Esta matéria dá a medida exata do quanto a esquerda está falhando nessa crise: 51% das pessoas de classe C, D e E perderam 50%+ de sua renda; ao invés de entenderem isto como um problema de desigualdade que demanda intervenção estatal para garantir-lhes
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condições de ficar em casa durante uma crise sanitária que ameaça suas vidas, muitas delas veem o discurso presidencial de que é preciso escolher entre defender-se do vírus e defender-se da pobreza como o único que leva em conta sua realidade e defende seus interesses.
É uma falha gigantesca que não se consiga chegar a estas pessoas para dizer: a escolha entre a vida e a economia só é necessária numa situação em que se tira do debate as alternativas que permitiriam às pessoas proteger suas vidas sem sofrer perdas econômicas, e aquilo que
deveríamos fazer a recusar o debate em termos de "a economia ou a vida" para exigir estas alternativas: renda básica pelo tempo que for preciso para fazer a curva de contágio baixar, suspensão da cobrança de alugueis e dívidas etc.
É uma falha de liderança e uma falha enorme de comunicação. Basta ver que a única vitória da sociedade civil neste período –– a aprovação da renda emergencial –– está sendo creditada na conta de um governo que não queria concedê-la e parece deliberadamente sabotar seu pagamento.
É desesperador: um governo que literalmente está dizendo que as pessoas precisam ir trabalhar sob risco de vida está ganhando popularidade entre os mais pobres porque não há um contraponto para oferecer a visão alternativa de uma situação em que esta escolha não seria necessária.
Para deixar claro, não estou minimizando o fato de que vozes ultraliberais têm muito mais espaço etc. Mas tampouco se pode esperar que o adversário resolva nos deixar jogar. É preciso encontrar meios de chegar nas pessoas apesar dos obstáculos, não esperar que estes desapareçam.
