Eu esperava que Moro saísse em algum momento. Não esperava que saísse atirando. Por isso, escrevi ontem que a notícia era muito grave para o governo.
Mas o tamanho do estrago dependo do calibre da munição. O que ele soltou até agora foi muito fraco.
Mas o tamanho do estrago dependo do calibre da munição. O que ele soltou até agora foi muito fraco.
Creio que o fato de Moro ter precipitado o outro impeachment está fazendo as pessoas supervalorizem o evento de ontem. A analogia é óbvia e mexe com a imaginação. Porém, o contexto é inteiramente distinto.
O PT vinha de 14 anos de desgaste, forte crise econômica e era o centro..
O PT vinha de 14 anos de desgaste, forte crise econômica e era o centro..
... de uma investigação de corrupção bilionária. Bolsonaro tem um desgaste muito mais curto e uma militância empolgada. A acusação de interferência política é parecida com a acusação contra Trump de irregularidade na campanha. É suficiente para fazer um bafafá na imprensa, em...
... CPI, mas não para empurrar milhões de manifestantes para a rua. É abstrato demais.
A acusação de traição, por outro lado, é bem mais concreta. Os bolsonaristas sairão machucados, mas não desidratados. Ainda irão para a rua defender o presidente e xingarão Moro.
A acusação de traição, por outro lado, é bem mais concreta. Os bolsonaristas sairão machucados, mas não desidratados. Ainda irão para a rua defender o presidente e xingarão Moro.
Moro tem um peso simbólico forte entre bolsonaristas, mas vai perder esse peso progressivamente. Se ele for percebido estando ao mesmo lado de Lula defendendo o impeachment, vai acontecer a mesma coisa que aconteceu com Dória: irá murchar rapidamente.
Além disso, os brasileiros não têm estômago para outro impeachment. A memória do último está muito recente e as pessoas irão se lembrar que isso significa paralisar o país por um ano.
A oposição vai entender isso e vai pedir a renúncia. Mas eu não imagino Bolsonaro renunciando.
A oposição vai entender isso e vai pedir a renúncia. Mas eu não imagino Bolsonaro renunciando.
A única chance da oposição era se houvesse realmente um golpe militar. Os intervencionistas, nesse sentido, são o grupo bolsonarista mais tiro no pé possível.
Obviamente, se Moro estiver escondendo munição mais pesada, a coisa complica. Bolsonaro não vai ter a mesma facilidade que Trump teve ao contar com um sistema bipartidário. Ele terá que negociar com vários partidos para sobreviver, o que prejudicará a imagem dele.
Porém, acho mais fácil vislumbrar o congresso buscando (e alimentando esse desgaste), do que uma aliança entre Moro, Lula e Maia para forçar um impeachment. O alinhamento desses três pólos é destrutivo para cada um deles.
Além disso, Moro vai perder a posição privilegiada de membro da tecnocracia. No impeachment de Dilma, ele era o juiz que lutou contra a corrupção. Agora, ele é o ex-ministro que saiu fazendo acusações e vazando áudio na imprensa. O simbolismo está quebrando.
Outro fator é que Moro não é bom de retórica e sempre evitou tomar posições ideológicas claras. O brasileiro respeita a figura do técnico distante, mas agora tomou gosto por política. A figura de um burocrata morno não irá energizar as massas.
Creio que a oposição entende isso e agirá com urgência. As próximas semanas serão cruciais para a sobrevivência do governo.
Talvez hajam mais vazamentos no domingo seguidos de e pedidos de impeachment. Porém, se a coisa não progredir rapidamente, a vantagem é do status quo.
Talvez hajam mais vazamentos no domingo seguidos de e pedidos de impeachment. Porém, se a coisa não progredir rapidamente, a vantagem é do status quo.
