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Essa #BioThread vai ser diferente.

Estou um tanto ausente por aqui, devido a algo um pouco comum a MUITO #CientistaDeTwitter, e tem se agravado nessa pandemia: Conviver com a depressão e ansiedade.

Conheça um pouco mais o que enfrentamos diariamente para produzir Ciência.
Não estou querendo reforçar o estereótipo de Cientista maluco que a grande mídia veicula e reforça a muito tempo. Mas quem é Cientista sabe que além de ter que lidar com as problemáticas de seu estudo, ainda tem que enfrentar uma série de desafios pra manter o equilíbrio mental.
Eu poderia dar muitos exemplos com nomes muito conhecidos, como Ludwig Van Beethoven e Edgar Allan Poe, que sofriam, ambos, de transtorno bipolar.

Mas eu vou trazer outro exemplo mais próximo, e que "hoje" posso dizer que conheço muito bem: Eu.
Em 2018, aos 28 anos, eu iniciei psicoterapia, pois eu estava no penúltimo ano do doutorado, e com meu pai lutando contra o câncer de pulmão, vindo o mesmo a falecer poucos meses depois.
Fui diagnosticado com transtorno de humor, dentro do espectro bipolar, além de depressão e ansiedade, e depois disso, eu iniciei um tratamento com medicamentos para estes transtornos, que foram muito importantes para que eu pudesse concluir meu doutorado, sem surtar.
Eu não me envergonho em divulgar isso, e, inclusive, acredito que é muito importante, justamente por conta de eu só ter demorado para buscar tratamento, por conta de um preconceito enorme que sustenta uma imagem de fraqueza, ou derrota, quando alguém busca se tratar.
Isso tudo, pessoal, é por conta da Ciência no Brasil, e no mundo, ser vista como a nobre fonte de pesquisas que tem de se mover por amor e resiliência, sem haver sequer preocupação por parte do governo, ou mesmo pela sociedade.
Quem vive no meio científico sabe dos prazos apertados, das noites mal dormidas (quando conseguimos dormir), sem contar os inúmeros casos de assédio moral (e muitas das vezes sexuais) que estudantes de pós-graduação tem que enfrentar.
A luta para manter um currículo "recheado" quase nunca é acompanhada por um terapeuta, e com isso muitas pessoas sofrem e adquirem traumas que carregam por muito tempo, e muitas vezes tentam os transmitir a alunos ou outras pessoas próximas.
Existe uma síndrome muito conhecida pelos estudantes de pós-graduação, "síndrome de burnout", que nada mais é do que uma pessoa que chegou a um nível altissimo de estresse e exaustão mental proveniente de períodos intensos de estudos e/ou análises em suas teses e dissertações.
Já imaginaram quantas pessoas madrugam nas universidades porque não podem parar seus experimentos?

Ou ainda quem não tem internet (nem computador) em casa, e precisa usar a estrutura da Universidade ou Laboratório para conseguir atender os prazos dos programas de pós.
Aí ainda tem outro ponto, se você for mulher e estiver fazendo doutorado, além do assédio sexual, você pode ainda sofrer da síndrome do impostor, em que a pessoa sempre inferioriza suas conquistas e seus méritos, se achando uma fraude.
Você imagina o quão difícil é, no caso dos meus estudos, ter que passar meses coletando dados sobre escamas, medidas de indivíduos, dissecando e preparando peças anatômicas, aprendendo a realizar bancada de genética, aprendendo a mexer em programas complexos >>

(tem mais...)
>> estudando em trabalhos antigos e outros com matemática densa, aprendendo sobre teorias amplas sobre temas diversos??

E mesmo tendo que fazer tudo isso, você ainda tem de ouvir algo do tipo: "Ué... Mas você só estuda?!".
Imagina a dificuldade que é passar por todos esses desafios citados acima com a mente sã...

... agora tenta imaginar enfrentar tudo isso sem conseguir dormir, ou tentando se sabotar, ou simplesmente travando, e não conseguindo produzir absolutamente nada!

Imaginou?
Essa é a realidade de milhares de doutorandos, mestrandos e graduandos no Brasil, bem como de muitos pesquisadores também.

Como é que a gente pode ter Ciência de qualidade se ninguém se preocupa de fato com quem produz ciência?
Pra você que não conhece os bastidores da Divulgação Científica, saiba que a maioria de nós lemos vários artigos, e trechos de livros, pra poder embasar cada #BioThread que postamos.

Pra essa aqui mesmo eu li matérias e artigos sobre transtornos mentais na academia científica.
Eu sempre falo em investir em Ciência, e isso não tem SÓ a ver com cobrar o governo que não incentiva os cientistas e instituições de pesquisa no Brasil.

Também tem a ver com mudar a forma "nobre" e "feudal" que a Ciência é tratada por dentro e por fora, no Brasil e no mundo.
Além disso, vale ressaltar algo...

NÃO INFERIORIZE UM CIENTISTA PRETO E NÃO TENTE DIMINUIR MULHERES CIENTISTAS!

Isso é muito importante, pois os rótulos ferem e causam danos muito maiores do os que você poderia imaginar sobre a sua brincadeirinha de mau gosto.
Quem estiver sofrendo nesse período de caos, eu desejo muita força pra enfrentar tudo isso. E se ficar mal, BUSQUE AJUDA!

A todos que me seguem e acompanham por aqui, eu vos garanto que retorno em breve com #BioThread nova!

VALORIZE SEMPRE A CIÊNCIA E OS CIENTISTAS!!!
+INFO:

O doutorado é prejudicial à saúde mental - El País
brasil.elpais.com/brasil/2018/03…
Distúrbios na academia - Revista Pesquisa FAPESP
revistapesquisa.fapesp.br/2017/12/28/dis…
Meurer & Costa (2020). Eis o melhor e o pior de mim: fenômeno impostor e comportamento acadêmico na área de negócios. Rev. contab. finanças. 31, 83.
doi.org/10.1590/1808-0…
Levecque, K. et al. (2017). Work organization and mental health problems in PhD students. Research Policy, 46(4), 868-879.
ciencias.ulisboa.pt/sites/default/…
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