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*Thread sobre método científico*

Devido ao debate que teve entre economistas ortodoxos e heterodoxos me senti no direito de escrever essa pequena (ou não) thread.
Vi muita gente que não entendia o pensamento ‘a priori’ dizendo que não era um método, ou era uma forma de teoria apenas argumentativa, como se isso invalidasse as ideias.
Utilizarei o pensamento kantiano para explicar e motivo desse ser um debate muito importante e fazer algumas considerações, não sou economista e nem entendo da área, mas pela discussão ser basicamente sobre epistemologia julgo ter conhecimento suficiente para escrever um pouco.
Primeiramente, para entender melhor o tema, é justo falar um pouco sobre o debate entre empiristas e racionalistas e o papel de Kant nesse debate.
No prefácio do ‘Crítica da Razão Pura’ Kant deixa bem claro que a sua pretensão no livro é fazer uma defesa da metafísica, +
mas não de uma metafísica qualquer, ele procura romper com o antigo pensamento e procura novos horizontes.
Toda a discussão entre dogmáticos (racionalistas) e empiristas se dá sobre o problema da causalidade, ou melhor dizendo, o conceito de causalidade, deste modo, Kant no ‘Crítica da Razão Prática’ nos traz que “O conceito de causa é um conceito que tem a necessidade da conexão da+
existência daquilo que é diverso” (CRPr) de forma que “se A é posto, eu reconheço que também tem de existir, necessariamente, algo totalmente diverso dele, B” (CRPr).
Percebam que a palavra necessidade é apresentada duas vezes, isto serve para demonstrar que uma causalidade é absoluta, ela precisa levar um fato A ao fato B sempre que o fato A acontecer, entretanto,+
Hume observa que não se pode inferir a causalidade de um acontecimento A levar a B, pois o conceito de causa deveria ser dado ‘a priori’ e as causa só se apresentam a partir da experiência, Hume conclui então que+
o próprio conceito de causa é falacioso e nós apenas criamos o hábito de acreditar que a se A logo B.
Kant denomina tal pensamento de ‘ceticismo’ e “segundo tais princípios nós nunca podemos inferir uma consequência a partir de determinações dadas das coisas, segundo sua existência,+
[...] mas apenas esperar, como de costume e segundo a regra da imaginação, casos semelhantes, não sendo jamais segura” (CRPr).
Segundo Sally Sedgwick “Kant foi completamente persuadido pelo argumento de Hume” ou seja “um juízo empírico (derivado da experiência, ou derivado a posteriori), ele não pode ser conhecido como universal ou necessário”. (FMC: Uma chave de leitura.)
E aqui podemos já fechar a problemática do método científico puro, ele sempre lida com a imprecisão da experiência, nunca pode ser dado por universal, apenas por uma generalização (universalidade por comparação).
Mas parar por aqui seria insuficiente para demonstrar a profundidade da questão.
Kant procura resolver essa questão na sua CRP, onde argumenta que existem 4 tipos de juízos, os sintéticos, os analíticos, os a priori e os a posteriori, vamos brevemente ver esses conceitos.
Juízos analíticos: São dados pelo princípio da identidade, onde “o predicado ‘B’ pertence ao sujeito ‘A’ como algo que já está contido […] neste conceito”, exemplo clássico desse juízo é ‘A = A’, este juízo só é dado a priori, pois independe da experiência para sua formulação.
Juízos sintéticos: São dados pelo princípio da causalidade, onde “‘B’ se localiza inteiramente fora do conceito de ‘A’, mesmo estando em conexão com aquele”, esta conexão se dá pela causalidade, exemplo: fumar causa câncer, este juízo obviamente não é absoluto,+
mas apenas uma generalização por comparação, não é uma necessidade que todos que fumem tenham câncer.
Juízos a priori: São todos aqueles juízos que independem da experiência.

Juízos a posteriori: São todos aqueles que dependem da experiência para serem formulados.
Kant nos diz que, todos os juízos analíticos são a priori e todos os juízos a posteriori são sintéticos, mas ele diz que a chave para a resolução do problema da causalidade está nos juízos sintéticos a priori,+
pois estes poderiam nos oferecer uma causalidade, pois são sintéticos, e uma universalidade, pois são a priori.
Estabelecendo este pensamento Kant conclui que no cerne de toda ciência natural estão contidos princípios que são juízos sintéticos a priori, e ele nos traz o exemplo da matemática, quando falamos ‘2 + 3 = 5’ percebemos que o conceito de 2 e 3 não estão contido no conceito de 5,+
são objetos distintos, mas por uma causalidade a priori (dada nos conceitos de soma e igualdade) chegamos a essa conclusão lógica.
Diante de toda esta explicação podemos entender agora o problema do embate entre ortodoxos e heterodoxos, simples confusão dos objetos, o conhecimento puro e o conhecimento empírico não se excluem, são mútuos, Kant deixa isso extremamente claro ao dizer que:
“No que diz respeito ao tempo, portanto, nenhum conhecimento antecede em nós a experiência, e com esta começam todos.”, e em seguida ele diz: “Ainda, porém, que todo nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso surge ele apenas da experiência.”.
O fato é, os princípios puros são a forma causal que se deve enquadrar a experiência para se não cair em erros de causalidade, por exemplo: Muitos filósofos nasceram na Alemanha, a Alemanha é a terra da cerveja, portanto, beber cerveja te torna um bom filósofo.
Diante disso percebemos a imprecisão da discussão, o método científico é bom para determinadas coisas, o racionalismo é bom para outras, não se excluem, na verdade se unem, parafraseando Kant, os conhecimentos empíricos devem ser colocados sempre sobre a crítica da razão pura.
@_brunovinicius Obrigado por me lembrar <3
Caso alguém tenha algo a acrescentar ao corrigir, sinta-se a vontade.
Aah, deem RT ai. <3
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