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Uma longa história a ser escrita é a do imperialismo de facções da USP sobre outros quadros brasileiros. O capítulo mais traumático talvez seja, a meu ver, o da antropologia (que, dentre outras coisas, fez a caveira de Freyre e apagou Rondon).

Veja-se que em meados do século...
passado a Universidade da Bahia (que passava por um processo de unificação de faculdades e depois federalização) tinha figuras como Thales de Azevedo e Vivaldo Costa Lima, que estavam bem inseridos na pesquisa mundial: dialogavam com Ruth Landes, Pierre Verger, Roger Bastide.
Nina Rodrigues, maranhense da Escola de Medicina aberta aqui por D. João VI (no mesmo prédio dos jesuítas expulsos por Pombal), resolveu etnografar terreiros de candomblé por conta própria, e foi traduzido para o francês e é bibliografia relevante.
Falar dessas coisas de negro na Bahia é meio que feijão com arroz. Mas o interessante é que o primeiro livro de Thales de Azevedo tem o título "Gaúchos". Ele morou um tempo no RS e começou a escrever sobre os costumes desse núcleo cultural brasileiro, e fez entusiasmadas...
palestras sobre isso. Esse opúsculo eu não li, mas sei dessas coisas porque constam na abertura de Italianos e Gaúchos, obra mais tardia, que trata dos gaúchos descendentes de italianos, começando pelas suas causas: a miséria na Itália e a política brasileira do Império.
Resulta que lá havia uma política fundiária onde os camponeses não podiam ser donos de nada, sofriam de pelagra e comiam carne umas 4 vezes por ano, quando conseguiam caçar passarinho. A de início Itália proibia a emigração, e depois passou a proibir a emigração paga por outrem.
Enquanto isso, camponeses idealizavam a América por causa da democracia dos EUA (um experimento utópico para a época) e das experiências de Garibaldi no RS. Do lado de lá, isso; do lado de cá, fazendeiros que não podiam comprar pretos, e aí saíam comprado branco.
O tratamento dado pelos fazendeiros paulistas aos imigrantes foi tão ruim, que a Prússia proibiu a emigração para o Brasil; depois, deixaria a proibição válida apenas para São Paulo.
Eu acho que o sumiço de Thales de Azevedo se deve em grande parte a isto. Afinal, os italianos...
estavam debaixo do nariz de Florestan, lá em São Paulo. Para repetir que o Brasil se divide entre pobres-negros-escravos e ricos-brancos-senhores, só ignorando o complexo fenômeno da imigração de camponeses italianos miseráveis, e da substituição de mão de obra escrava por...
mão de obra livre (que pode inclusive morrer de fome sem dar grandes prejuízos).
De resto, penso que há uma grande dose de racismo. Exótico é sempre o negro, nunca o branco. O branco pode se enfiar no mato, fazer sincretismo, criar um dialeto medievaloide acaboclado...
que a única coisa digna de estudo vai ser o dialeto.
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