Thread by @lucasmafaldo

O debate sobre corona no país está preso em duas oposições impossíveis: liberar o comércio (o medo impedirá as pessoas de voltarem ao normal) e manter quarentena indefinidamente (as pessoas irão quebrar e enlouquecer antes disso).

Porém, o pior é que as opções concretas ....

... também não estão muito claras.

A meu ver, há duas estratégias possíveis: usar medidas duras o suficiente para extinguir o vírus em uma população ou usar medidas relativamente duras para evitar o colapso do sistema de saúde antes da imunidade de rebanho.

O problema é que o primeiro caminho exige um estado de bem estar social forte, uma população disciplinada, investimento em tecnologia e um governo disposto a limitar severamente as liberdades individuais.

Parece-me que isso só é possível em alguns poucos países. O resto vai...

... optar pela imunidade de rebanho.

Essa segunda opção também não é fácil (tanto pelo custo humano quanto pela dificuldade de implementação).

Nessa opção, o objetivo é "achatar a curva" -- o que significa aceitar que haverá mortes e doentes, mas não tanto ao ponto de...

... sobrecarregar o sistema.

Eu fui muito contra essa opção no começo porque o custo humano é altíssimo, mas não vejo como evitá-la agora. Os gargalhos nos testes tornam quase impossível voltar para a primeira opção.

Porém, com transmissão comunitária quase universal, eu...

... não vejo mais alternativas. Quase todo país seguirá esse caminho.

Mas esse caminho é dificílimo de implementar, porque significa que é preciso liberar e segurar a movimentação social aos poucos. "Distanciamento social" não é lockdown, quarentena, mas adaptação social.

Nessa estratégia, o objetivo não é reduzir drasticamente os infectados, mas impedir que o número suba demais. Logo, temos uma métrica bizarra: é preciso evitar a lotação das UTIs, mas também evitar que o sistema de saúde fique ocioso (já que significa que outras doenças estão...

... sendo ignoradas).

Essa estratégia é muito esquisita e pode levar a várias reaberturas parciais, seguidas de novos fechamentos, mas eu não vejo como evitá-la. Ela foi a estratégia inicial da Inglaterra que foi tão criticada por Taleb e cia.

Essa estratégia precisa também ser governada principalmente por fatores locais, já que o objetivo é preservar cada sistema de saúde.

Logo, as medidas de restrição de uma cidade rural, sem casos, deveriam ser bem diferentes das usadas nos centros urbanos.

Obviamente, esse planejamento local é quase impossível em alguns países. Logo, essas reaberturas e fechamentos devem ocorrer meio aleatoriamente, dependendo de rápidos movimentos na opinião pública.

Se for isso, o problema só vai se resolver mesmo quando sair a vacina.