Primeiro de Maio: tá certo o palanque amplíssimo? Sim, mas desde que seja para destituir Bolsonaro. E pouco importa se é o Primeiro de Maio e que, de fato, o dia dos trabalhadores (e não do trabalho!) não comportaria uma homenagem a figuras de centro-direita. Vejamos (1/10):
Bolsonaro não sai sem uma frente ampla e ela interessa sim de Maia e FHC a Lula e Ciro. Em um país em que Ciro mal consegue articular nada com Lula e vice-versa, isso é importante, porque dá sentido de urgência (2/10).
Evidentemente, o que a centro-direita fez nos últimos anos com os trabalhadores foi hediondo. Permitiu-se uma bisonha e agressiva reconfiguração do mundo do trabalho que está expondo MILHÕES DE TRABALHADORES PRECARIZADOS neste exato momento (3/10).
Contudo, Bolsonaro se tornou a figura pessoal a encarnar esse processo em uma aliança com o mercado que é sua maior força de curto prazo e maior fraqueza de longo prazo, como bem observou o Alexandre Vasilenkas (4/10).
O Primeiro Maio, de todo modo, reúne a militância e chama a atenção em algum grau, logo, é o que resta a uma agenda destituinte de um projeto de tiranete que sonha em encabeçar um regime de extrema-direita (5/10).
Nesse sentido, nem o projeto de FHC, nem de Maia, nem de Lula, nem de Ciro, nem do PC do B são possíveis. Nem os anseios mais radicais de liberação. A frente DESTITUINTE tem de ser ampla (6/10).
Isso é uma boa notícia, porque os movimentos de oposição a Bolsonaro são débeis e desencontrados. Inclusive, me assusta um fantasma que ronda discursos aqui e ali: deixar Bolsonaro sangrar e esperar por 2022 (7/10).
Essa história de "deixar sangrar" é uma tolice sem tamanho. Ou bem um presidente não deve ser retirado ou bem deve ser retirado. O "deixar sangrar" alude a uma ideia que Bolsonaro, ou qualquer um, só não vai ser tirado do poder não porque não deva, mas por prevaricação (8/10).
E tende, politicamente, a dar errado. Não é pollyanismo. É a realidade. Essa defesa em abstrato da autoridade presidencial não pode se confundir com passada de pano, muito menos com alguém perigoso como Bolsonaro (9/10).
O Brasil não é nem pode se tornar uma monarquia absolutista farsesca. Honremos os trabalhadores, cujo valor está escancarado agora, inobstante a peste, a fome e a guerra (10/10).
