Recentemente o autor do personagem Doutrinador respostou um desenho do personagem socando o @LulaOficial e com um textão bosta lá falando sobre "roubo de trilhões". Isso gerou uma reação da editora Guará, que é intrinsecamente ligada ao personagem. Mas tem muito + nessa história+
Começo com quando o conheci, Fev de 2014 num evento bem pequeno no Rio no qual tivemos uma mesa de debate com mais autores. Eu ainda não havia lido, o cara era bem desconhecido na cena, mas sua HQ já estourava num facebook pré algorítimo e incendiada pelas manifestações de 2013 +
Seus números mostravam um trabalho diferenciado enquanto artista independente. Ele tava ali na humildade, com um livro impresso do próprio bolso que vendeu muito bem, direto pro seu público enorme do facebook. Independente da temática ou qualidade da obra +
2015 fiz uma arte pros extras do segundo livro do Doutrinador. O livro foi feito em parceira com ninguém menos que Marcelo Yuka! Fora toda a bela biografia, Yuka concorreu como vice do @MarceloFreixo à prefeitura do Rio. Nem li, pq fui assaltado voltando do lançamento +
Na SIQ UFRJ em 2016 anunciei que estava começando Teocrasília, uma distopia politico religiosa. Ele esteve no evento e veio me dar umas dicas, contou experiências de processos que sofreu especialmente de pastores e se ofereceu para me orientar se desse merda. Achei bem legal +
Até aí, era um cara fazendo o corre dele de forma eficiente, não tem porque não respeitar um trabalho tão bem feito. Acho o quadrinho fraco, nem pela temática, mas enquanto quadrinho mesmo, narrativa, composição, cenário, enfim, mas aí veio uma nova fase dessa história +
Antes um parenteses: Sempre nos tratamos bem, como bons colegas de profissão. Ele sempre falou que curtia muito meu trabalho, eu sempre admirei o quão eficiente ele era em tornar seu trabalho bem sucedido, isso sendo um outsider da cena, sem tapinhas nas costas +
E com boa parte dos artistas de fora do Rio torcendo o nariz. Eu não trato ninguém mal porque o trabalho não é excelente, acho que a princípio todos devem ser respeitados, a não ser quando passam a desrespeitar e ser escrotos, essas coisas. Ele tava sempre na humildade +
Continuando: Meses depois foi anunciada a adaptação cinematográfica. Nessa altura eu já havia refletido melhor sobre a problemática da mensagem que o personagem passa, tamo falando de 2016, ano do Golpe +
A postura "isentona" se mostrou um veneno pro país, abrindo espaço pra pior espécie possível, e o "nem esquerda nem direita" é basicamente o que o autor sempre pregou nas redes. Quando falava algo, era sempre sobre PT, nunca contra a direita. Mas vai ter um plot twist, vai lendo+
A grande dificuldade das HQs no Brasil, no meu ver, é a falta de público leitor. A conta não fecha e a gente não consegue evoluir essa cena pra um mercado real que sustente autores, mesmo com várias publicações de ótimo nível +
A promessa de 3 adaptações no mesmo ano (Tungstênio, Turma da Mônica Laços e Doutrinador) soava muito interessante, talvez trouxesse uma atenção pras HQs nacionais venderem + e até abrir portas para + obras serem adaptadas. Então independente de qualquer coisa, vi com bons olhos+
A galera da cena carioca de forma geral tinha uma boa relação com ele, não lembro de ninguém pelando saco não, mas existia respeito. Por cena carioca, estou excluindo os doidões de super-heróis bizarros +
Os poucos de fora do Rio que tiveram contato com o material foram dando uns toques sobre o personagem ter uma veia fascista evidente, eu tava com o alerta bem ligado, mas vamos lá, as coisas não são tão simples num cenário estranho como o carioca. Político e quadrinístico +
A cena de HQ do Rio tem melhorado e se unido mais, publicações com um nível melhor, ta rolando uma evolução, trocas entre os autores, encontros e etc. Ele sempre se manteve distante, aparecendo em eventos pra promover o filme e foi no lançamento do Teocrasília +
Fui convidado pro lançamento do filme, que ficou bem diferente da HQ. Enquanto filme de ação nacional achei bem válido, e muitas questões problemáticas foram amortizadas por interferência do estúdio. Inclusive virou série também. Um case de sucesso! +
Acontece que esse sucesso só foi possível porque ele arrumou um sócio. O cara vinha do áudio visual, comprou o barulho e mostrou o caminho das pedras, fundaram juntos uma editora, a Guará, que inicialmente cresceu em torno do Doutrinador +
Logo a editora se mostrou bem intencionada, querendo criar um universo próprio, com vários personagens e temáticas diferentes, contratando artistas para produzir estilo EUA. Desenhistas, arte-finalistas, coloristas pagos por página. Coisa muito rara por aqui. Respeitei +
O novo sócio tinha um know how com editais, investidores e etc, a Guará ganhou sede fisica. A ideia era fazer tiragens altas, distribuir nas bancas com um preço acessível. Se não me engano era uma HQ colorida de 96 pg por 10 reais. +
Queriam adaptar esses personagens para audiovisual tb, e pelo menos uma HQ sei que já tava vendida pra adaptar. Fui no lançamento, inclusive fui convidado pelo autor para expor meu trabalho lá também, foi uma noite legal que reuniu vários quadrinistas cariocas. +
Acabei não comprando a HQ, eu tava doidão e esqueci, confesso. Tive feedbacks pouco surpreendentes sobre a qualidade do material. Mas não é sobre isso que se trata aqui, sigamos que agora a cobra vai fumar... +
Quase todos que piraram muito com o Doutrinador, HQ ou filme, são reaças ou reaças enrustidos. A Guará começou a envolver diversos artistas na produção desse material novo, tanto artistas quanto o sócio pessoas bem intencionadas e com alinhamento de ideias mais à esquerda +
O autor cada vez mais se mostrando o típico "mas e o PT", e ainda vendo toda uma cena artística esquerdista (com orgulho) que o ignora completamente, criticas e resenhas demolidoras sobre o Doutrinador na mídia especializada, enquanto apenas a reaçada endeusa a sua obra +
Lembra que eu falei lá no início que me chamava atenção a pegada empreendedora de fazer seu trabalho prosperar? Acontece que a extrema direita venceu a eleição ano passado e tá reformulando um monte de entidade e cargo no país, e a cultura é um setor estratégico +
O lixo despreparado e incompetente que ocupa os cargos mais importantes do governo hoje em dia estão doidos atrás de material artístico alinhado com suas ideias distorcidas, paranoicas, olavistas e psicóticas. Advinha quem enxergou esse filão? CONTINUA NA PRÓXIMA THREAD +
Galera, eu escrevi no busão de Ribeirão Preto pra São Paulo, roteando internet do celular mas acabou bateria do notebook. Os próximos capítulos disso envolvem algumas pessoas que preciso conversar antes de continuar pra entender a melhor abordagem. Talvez não hoje, mas em breve
A intenção era fazer tudo hoje, tanto que fui no impulso no meio de uma viagem, mas tem questões aí que tem que ser avaliadas com mais cuidado. Peço um cadinho de calma só. Abraços!
Galera, a thread continuou hoje, só pra vocês ficarem ligados
