Uma recente interlocução no Twitter revelou-me a precariedade da "consciência epistemológica" que prevalece nas redes sociais e ensejou as seguintes considerações: 
Opinião, cada um tem a sua. Esse fato já havia sido sublinhado na Antiguidade e ainda merece atenção. Uma opinião é, antes de tudo, uma crença. Jesus Cristo ressuscitou ao terceiro dia. O aumento da carga tributária reduz o crescimento do PIB.
As crenças soem acompanhar-se por justificativas tais como mysterium fidei ou modelo econométrico. Ocorre que a fé se manifesta por meio de cores e sabores múltiplos e os métodos quantitativos se prestam a toda sorte de usos e abusos,
de modo que a atividade intelectual fundamentada em opiniões forma um arquipélago no qual o antagonismo entre as ilhas é mais acerbo do que a controvérsia entre Big-Endians e Little-Endians.
Multicípite, a opinião é uma hidra que passa seu tempo entretida com a inconclusiva cacofonia de suas línguas adversárias.
A pretensão de que o conhecimento seja impessoal e universal exige que ultrapassemos a opinião, crença justificada não basta.
A pretensão de que o conhecimento seja impessoal e universal exige que ultrapassemos a opinião, crença justificada não basta.
Recorramos então a algum critério de verdade, deixando os casos ad hoc de Gettier para os cognoscenti. A compreensão do conhecimento como crença justificada e verdadeira atende à maioria das necessidades epistemológicas.
Se admitirmos a lógica clássica então o critério de verdade acrescentará um pacificador aspecto impositivo às contraditórias opiniões: sendo uma delas verdadeira, as demais serão falsas e somente ela será recepcionada pelo corpus cognoscendi.
Quid est veritas? A superação do problema do conhecimento passa pela inquirição de Pilatos. Abandonando a ousadia de respondê-la de modo terminativo e resignando-nos com uma aproximação que seja proveitosa, adotemos uma interpretação correspondentista,
destinando aos já citados cognoscenti a tarefa em sua totalidade. Assumindo todas as perdas da simplificação, diremos que uma proposição é verdadeira se, e somente se, ela corresponde ao fato que ela enuncia e o fato ocorre.
Fique claro que consideramos epistemologia e ontologia irremediavelmente emaranhadas.
Adiante. Atenhamo-nos a duas modalidades de critério de verdade. Se o objeto da proposição é formal então o critério será inferencial e se o objeto é natural então o critério será empírico.
Adiante. Atenhamo-nos a duas modalidades de critério de verdade. Se o objeto da proposição é formal então o critério será inferencial e se o objeto é natural então o critério será empírico.
As dificuldades surgem na aplicação dos critérios, particularmente no emprego de modelos formais de fenômenos naturais (estamos considerando os sociais como subconjunto dos naturais).
Muitas vezes se reivindica a validade de um resultado invocando o emprego da estatística sem esclarecer a validade empírica do modelo estatístico empregado.
O domínio de validade do modelo matemático de um fenômeno natural se restringe ao espaço das possíveis experiências a ele associadas. Um resultado atribuído fora desse espaço consiste em extrapolação especulativa,
uma vez que, para toda relação dada existem infinitas relações coincidentes num intervalo de seu domínio que são distintas fora desse intervalo. Ilustrando, as equações da Relatividade Geral não descrevem a gravidade nos elétrons da experiência da dupla fenda.
Ou seja, não basta dizer que um resultado foi obtido por um modelo validado, é preciso explicitar qual é o domínio de validade do referido modelo.
Concluindo, a distinção entre δόξα e ἐπιστήμη é feita desde Platão e permanece fundamental no emprego do conhecimento como recurso impessoal e universal, não devemos negligenciar cuidados e esforços no estabelecimento dessa distinção.
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