Para cultivar café e cana-de-açúcar os colonizadores irrigaram o solo com sangue preto e colheram a fúria revoltosa dos senhores da guerra com rostos africanos. Em 1791 escravocratas encontraram a maior revolução humana do ocidente, a desolação dos racistas no Haiti
A história começa na ilha de Saint-Domingue, uma colônia Francesa responsável por 40% da produção de açúcar no mundo. Os olhos dos Impérios estão focados na pequena ilha que se mostrou extremamente rentável através de um governo brutalmente violento
A sociedade era formada por colonos brancos, mestiços filhos dos fazendeiros com negras escravizadas e os africanos escravizados. Os mestiços recebiam educação e formação militar, mas se limitavam aos trabalhos mais simples e não conseguiam ascender como a branquitude
Africanos eram escravizados em uma escala monstruosa e a maioria não passava de poucos anos no cativeiro, por isso cada vez mais eram sequestrados para trabalhar em São Domingos. Em números haviam: 35 mil brancos, 30 mil negros mestiços livres e mais de 430 mil escravizados
Os fazendeiros brancos sabiam que esse número era perigoso, mas sua ambição continuava alimentando o sistema escravocrata. Várias rebeliões explodiram, na década de 50 o líder Vodu, François Mackandal unificou uma resistência mas foi capturado e queimado na fogueira em 1758
Enquanto a insurreição crescia, negros mestiços e livres, reclamavam igualdade de direitos civis iguais aos brancos. O medo fez até Assembleia legislativa Francesa conceder alguns, mas fazendeiros brancos negaram todos. Foi o estopim vários deles se unirem às revoltas
A ferocidade do tratamento com os negros escravos continuou causando indignação, quando um um alto sacerdote do Vodu e líder quilombola Dutty Boukman liberou o sinal para uma revolta que reuniu 100 mil pessoas nos primeiros dias.
A face da violência e da bestialidade dos escravocratas se voltou contra eles, são vários relatos de pilhagem, tortura, estupros e mutilações. Uma vingança implacável sobre aqueles que causaram dores seculares nos negros escravizados e seus ancestrais
Uma boa parte dos ex-escravos tinha um passado como soldados africanos, enfurecidos eles executaram 4 mil pessoas brancas em menos de 2 meses de revolta. As plantações foram queimadas ou se tornavam novos acampamentos.
Logo um grande nome surgiu entre os negros, François-Dominique Toussaint Louverture. Inicialmente se aliou a espanha contra o controle francês da ilha, reunindo nomes importantes para a revolução. Quando a França sinalizou que iria abolir a escravidão ele quebrou o pacto
Passou a ser atacado de todos os lados, mas inseriu uma disciplina militar em suas tropas e se preocupou em restabelecer o desenvolvimento econômico da colônia de Saint-Domingue. Se comprometeu com a abolição total da escravidão e proferiu um famoso discurso:
“Quero que liberdade e igualdade reinen em St. Domingue. Eu estou trabalhando para que isso aconteça. Unam-se a nós, irmãos e lutemos conosco pela mesma causa. Seu servo muito humilde e obediente, Toussaint Louverture”
Acreditando nos ideais abolicionistas, manteve-se aliado dos Franceses enquanto os Britânicos enviaram tropas para conquistar a ilha. Centenas de milhares de jovens britânicos caíram perante a força da indignação e da luta pela liberdade em 5 anos de confronto
Inspirados pelos ideais da liberdade negra, o exército de Toussaint invadiu a vizinha Santo Domingo (atual República Dominicana) e libertou todos os negros da escravidão. Em 1801 se proclamou governador vitalício, com receio de Napoleão tentar restaurar a escravidão na colônia
Em resposta o Imperador Francês mandou 20 mil homens para restituir o poder sobre St. Domingue. No confronto Toussaint foi aprisionado, levando à sua morte anos depois, mas Liderados por Jean-Jacques Dessalines, eles resistiram até proclamarem sua independência em 1804
Naquele ano um novo massacre, liderado por Dessalines, aconteceu contra os colonos franceses e brancos que estavam no proclamado Haiti, mais de 5 mil pessoas foram mortas, a população branca foi praticamente erradicada do país.
O primeiro país, oriundo de uma revolta bem sucedida durante a escravidão se tornou o pesadelo das colônias. O medo do colapso da sociedade branca se tornou um demônio para os escravocratas, eles perceberam que tratar pessoas com brutalidade tinha seu preço
No Brasil, se tornou a motivação de vários abolicionistas uma integração gradual à sociedade antes que explodisse o ódio pelas ações dos brancos-brasileiros escravagistas. Em várias cidades o número de negros escravizados era muito superior aos livres.
Alguns líderes sabiam das consequências que a história poderia ter: O escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa - Luis Gama
Por isso ser abolicionista não significava ser anti-racista. A única constituição que aboliu a discriminação racial junto com a escravatura no seu território foi a Haitiana.
O Haiti sofreu bloqueios no comércio internacional e pagou indenizações à França por décadas. Transformando uma das maiores riquezas das Américas em um dos países mais pobres
Enquanto aqui, até hoje em nosso governo teme a união dos +56% de afro-brasileiros. Por isso dividiu a gente em cores e inventou nomes para afastar a identidade étnico-cultural.
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Quando os primeiros navegantes se depararam com pessoas negras nos séculos XVI eles as descreveram como "seres imundos e inferiores", muitas vezes relacionavam o mau cheiro à pele negra.
O mito racial que se consolidou nos séculos seguintes defendia uma total distinção das características físicas e mentais entre negros e brancos, mesmo no Brasil os intelectuais do início da República (até alguns abolicionistas) defendiam essa crença
"A Raça Megra no Brasil, por maiores que tenham sido seus incontestáveis serviços à nossa civilização... há de constituir sempre um dos fatores da nossa inferioridade como Povo" - Nina Rodrigues
As vezes me perguntam como eu consigo ter amigos de vários espectros políticos e a resposta está na realidade: minha família é assim, tem todo tipo de gente, de reacionário fã de milico à petista roxo.
Acho que essa dicotomia esquerda vs direita tem contornos mais definidos na internet e também nas capitais, porque no interior é tudo meio nublado e até mesmo candidatos da esquerda exibem um conservadorismo com pautas de "família tradicional" e armamentista 😐
É uma bagunça, que a gente tenta organizar distribuindo informação, conversando sobre assuntos que nem sempre conseguimos aqui nas redes sociais. Tenho um tio que é gado bolsonarista e esses dias tava concordando que a corrupção na polícia é um dos maiores problemas
Saí do painel da UFRJ inspirado por conhecer outras visões sobre #Afrofuturismo. Aliás é interessante perceber que a discussão partindo do pessoal da tecnologia pode ter contornos bem diferentes da arte, pois eles tentam materializar um imaginário afrofuturista em nossa realidade
Enquanto eu, como ficcionista, não me interesso em construir mundos possíveis, mas de fazer a jornada da exploração imaginativa, que pode até explicar uma essência científica, porém pretende extrapolar ela.
Hugo Gernsback, por exemplo, define o SCIFI como "Um romance cativante, entremeado de fatos científicos e uma visão profética"
Hugo dá nome a um dos principais prêmios do gênero, recebido pela mãe do Afrofuturismo, Octavia Butler com a obra Speech Sounds e Bloodchild
A grande substituição é uma teoria criada por supremacistas que teorizam sobre o genocídio branco através da miscigenação e da imigração em países Europeus. Ela foi citada pelo terrorista que matou 51 pessoas em um massacre em duas mesquitas na Nova Zelândia (2019)
"A crise de imigração em massa e níveis sub-reposicionários de fertilidade são um ataque contra o povo Europeu, que se não combatido, resultará na completa reposição racial e cultural do povo Europeu." - Trecho do Manifesto Terrorista
Esse tipo de propaganda é distribuída também por alguns grupos NeoNazistas no Brasil e seu pensamento é bastante compartilhado por membros da extrema-direita.
A abolição da escravatura não pode ser reduzida a uma história da Disney, onde os heróis são simplesmente reis e princesas. Diversos nomes ecoaram como o brado da liberdade, um deles eu conto aqui: Prudhome, o José do Patrocínio #13deMaio
Conhece a expressão "filho do padre", é assim que começa a saga do José. Filho de um vigário que engravidou Justina do Espírito Santo, uma menina de 15 anos, escravizada em Campos dos Goytacazes (RJ). Mesmo sem reconhecer o moleque, o mandou pra viver na sua fazenda
Viveu entre os negros escravizados e assistia de perto cada castigo imposto aos seus iguais. As cenas alimentaram sua alma com um sentimento que ainda não tinha nome, mas que podemos chamar hoje de "liberdade negra".
Criei uma série para contar as histórias dos grupos supremacistas brasileiros e personagens do submundo que agora estão se organizando graças aos sinais emitidos pelo governo Bolsonaro
Listei alguns dos principais episódios pra ficar por dentro dessa conversa
Começando pelos nazistas que estavam escondidos no país (e outros que não precisaram se esconder)