinos (Segunda Intifada). Após a morte de Arafat, Mahmoud Abbas foi eleito presidente da ANP.

30/36 Image
Um conflito interno entre os palestinos, entretanto, ocasionou a ascensão da organização sunita Hamas, ligado à Irmandade Muçulmana, que logrou conquistar o controle da Faixa de Gaza. O discurso radical levou o Hamas vencer as eleições parlamentares da Palestina em 2006.

31/36 Image
Em resposta à eleição do Hamas, o governo israelense decretou em 2007 o bloqueio econômico e comercial da Faixa de Gaza — medida que continua em vigor até os dias de hoje, gerando grave desabastecimento de itens básicos e potencializando a crise humanitária na região.

32/36 Image
Com o fortalecimento da extrema-direita e dos partidos ultraortodoxos de Israel, a repressão aos palestinos tem se agravado. Desde 2012, o governo israelense conduz campanhas massivas de bombardeios aéreos contra alvos civis na Palestina.

33/36 Image
O governo israelense tem intensificado a campanha de expulsão dos palestinos de suas terras, encurralando-os em bolsões precários, sem acesso a água potável e serviços básicos, enquanto incentiva abertamente a radicalização da polícia e das Forças de Segurança de Israel.

34/36 Image
Ao que parece, Israel pretende levar os palestinos à situação de anomia como meio de obter o controle pleno sobre todo o território palestino - incluindo as valiosas jazidas de gás natural da Faixa de Gaza.

35/36 Image
Israel parece não ver nenhum dilema em utilizar a limpeza étnica como instrumento para chegar a esse fim. E a comunidade internacional, ao que parece, irá apenas testemunhar inerte o grotesco desenrolar de uma tragédia anunciada há décadas.

36/36 Image

• • •

Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh
 

Keep Current with Pensar a História

Pensar a História Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

PDF

Twitter may remove this content at anytime! Save it as PDF for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video
  1. Follow @ThreadReaderApp to mention us!

  2. From a Twitter thread mention us with a keyword "unroll"
@threadreaderapp unroll

Practice here first or read more on our help page!

More from @historia_pensar

Oct 7
Um compilado de algumas das atrocidades cometidas por Israel somente nesse ano de 2023, que não causaram sequer 0,01% da indignação da contraofensiva do Hamas.

Janeiro de 2023
🧶+👇 Image
Janeiro de 2023
🧶+👇 Image
Janeiro de 2023
🧶+👇 Image
Read 28 tweets
Oct 5
Há 234 anos, em 5 de outubro de 1789, ocorria a Marcha das Mulheres sobre Versalhes, um dos eventos mais significativos da Revolução Francesa.

1/22 Image
Apesar da situação caótica da França, submersa em crises econômicas e problemas sociais, a nobreza parecia alheia ao estado de coisas. A agitação social havia se agravado após a tomada da Bastilha.

2/22 Image
Os distúrbios despertaram na população um potente desejo de mudança e um forte ressentimento contra a aristocracia. Uma das pautas mais urgentes era a questão da comida. As camadas mais pobres da população tinham cada vez mais dificuldades para se alimentar.

3/22 Image
Read 22 tweets
Oct 4
Em matéria publicada ontem, o Estadão acusou Lula de ter atuado para liberar um empréstimo de US$ 1 bilhão para a Argentina "no fim de agosto", "às vésperas da eleição" primária, pra barrar o avanço de Milei. A afirmação é falsa. O empréstimo já havia sido aprovado em julho

1/11 Image
Na matéria assinada pela jornalista Vera Rosa, o jornal afirma textualmente que a ação de Lula teria ocorrido em "uma sexta-feira do fim de agosto", estabelecendo uma proximidade cronológica entre a liberação do empréstimo e a realização das eleições primárias na Argentina.

2/11 Image
É impossível que Lula tenha ligado pra Simone Tebet "numa sexta-feira do fim de agosto" para pressioná-la a liberar o empréstimo para a Argentina por um motivo muito simples: o empréstimo já tinha sido autorizado UM MÊS ANTES, em 28 de julho.

3/11 Image
Read 14 tweets
Oct 4
Há 30 anos, em 4 de outubro de 1993, a sede do Soviete Supremo — o antigo parlamento da Federação Russa — era bombardeada pelas forças armadas, por ordem do presidente russo Boris Yeltsin.

1/25 Image
O bombardeio foi o ápice da crise constitucional gerada pelas divergências entre o poder executivo e o parlamento russo acerca das reformas políticas e econômicas conduzidas após a dissolução da União Soviética, visando a transição do país para a economia de mercado.

2/25 Image
Contrariamente ao senso comum propalado pelo Ocidente, o processo de dissolução da União Soviética e de transição do sistema socialista para a economia de mercado foi extremamente atribulado, autoritário e conduzido sem a concordância de boa parte da população do país.

3/25 Image
Read 26 tweets
Oct 3
Há 55 anos, em 02/10/1968, estudantes da USP e do Mackenzie se enfrentavam em São Paulo durante a "Batalha da Maria Antônia". O embate foi deflagrado pela oposição de parte dos mackenzistas à ação de coleta de fundos organizada pelos uspianos em prol do 30º Congresso da UNE

1/24 Image
O confronto foi um reflexo do clima de agitação política e de cisão na classe estudantil durante a ditadura, com a esquerda representada por estudantes da USP, opositores do regime, e a direita representada por um grupo de estudantes reacionários do Mackenzie.

2/24 Image
Desde o golpe de 1964 e a subsequente instauração da ditadura militar, o movimento estudantil universitário se tornara um dos principais núcleos de oposição ao regime.

3/24 Image
Read 24 tweets
Oct 1
Há 132 anos, em 1º de outubro de 1891, nascia o sindicalista e militante comunista Minervino de Oliveira. Minervino foi o primeiro vereador negro eleito pelo Rio de Janeiro. Foi igualmente o primeiro operário negro e comunista a concorrer à presidência do Brasil.

1/25 Image
Filho de José de Oliveira e de Augusta Laura de Oliveira, Minervino nasceu no Rio de Janeiro três anos após a abolição da escravatura. Ainda criança, tornou-se aprendiz de tecelagem e trabalhou como lavrador e carvoeiro. Aos 14 anos, aprendeu o ofício de marmorista.

2/25 Image
Iniciou sua atuação política em 1911, participando das greves operárias, campanhas salariais e outras mobilizações trabalhistas. Nos anos 20, Minervino se filiou ao Partido Comunista do Brasil (antigo PCB) e ascendeu ao posto de dirigente sindical.

3/25 Image
Read 25 tweets

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3/month or $30/year) and get exclusive features!

Become Premium

Don't want to be a Premium member but still want to support us?

Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal

Or Donate anonymously using crypto!

Ethereum

0xfe58350B80634f60Fa6Dc149a72b4DFbc17D341E copy

Bitcoin

3ATGMxNzCUFzxpMCHL5sWSt4DVtS8UqXpi copy

Thank you for your support!

Follow Us on Twitter!

:(