Sobre o tal editorial do Estadão, ele reforça o que se sabe há algum tempo. O sentimento contra Lula é profundo, orgânico; contra Bolsonaro, é fruto das circunstâncias. Os donos do jornal odeiam (e temem) Lula, mas até gostariam de ter gostado de Bolsie: ele é que não deixou.
No mais, o Estadão é um jornal de espírito conservador, embora tenha algumas editorias mais progressistas. Conservador, mesmo: teme qualquer mudança no status quo, e é isso que Bolsonaro virou, com sua disposição fascista e reacionária. A seu modo, o editorial é coerente, sim.
Por isso que, pelo prisma editorialista, a "escolha muito difícil" do Estadão fazia sentido: era um dilema entre "revoluções" (notem as aspas). Na visão dos donos do Estadão, não era uma escolha entre democracia e barbárie, mas entre dois polos que queriam mudar o status quo.
Quero defender o Estadão de sua tristemente histórica "escolha muito difícil"? Jamais. O negócio é entender o que o jornal é, e qual Brasil busca: uma desigualdade pacífica, do rico elegante e do pobre cordial. Bolsonaro se mostra grotesco, mas não queria transferir renda.
(sempre frisando que isso tudo é visão de VEÍCULO, de EMPRESA - ou seja, dos proprietários do jornal. não é nada incomum que editorias progressistas existam em jornais conservadores; exemplos são inúmeros. a vontade dos donos muitas vezes pesa menos do que parece nas redações.)
