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Vou aproveitar essa thread da @Debora_D_Diniz para fazer uma thread sobre algo que escrevi recentemente. O disparador era a pergunta: o momento é de radicalizar nossas posições ou dialogar com o centro para desarmar a polarização política? Resposta: o problema está mal posto.
Mal posto, primeiro, porque carece de conteúdo concreto. Radicalizar como? Em relação a quê? Dialogar sobre o quê? Em quais bases? Com qual centro? É este o tipo de questão que precisamos responder hoje, e é só em cima de respostas concretas que o problema pode ser discutido. >
Está mal posto, segundo, porque parece supor que sair da polarização envolveria tirar a média aritmética dos extremos representados no sistema político. Mas quando os extremos são o reformismo fraco do PT e a terraplanagem bolsonarista, o meio-termo está longe de ser bom.
O erro implícito aí é, terceiro, tratar centro e extremos como coordenadas que estão dadas, quando o objetivo da política é justamente transformar as coordenadas –– ou, como entendeu o ideólogo conservador Joseph Overton, fazer com que o centro se desloque em nossa direção.
É exatamente isso que a extrema direita tem sabido fazer, e não foi com “bom senso” ou meios-termos que eles ocuparam esse lugar. (Sobre Overton, falei numa palestra na Unisinos há uns anos atrás da qual o @CaioAlmendra recentemente me lembrou .)
Quarto, porque supõe que bom senso era o centro do debate político tal como este existia até alguns anos atrás, e que é a este centro que deveríamos voltar, contra extremos irreais.
O que este "realismo" não considera é que as condições materiais e políticas para aquele consenso deixaram de existir: não há retorno possível. O único caminho possível hoje é na direção de redefinir o centro, isto é, criar um novo consenso com outras forças e sobre outras bases.
(Novamente, foi a extrema direita quem entendeu isso primeiro, mas para propor um projeto que é sustentável apenas para os muito poucos.) Por último, o problema é mal posto porque, como @GretaThunberg tem mostrado, diante de questões como o aquecimento global ou
um futuro de necropolítica cada vez mais generalizada (a reversibilidade entre extrativismo e exterminismo), não há mais tempo ou espaço para soluções de compromisso. Ou diz-se um não definitivo à barbárie, ou não se está dizendo rigorosamente nada.
A este "não" ainda é preciso, sem dúvida, dar a forma concreta de programas, propostas, ações. Falta, sobretudo, construir uma base social para ele. Mas ou se faz isso ou não se faz nada: fingir que é possível voltar ao que se tinha é a posição menos realista a essa altura.
E claro, tudo isso é para dar uma última divulgada no texto que escrevi em resposta ao Bacurau do @kmendoncafilho brasil.elpais.com/brasil/2019/10…
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