Thread by @apyus

Acho que a explicação vem de antes, vem da compreensão do que é a base de Jair Bolsonaro.

Há algumas respostas óbvias: religiosos, empresários, mercado financeiro, agronegócio, Forças Armadas, classe média, parte da mídia...

Mas todos esses termos generalizam um pouco.

Porque a base de Bolsonaro não é conservadora, no sentido de ser alguém prudente que aposta na boa conduta certo de que terá retorno no longo prazo.

É, na verdade, o ressentido que quer ainda hoje o reconhecimento que imagina merecer desde sempre.

Ou seja... Não é a Igreja Católica que há milênios acumula fortunas. É o templo evangélico que há décadas arranca migalhas dos mais necessitados.

Não é o varejista que se adaptou aos novos tempos preparando toda uma estrutura de entregas para fazer frente à concorrência estrangeira, mas aquele que precisa do ponto de venda ou não vende.

Não é o investidor que, calejado de outras crises, entende a necessidade de fazer apostas seguras. É a startup que fez fortuna com bitcoin, e cresceu apostando que o dólar de Dilma chegaria a 4 reais.

Não é o jornal centenário, é o blog lançado neste século. Não é a Rede Globo, é a Record, é a RedeTV.

Não é o agricultor que há décadas plantou a primeira semente. É o filho dele, que recebeu tudo pronto e discursou em cima de caminhões na greve dos caminhoneiros de 2018.

Não é o general famoso pela missão de paz no Haiti, esse foi demitido. É o general que só deixou o Comitê Olímpico no mês em que o presidente do COB foi preso.

Não é a classe média que paga um jantar caro quando o filho conclui o doutorado. É a classe média cujo filho diz no LinkedIn que concluiu o doutorado, mas segue devendo a apresentação da tese — eu sei, não faz qualquer sentido.

Enfim... Não são as formigas trabalhadoras, mas os gafanhotos barulhentos. São pessoas que, de tão imprudentes e impulsivas, se enxergaram em Bolsonaro. Vivem o hoje, não fazem ideia do que será o amanhã.

A ideia de parar por meses até que uma pandemia arrefeça há de ruir a base frágil que essa base construiu. Contra isso, vale até colocar a vida dos mais pobres e mais velhos em risco. Eles vivem do alto risco desde sempre.

E essa base pressiona.

Jair Bolsonaro adora repetir que só tem compromisso com o eleitor. Não tem. E sabe que depende da base que ele finge nem existir.

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