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Esta oscilação de 9% para cima na aprovação do governo na região Norte é a ilustração perfeita do conceito de "alternativas infernais". Por hipótese, a pesquisa só chega aos habitantes das cidades da região. A maioria destes ou se beneficiam diretamente das queimadas >>
(são proprietários ou querem sê-los, estão integrados às cadeias produtivas extrativas ou pretendem estar), ou não são nem prejudicados nem beneficiados diretamente, mas legitimamente desejam serviços públicos, oportunidades econômicas –– isso que é codificado como “progresso”. >
Desde sempre, eles ouvem que a única maneira de conseguir estas coisas é através do “crescimento econômico”, e este último implica necessariamente a exploração comercial da floresta, a formação de latifúndios, a violência de fronteira etc. Só é possível ter x se também houver y.>
É essa naturalização de uma escolha ruim –– ou você tem y, que é ruim, ou você não tem x, o que também é ruim –– que Isabelle Stengers e Philippe Pignarre chamam de "alternativa infernal". Ela é intrínseca ao capitalismo e o modo como este mina a própria possibilidade da política
Mina a política, claro, porque retira a possibilidade de discutir as premissas do problema (porque as opções são apenas essas e não, por exemplo, acabar com os latifúndios da região) e faz as pessoas "escolherem" com a faca no pescoço. É "a bolsa ou a vida", em todos sentidos. >
Stengers e Pignarre ressaltam, contudo, que esta não é simplesmente uma "mentira" que o capitalismo conta para as pessoas; ela tem a ver com a distribuição objetiva de incentivos econômicos (e, digamos, "vitais") produzida pelo mercado. Ou seja: afirmar que as coisas >>
poderiam ser diferentes é importante, mas não suficiente para enfrentar estas alternativas infernais. Sem modificar esta distribuição objetiva de incentivos, você pode até convencer as pessoas de que existe esperança de um outro mundo –– mas esta não é para elas. Pq neste mundo,>
a escolha delas continuará sendo "a bolsa ou a vida". Desde o nascimento do capitalismo, os únicos caminhos encontrados para mexer nesta distribuição foram os movimentos sociais e a ação do Estado –– esta última frequentemente vindo estabilizar conquistas feitas pelos primeiros.
Isso significa, p. ex., impor limites à concentração de renda e de propriedade, de modo a manter sob controle a capacidade de poucos atores influírem nas escolhas de todos os outros. Significa, sobretudo, diminuir a coerção a que os indivíduos estão expostos. Se o capitalismo é >
capaz de nos fazer escolher coisas que são danosas para nós, é porque ele nos mantém sempre sob ameaça: ou você trabalha (e quem decide as condições em que você pode escolher trabalhar é o mercado), ou você não come. Se o capitalismo se tornou incompatível com a sobrevivência >
da espécie humana, é porque ele sempre vai para onde estão os melhores incentivos, e os melhores incentivos são sempre: mão-de-obra barata e natureza barata. Para que indivíduos normais deixem de ser cúmplices disso, é preciso libertá-los das alternativas infernais –– e isto >
só é possível dimuindo a coerção a que eles estão expostos. Logo: não há como separar a luta ambiental da luta pela ampliação dos direitos e da rede de segurança social que protege os trabalhadores. Quem acha que aquecimento global é "luxo", lamento dizer, não está entendendo.
Quem entende isso muito bem, aliás, é o grande capital. Como bem disse @NaomiAKlein, se eles consideram a luta ambiental a maior ameaça ao status quo hoje, não é porque sejam paranoicos ou estúpidos: é porque estão prestando atenção.
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