Miguel Trauco ganhou destaque na mídia nos últimos dias comentando sua passagem pelo Flamengo. Segundo ele, “entrava, dava uma ou duas assistências e no jogo seguinte ia para o banco. Notavam mais meus erros do que o que eu poderia oferecer.” 
Ele tem razão, mas só em parte. Algumas críticas foram pesadas demais e mal direcionadas. Muita gente cobrava mais raça, mas não era isso que faltava ao peruano.
Logo em sua estreia, um belo resumo: duas assistências, um gol e muitas falhas defensivas.
Logo em sua estreia, um belo resumo: duas assistências, um gol e muitas falhas defensivas.
Todos sempre reconheceram seu valor com a bola no pé.
De fato, com sete chances criadas e duas assistências a cada dez jogos disputados, Trauco ajudava bastante lá na frente. O problema, é claro, sempre foi lá atrás.
De fato, com sete chances criadas e duas assistências a cada dez jogos disputados, Trauco ajudava bastante lá na frente. O problema, é claro, sempre foi lá atrás.
Ele disse, inclusive, que não tinha chances por não ser brasileiro. Curiosamente, o treinador que mais demorou a usá-lo foi o estrangeiro Rueda. Já contratado pelo Flamengo, o colombiano viu Trauco cometer um pênalti e depois ser expulso na derrota por 2x0 para o Atlético-MG.
Rueda usou chegou a usar Pará na lateral esquerda em diversos jogos, inclusive na semifinal da Copa do Brasil (aquela da jogadaça do Berrío) e na final contra o Cruzeiro. Em ambas, Trauco foi opção no banco.
Dois meses e meio depois, na final da Sul-americana contra o Independiente, Trauco foi titular e teve mais uma atuação característica na argentina: deu uma assistência e levou um baile.
A forma como o time se defendia com Rueda realmente deixava os laterais muito expostos. Havia um motivo tático para uma atuação tão complicada. Mas Trauco não conseguia dar segurança de um jeito ou de outro.
mundorubronegro.com/flamengo/indep…
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A maioria diz que ele deveria jogar como ala num esquema com três zagueiros. De fato, Trauco nunca foi muito rápido e uma cobertura atrás poderia favorecê-lo.
Filipe Luís, por exemplo, tb não é rápido, mas compensa com ótimo posicionamento. Aí está o X da questão.
O maior problema de Trauco nunca foi — como dizem por aí — subir demais e não retornar a tempo. A questão era de posicionamento e noção de espaço mesmo.
O maior problema de Trauco nunca foi — como dizem por aí — subir demais e não retornar a tempo. A questão era de posicionamento e noção de espaço mesmo.
O melhor exemplo talvez seja o gol de Lucas, do Fluminense. Trauco deu azar na bola rebatida, mas ao sair para o combate, deixou um latifúndio às suas costas.
O problema aqui é mais profundo. Trauco nem percebeu a possibilidade de Lucas aproveitar o espaço vazio. A questão aqui é que Trauco só olha a bola. Sempre.
E quem só olha a bola sabe onde ela está, mas nunca sabe para onde ela vai.
E quem só olha a bola sabe onde ela está, mas nunca sabe para onde ela vai.
Por isso, Trauco tomava bola nas costas mesmo posicionado na linha de defesa.
Esse problema se desdobra em vários. Primeiro, era simplesmente envolvido ou abandonava sua posição para fazer uma cobertura ou combate, deixando espaço nas costas.
Esse problema se desdobra em vários. Primeiro, era simplesmente envolvido ou abandonava sua posição para fazer uma cobertura ou combate, deixando espaço nas costas.
Segundo, um problema crônico em cruzamentos e bolas longas. Com 1,69m é natural que ele perca disputas pelo alto. Mas Trauco sempre perdia a referência do adversário, que conseguia se desgrudar.
Rafinha, por exemplo, é só 3cm mais alto que o peruano, mas tem um posicionamento perfeito nessas jogadas.
Na próxima vez que ele entrar em campo, repare como ele nunca leva o lançamento longo nas costas e sempre fecha bem o segundo pau.
Na próxima vez que ele entrar em campo, repare como ele nunca leva o lançamento longo nas costas e sempre fecha bem o segundo pau.
Por fim, tinha uma dificuldade estranha de acompanhar as jogadas até o fim, deixando os adversários livres para rebotes e bolas cruzadas na frente do gol. Mbappé adorava!
No Fla de Jorge Jesus, os quatro homens da linha defensiva precisam se movimentar como um bloco uniforme, precisam ter a capacidade de ler a jogada o tempo todo e observar o espaço à sua frente e às costas, assim como a bola e os companheiros, para manter a linha sempre ajustada.
O maior problema de Trauco sempre foi justamente o controle do espaço, a visão global do jogo que baseia a tomada de decisão.
Tudo isso poderia ser corrigido lá atrás com muito trabalho dentro e fora de campo. Seria interessante ver o que JJ seria capaz de fazer nesse sentido.
Tudo isso poderia ser corrigido lá atrás com muito trabalho dentro e fora de campo. Seria interessante ver o que JJ seria capaz de fazer nesse sentido.
Um problema menor, mas ainda mais difícil de corrigir é a técnica de defesa em si. Bote, jogo de corpo, bloqueio…
A posição de lateral é uma das menos valorizadas, mas uma das mais complexas porque é o jogador que exerce mais funções. Defensivamente, precisa saber controlar o espaço, dar bote, fechar a área, acompanhar a linha, fazer cobertura, vigiar as costas, proteger o zagueiro...
No Brasil, há a ideia errada de que laterais só podem ser descritos por dois adjetivos: são ofensivos ou defensivos. Sabem atacar ou sabem defender. Os mais talentosos na frente sempre são chamados de “avenidas”, enquanto os mais sólidos atrás são “perebas”
Muita gente usa Marcelo como ponto de referência para Trauco. O lateral do Real apoia muito, precisa de cobertura constante e tem sim as suas falhas defensivas. Mas tem uma baita noção de espaço e erra pouco no posicionamento. Caso contrário, não teria chegado onde chegou.
Há alguns anos, muitos rubro-negros injustiçaram Léo Moura e Juan. Por produzirem tanto na frente (e jogarem com uma defesa tão bagunçada), eram sempre criticados defensivamente. Mas ambos tinham ótima noção de posicionamento e não cometiam nenhum dos erros listado acima.
Jorge talvez tenha sido o caso mais interessante, com metade da torcida o considerando um craque no ataque a outra metade um gênio na defesa. O fato é que ele era simplesmente bom nos dois aspectos, como um ótimo lateral deve ser.
O próprio Filipe Luís, ao chegar no Flamengo, surpreendeu muita gente que achava que ele era “defensivo”, em vez de técnico, calmo e extremamente inteligente, adjetivos que descreveriam muito melhor o seu estilo de jogo.
A nossa escola brasileira sempre foi a que mais valorizou a posição. Tivemos verdadeiros craques vestindo as camisas 2 e 6 Brasil afora. Mas os melhores sempre foram muito equilibrados e justamente por isso eram tão importantes.
A palavra-chave aqui é essa: equilíbrio
A palavra-chave aqui é essa: equilíbrio
Trauco foi útil ao Flamengo e merece respeito. Não faltou garra ou dedicação. Por outro lado, como a entrevista recente mostrou, talvez tenha faltado autocrítica e uma busca mais ativa por soluções. Problemas não faltavam.
Merecia mais chances? Talvez. Poderia ser mais útil em outras posições ou em outros esquemas que levassem em conta suas dificuldades defensivas? Provavelmente.
Foi injustiçado? Sinceramente acho que não.
Foi injustiçado? Sinceramente acho que não.
No fim das contas, Trauco é simplesmente um jogador desequilibrado. Tem talento de sobra para parte do jogo e falhas profundas em outras partes. Talvez não devesse ser lateral, ou talvez simplesmente seja um cara para brilhar em um futebol de nível um pouco mais baixo mesmo...
PS: me chamaram a atenção de que a fala dele que está circulando por aí foi mal interpretada. Aquele famoso telefone sem fio da polêmica: alguém traduziu mal (por desentendimento ou maldade) e todo mundo copiou.
Aparentemente ele estava falando de um treinador específico.
Aparentemente ele estava falando de um treinador específico.
De qualquer forma, a ideia aqui não é criticar a fala em si. Só quis pegar o assunto que estava circulando e trazer para um lado mais técnico, com uma análise mais complexa da posição de lateral
Fica o alerta pra gente ficar sempre de olhos abertos com essas falsas polêmicas...
Fica o alerta pra gente ficar sempre de olhos abertos com essas falsas polêmicas...
