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Desde 2015 me informei melhor sobre o que é conservadorismo. Scruton, Burke, Kekes, Sowell são alguns nomes que estudei. Um amigo que estudou comigo virou conservador. Eu não. Continuei "laconicamente" liberal. E explico o porquê, depois de uma breve discussão terminológica.
A primeira coisa que tô presumindo é que você só está realmente aberto ao liberalismo e ao conservadorismo quando desistiu de achar boas respostas na cartilha batida da esquerda que quase todo mundo conhece: igualdade > liberdade. Revolução > evolução. Trabalhadores > patrões.
O liberalismo e o conservadorismo oferecem heurísticas mentais diferentes que vão se fazer presentes na maior parte quando você tem informações imperfeitas para apontar para a melhor solução, o que em política é a maior parte do tempo. A heurística do liberalismo é priorizar...
um valor, a liberdade, num universo de outros valores. Notem que é implausível que a liberdade sempre seja o valor mais importante em cada situação. É por isso que se trata de uma heurística: uma receita sujeita a erro mas que se espera que funcione na maior parte do tempo.
Aqui cabe a famosa analogia conservadora contra o liberalismo: a liberdade é um cavalo que a gente monta. A montaria nada diz sobre para onde devemos ir. Só defender que se tenha a montaria é insuficiente. E o conservadorismo supostamente ofereceria um norte.
A heurística conservadora é outra. Ela diz que, se você não vê razão para a existência de algum hábito, instituição ou crença, isso não significa que não existe razão nenhuma. Podem haver razões não articuladas pelos aderentes. As substituições dos inovadores para essas coisas...
...geralmente é coisa que vem da arrogância intelectual, da pressa de revolucionários. É isso que chamam de ceticismo político. Pois bem, agora eu preciso explicar por que a heurística liberal seria melhor que a heurística conservadora, as razões de eu rejeitar o conservadorismo.
Embora o conservadorismo e o liberalismo ambos resultem do iluminismo, o primeiro surgiu com uma reação de Burke aos erros da Revolução Francesa, e o segundo veio das especulações de Locke e posteriores. O conservadorismo na verdade é uma receita sobre o que não deve ser feito.
Por isso, não é realmente um norte para a montaria, mas uma cerca. "Não pise para além desta cerca com seu cavalo. Lá há dragões. Coisas terríveis vão acontecer." Essa cerca independe do terreno sendo cercado. Crenças absurdas podem ser protegidas por essa cerca.
E às vezes há dragões mesmo. Às vezes há comunismo cuspindo fogo, esperanças de engenharia social que ignoram a natureza humana. E às vezes dá em tragédia, sim.

No entanto, essa disponibilidade ao risco ecoa com um antigo conselho: sapere aude. Ouse saber. Lema do iluminismo.
Essa disponibilidade a correr riscos é característica de um ser cognoscente que busca ser livre. Sem riscos, a razão é um mero instrumento de manutenção de estruturas herdadas cuja justificação frequentemente já foi esquecida, se existente -- como quer a heurística conservadora.
Levar a razão às últimas consequências, abandonando as tradições se preciso (dentro da própria cabeça, não necessariamente recomendando isso à sociedade), é algo que lembra mais o liberalismo que o conservadorismo. O liberalismo é o filho favorito do Esclarecimento, portanto.
Isso não é o mesmo que xingar conservadores de burros ou de irracionais. Não é o caso, claramente, e há muitos conservadores mais racionais que muitos liberais.

Mas isso explica por que o tal ceticismo deles é apenas político e poucos deles são ateus ou agnósticos, por exemplo.
Para dar um exemplo, peguem o Caio Coppola, por exemplo. É um cara inteligente, jovem, racional. Na complexa rede de crenças dele, ele abandonou o ateísmo para abraçar um conservadorismo completo que vem com religião. E ele confessa que os motivos não foram racionais.
O fato de ele e outros adotarem uma "teologia do coração" (como dizia Bertrand Russell) prova o que falei: preferem a cerquinha segura, preferem não arriscar uma crença ousada como o ateísmo, e explicitamente confessam que, nesse assunto, largaram a "montaria" racional/liberal.
E é por isso, senhoras e senhores, que eu não posso ser um conservador por mais que critique a esquerda. Estou comprometido com o ideal do esclarecimento (e, portanto, liberdade) em todas as avenidas e vielas. Não abro exceções. Se não há que filosofar, há que filosofar.
Thread expandida, melhorada e publicada em blog.elivieira.com/conservadorism…
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