Nós estamos divididos. A história recente do Brasil, de 2013 para cá, levanta inúmeras interpretações.
Cada momento dela.
Junho de 13 foi de direita ou de esquerda?
Qual o papel dos black blocs?
A destituição de Dilma ocorreu por quê?
Foi impeachment ou golpe?
O que diz sobre o PSDB o questionamento do resultado da eleição de 2014?
Qual o papel da Lava Jato — o de Justiça ou o de justiceira?
A conversa de Temer e Joesley nos porões do Jaburu é uma confissão de crime?
Michel Temer abriu a caixa de Pandora ao fazer a intervenção militar na Segurança do Rio?
Mas algo 70% dos brasileiros temos em comum: a reprovação de Jair Bolsonaro na presidência.
Vamos transformar isso em números.
Hoje ele tem aproximadamente o apoio de 30%.
A perda dos eleitores iniciais foi até maior. Mas ele ganhou apoio novo dos que receberam o auxílio emergencial de R$ 600.
Assim, pessoas que elegeram Collor, tb votaram em Lula e em Bolsonaro. É movimento pendular.
Um deputado que passou toda a vida no Baixo Clero e no Centrão vestiu esse manto? Incrível, mas foi.
Muitos de vcs estão convictos de que há inúmeros culpados — incluindo a nós, jornalistas.
Sei, também, que entre as pessoas com quem vcs conversam há convicções cristalizadas a respeito de muitas das respostas às perguntas acima.
Conversamos cada vez mais com aqueles com quem concordamos e, cada vez menos, com os que não concordamos.
E muitas vezes nutrimos um desprezo particular por quem tem posições antagônicas às nossas.
Podemos ir além. É um governo de extrema-direita, e governos incapazes de conciliação são muito raros na história brasileira
É um governo autoritário. É um governo que põe a democracia em risco
Esta não é a natureza brasileira. É um governo anti-brasileiro.
Ainda veremos os números desta tragédia. Mas é um governo genocida.
Jair Bolsonaro é uma ameaça à democracia brasileira. Nenhum presidente da Nova República ameaçou o regime. Bolsonaro o ameaça.
Dilma tinha 9% de ótimo e bom quando o impeachment se tornou politicamente viável. Collor, 11%. Com 30% a seu favor, Bolsonaro está estável.
Chamar quem apoia Jair Bolsonaro de fascista faz com que as pessoas entrem na defensiva.
Sim, há neofascistas e protofascistas entre os que apoiam o presidente. São uma minoria, neointegralistas, os tais 300 e quetais.
Até lá, a linguagem que usamos conta.
Mas não chama ninguém para o diálogo.
Este é o momento em que uma frente ampla se impõe como necessária. O nós contra eles só atrapalha
As palavras que usamos determinam a receptividade ao diálogo