Thread by @arielpalacios

E agora, em nossa sessão ¨O Atacadão do thread¨....

6 anos de Maduradas e Conspiranoias

Em março de 2013 Nicolás Maduro debutava na presidência da Venezuela após o óbito oficial do tenente-coronel Hugo Chávez.

De forma quase simultânea os esfíncteres venezuelanos ficaram no olho do furacão de uma crise de escassez de papel higiênico que vinha crescendo de forma exponencial desde o ano anterior.

O desabastecimento do produto gerava filas nos supermercados e farmácias, enquanto que o governo negava a escassez. Maduro e seu entourage diziam que acabariam com a suposta "campanha na mídia" que a “oligarquia” estaria fazendo sobre o visceral tópico.

O chavismo sustentava que as retaguardas venezuelanas não careciam de papel-higiênico.

Depois, sem poder esconder o desabastecimento com discursos, Maduro passou a acusar a oposição e os empresários de estocar e provocar o sumiço do insumo para tentar derrubar Maduro por ordens de Washington.

Nunca na História da Humanidade o papel higiênico tinha estado presente nas teorias de conspiração de um governo. A nova batalha do chavismo estava sendo travada nos toilletes venezuelanos.

Mas dias depois Maduro deu uma nova guinada discursiva, deixando de acusar a oposição e os EUA e passou a alegar que a escassez se devia a um motivo positivo: segundo ele, os venezuelanos estavam comendo mais.

Logo, requeriam - momentos depois – os costumeiros movimentos peristálticos, fato que implicavam em maior demanda de papel higiênico.

Assim começava o governo Maduro, pleno em teorias da conspiração e situações sui generis que deixariam o realismo fantástico de Gabriel García Márquez no chinelo.

Maduro ultrapassaria em criatividade (e paranoia) o próprio Chávez, que em seus anos no poder havia afirmado que a vida em Marte havia acabado devido ao capitalismo...

...além de declarar que as banheiras de hidromassagem eram inimigas da Revolução Bolivariana, entre outras afirmações do gênero.

Desta forma, os venezuelanos, além de padecer uma hiper-inflação sem precedentes no país, a anulação do Parlamento de maioria opositora, a repressão às manifestações, a prisão de opositores, a censura, entre outras situações,....

.....devem conviver há meia década com o que eles chamam de “Maduradas”, isto é, as bizarrices do “Filho de Chávez” ou “Apóstolo de Chávez”, tal como o próprio Maduro se auto-denomina em público.

Em meio à crise dos esfíncteres Maduro fez uma revelação inédita de caráter ornitológico-celestial ao declarar em público que um “passarinho pequenininho” havia aparecido ....

....enquanto rezava em uma capela no estado de Barinas (a região natal de Chávez) e que esse penáceo era o próprio fundador do chavismo reencarnado.

O pássaro havia lhe dado sua bênção, dizendo-lhe “Hoje começa a batalha. Caminhem rumo à vitória!”. Desta forma, a ornitologia – em uma combinação inédita com o espiritismo – entrou pela primeira vez na política mundial.

Maduro passaria do âmbito ornitológico para o pecuário no ano passado durante sua visita à Expo Venezuela Produção Soberana, quando conversou com um grupo de vacas.

Maduro passaria do âmbito ornitológico para o pecuário no ano passado durante sua visita à Expo Venezuela Produção Soberana, quando conversou com um grupo de vacas.

Maduro solicitou o apoio aos quadrúpedes, pedindo seu voto para as eleições da Assembleia Constituinte. O líder chavista disse aos bovinos que precisava de representantes da área rural para q fizessem parte da assembleia que elaborará a nova carta magna. As vacas não responderam

Ainda na área animal, em setembro passado Maduro anunciou o “Plano Coelho”, que implica na entrega de coelhos vivos para que as pessoas criem em suas casas para que procriem e parte deles sirvam de comida.

No entanto, esta forma para tentar acabar com a crise alimentícia teve problemas, admitiu Maduro. Segundo ele, devido à “dominação cultural yankee” as pessoas não haviam comido os coelhos.

Elas haviam colocado lacinhos e os mimavam: viraram “pets”. Acontece que os primos de Pernalonga não fazem parte da culinária local (e de forma geral, de toda a área de Caribe).

Maduro esbravejou: “isso é coisa da cultura americana, na qual nos ensinaram que o coelho é bonitinho”.

O discurso promete entrar para a antologia da TV mundial, pois pela 1ª vez na História, um presidente dedicou tempo em rede nacional para explicar a vida reprodutiva leporina,...

....pois o líder chavista relatou a milhões de telespectadores que “os coelhos se reproduzem como coelhos!”

Em 2016 Maduro havia anunciado outro plano, no qual recomendava aos venezuelanos reservassem um espaço de um metro de altura por 60 centímetros de largura onde caberiam 3 galinhas em um apartamento.

Maduro disse que ele e sua esposa Cília Flores, montaram na residência presidencial um poleiro com 50 patrióticas galinhas.

Nos momentos nos quais os problemas da realidade não conseguem ser camuflados com planos peculiares, Maduro recorre às teorias da conspiração, às efemérides chavistas e à exaltação de Chávez em tom de necromania (a obsessão pelos corpos dos mortos).

Uma delas foi quando Maduro confessou em público que – volta e meia – passava noites dormindo ao lado do caixão de Chávez no Quartel da Montanha, em Caracas.

Em várias ocasiões Maduro citou a onipresença do finado bolivariano na geografia venezuelana, ao afirmar que via sempre o perfil de Chávez nas montanhas ao redor de Caracas.

Além disso, sustentou que a face de Chávez havia aparecido a um grupo de operários na parede de rocha do túnel do metrô.

A transformação de Chávez em mito religioso teve um upgrade quando Maduro e os integrantes do partido governista PSUV rezaram a oração “Chávez nosso”, nos moldes do “Pai Nosso” católico,...

E, como é tradicional para qualquer espécie de criação de lenda religiosa, é sine qua non a implantação de datas para celebrar o representante sobrenatural.

Para isso Maduro criou vários feriados. Mas o principal é o dia 8 de dezembro seria o “Dia da Lealdade e de Amor a Hugo Chávez”. Segundo ele, a data serve para “exaltar o pensamento bolivariano...

... para declarar “o amor infinito” do povo venezuelano pelo “Gigante Eterno” (Chávez) e para “honrar com ação e pensamento” o líder bolivariano.

Outra forma que Maduro encontrou para exaltar a figura de Chávez é uma longa lista de denominações: “Gigante Eterno”,“Comandante”, “Comandante supremo”, “Líder eterno”,“Messias dos esquecidos”, “Presidente eterno dos humildes”, “Chávez das vitórias”, “Presidente invicto” e “Pai”.

Em 2017 o líder chavista voltou a falar no espírito de Chávez, que em uma nova visita a Maduro, deixou de lado a forma de um passarinho para voltar transmutado em uma borboleta. Ou seja, da versão ornitológica para a lepidóptera.

Breve intermezzo para um chá

Em 2014 Maduro decidiu turbinar a exaltação da imagem do falecido líder bolivariano com a fundação do Instituto de Altos Estudos do Pensamento do Comandante Hugo Chávez (IAEPCHC).

Ele afirmou que o objetivo da entidade é “de aprofundar o estudo e a difusão do pensamento e dos valores” do Comandante Supremo.

O organismo tem a função de compilar as ideias de Chávez (para isso os integrantes do IAEPCHC precisam ouvir e transcrever dezenas de milhares de horas de discursos do falecido bolivariano) ....

....e fiscalizar se as novas estátuas de Chávez estão “corretas” ou não.

Uma das criações burocráticas de Maduro foi o “Vice-ministério da Suprema Felicidade Social”.

O organismo (ele nunca explicou porque não tinha o status de “Ministério”) tinha a função de coordenar as diversas missões sociais do governo e “gerar mais felicidade”.

Ainda na área da alegria, o presidente também anunciou que decretava a antecipação do início do período do Natal para o dia 1 de novembro, o “Natal-cedo”.

O argumento: “trazer mais felicidade para o povo”. Uso disso: “combater a violência e a amargura cantando cânticos natalinos venezuelanos”.

Segundo o presidente bolivariano, o “Natal-cedo” é a melhor vacina para qualquer pessoa que queira armar distúrbios e violência. Como antídoto a esses problemas, Maduro disse que nada melhor do que um “cântico natalino”.

Falando em violência, ao longo destes anos Maduro encontrou os mais variados argumentos para explicar a crescente onda de roubos, sequestros e assassinatos na Venezuela.

Ao sair de uma visita a uma escola, declarou que o Pokemon Go é parte das “realidades virtuais geradas pelo capitalismo que geram violência”.

Segundo ele, o Pokemon Go está vinculado à morte. Maduro - que diz que fala com o defunto presidente Chávez - criticou as pessoas que vivem no mundo virtual, da não-realidade.

Segundo o bolivariano, que organiza frequentes paradas militares, os jovens estão sendo submetidos à cultura da violência...

Ainda no âmbito da violência, Maduro protagonizou cenas de aracnofobia ao criticar Peter Parker - outro ser imaginário - isto é, o desenho do jornalista que torna-se o Homem Aranha.

Maduro contou que ele e sua mulher haviam assistido o terceiro filme da série, admitindo que ficou até as quatro da manhã assistindo as aventuras sem desgrudar da TV, fato que depois o assustou.

Segundo Maduro, um jovem que pega uma arma de 9 milímetros e comete um crime na Venezuela tem “no cérebro milhares de horas de filmes nos quais matam pessoas”.

Maduro também embalou o cotidiano venezuelano com as mais variadas teorias da conspiração, batizadas ironicamente pelos venezuelanos de “conspiranoias” (mix de teorias da conspiração e paranoias).

Esta thread continua amanhã....

Cenas do próximo capítulo:
- O abscesso
- Disk-sabotagem
- Guerra dos Pernis....

Continuando com nossa sessão ¨O Atacadão do thread¨ sobre as ¨Maduradas¨, vamos para a parte 2:

Uma delas, em 2017, foi a “Guerra do Pão”, nome da ofensiva que Maduro deflagrou contra os padeiros, aos quais acusou de não vender pão com o objetivo de desestabilizar o governo.

Os padeiros retrucaram, afirmando que eles não tem farinha para fazer os pães e recordam que é o próprio governo que se encarrega de importar farinha de trigo (e não eles).

Maduro ordenou a intervenção de diversas padarias e a prisão de vários padeiros.

Outra teoria da conspiração teve como alvo os secadores de cabelo, transformados em novos inimigos da Revolução Bolivariana, ...

..já que Maduro argumentou que esses aparelhos gastavam demasiada eletricidade, prejudicando o abastecimento de energia.

Segundo Maduro as mulheres ficam mais bonitas quando se penteiam com os dedos e o cabelo seca de forma “natural”.

O líder chavista também criticou o uso do ferro de passar e da máquina de lavar roupa.

Poucos meses depois de chegar ao poder Maduro anunciou que criaria uma comissão mundial de cientistas para investigar suas suspeitas de que Chávez teria sido assassinado ...

..por jagunços internacionais que teriam “inoculado” o câncer que teve. No entanto, apesar do anúncio feito em tom retumbante, comissão alguma foi formada.

Mas, com esta frase é que os venezuelanos ficaram sabendo oficialmente que Chávez havia tido câncer, pois até então o governo falava em um “abscesso” no defunto líder.

Em setembro de 2013 Maduro lançou uma linha especial, o “0800-Sabotaje” (0800-Sabotagem), o 0-800-72268253, número de telefone para que os venezuelanos que desconfiassem de algo ou de alguém...

...telefonassem e acusassem a pessoa suspeita de realizar atos contra a Revolução Bolivariana. Maduro disse que se tratava de um “centro de informação”

..para que as pessoas possam fazer as acusações em “tempo real” sobre as “sabotagens” do “fascismo”.

Em matéria de conjurações, Maduro propiciou vasto material:

...uma vez anunciou que grupos estrangeiros e nativos estavam preparando a desestabilização de seu governo com um plano que tinha o retumbante nome de “Plano Colapso Total”.

Dois meses depois que havia derrotado o plano e detido os conspiradores, embora nunca tenha mostrado os supostos jagunços, que, segundo Maduro, pretendiam assassiná-lo com veneno.

Dentro das “conspiranoias” Maduro deflagrou no final do ano passado a “Guerra dos Pernis”, denominação sarcástica que a população aplicou à crise gerada pela falta dos pernis prometidos por Maduro.

O líder chavista colocou a culpa da ausência desse produto no governo de Portugal, afirmando “dois imensos barcos” levariam os pernis dos portos portugueses até a Venezuela.

Mas indicou que estes, devido a uma conspiração dos Estados Unidos, deram meia volta no Atlântico e não entregaram o suíno produto.

Esta desculpa tinha duas falhas: uma era que dias antes Maduro disto havia dito em discurso que os pernis já haviam sido desembarcados na Venezuela e que em poucos dias seriam distribuídos.

O outro problema é que a Guerra do Pernil gerou curto-circuitos com Lisboa, onde restava um dos poucos governos que ainda tinham uma relação mais ou menos boa com Maduro.

O governo português respondeu indignado, afirmando que não fez “sabotagem” das exportações, até porque não lida com isso, pois é assunto de empresas privadas.

Na sequência a empresa lusitana Raporal declarou que na realidade, quem deve algo neste assunto é Maduro, que ainda não pagou o envio de pernis feitos à Venezuela em 2016.

Neste novo cenário Maduro mudou de discurso e os pernis mudaram de nacionalidade, bem com o os culpados:

...em vez de lusitanos, tornaram-se colombianos. Isto é, em vez de Lisboa a culpa passou a ser do governo em Bogotá.

Enquanto a população está cada vez mais magra, devido à fome, Maduro está cada vez mais roliço. Chubby. Cicciotto.
Maduro gerou grande polêmica quando, durante uma de suas longas dissertações em rede nacional de TV, passou a palavra a um assessor...

...e acreditando que a câmera não o estava enfocando enquanto o outro falava, Maduro virou para o lado, e de uma gaveta, tirou um quitute típico da hispano-américa, uma empanada,

..na qual fincou os dentes com vontade. De uma só mordida Maduro comeu metade.

Devido ao “empanada-gate”, o Ministro da Comunicação e Informação, Ernesto Villegas, encarregado da transmissão dos discursos de Maduro, foi removido de posto e relocado no pouco influente Ministério da Cultura.

Em abril de 2014 Maduro lançou um boné de beisebol – o esporte nacional da Venezuela – que vinha com o valor agregado de um bigode postiço (idêntico ao seu).

Pela TV mostrou o funcionamento do “boné-bigode” (“la gorra del bigote”) descolando o bigode do boné e colocando-o em cima da sua própria pilosidade sobre o lábio superior.

“Este é o bigode da revolução!”, declarou.

O boné foi distribuído entre os militantes com o objetivo de se tornar o novo símbolo do chavismo, já que todos os seus simpatizantes (homens imberbes ou mulheres) poderiam ter o bigode do líder.

O lançamento do boné-bigode foi feito horas depois do anúncio de outra criação: o Ministério da Defesa Mundial da Venezuela.

Apesar do título, que parece filme de ficção científica para a defesa planetária contra a invasão de aliens, tratava-se de um novo organismo estatal destinado a rebater as notícias que circulam no mundo sobre os fatos na Venezuela e que o governo considera negativos.

Em 2016, o ex-presidente do Uruguai – e ex-líder guerrilheiro – José Mujica declarou: “Tenho grande respeito por Maduro, mas isso não exime que lhe diga que está louco...louco como uma cabra!”.

A metáfora caprina é usada no mundo hispano-falante para indicar que alguém está doido de pedra.