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O brutal assassinato de George Floyd e as manifestações nos EUA não são fatos isolados, muitos negros já morreram nas mãos de policiais brancos. Pior: muitos policiais foram inocentados. Vamos falar um pouco da história de revoltas como a que acontece hoje. Segue o fio +
As fotos que ilustram esse primeiro tweet são de 1965 em Watts, Los Angeles, e 1967 em Detroit. Essas duas aqui são em 1980, Miami e 1992, Los Angeles. #VidasNegrasImportam
Esses quatro grandes levantes negros nos EUA marcaram a história recente daquele país. Cada um desses movimentos mostra a revolta do povo negro norte-americano, as mazelas do sistema policial e penal e da desigualdade. Assim como hoje, Minneapolis, 2020.
A Encyclopedia of American Race Riots é uma boa fonte de pesquisa sobre o tema. Tem aqui: tiny.cc/kkl4pz Foi publicada em 2007 por W. Rucker e J. Upton. Os autores apresentam uma cronologia desses levantes negros nos EUA, sendo o primeiro notificado em julho de 1863.
Pega o fone aí que hoje não tem recorte de jornal, a gente legendou alguns vídeos pra mostrar. Mas atenção: eles devem ser observados pelas imagens que mostram, nos dando uma ideia do que aconteceu no período, e principalmente pelas narrativas sendo formadas sobre os eventos.
O primeiro com essas características foi em 1965, em Watts, comunidade negra de Los Angeles, quando policiais abordaram arbitrariamente dois irmãos. Malcom X, um dos mais importantes líderes do movimento negro norte-americano, havia sido assassinado a tiros alguns meses antes.
Esse vídeo foi produzido pela NBC para o programa Voices of the Civil Rights Movement. A narração é do advogado e ativista dos direitos civis, D'Army Bailey. O vídeo resume a história dos dias tensos de conflito.
Entre os anos de 1929 e 1967 a Universal Studios produziu um noticiário exibido nos cinemas, antes dos filmes, o Universal Newsreel. Este foi o filme exibido na semana dos eventos.
Apenas dois anos depois, uma série de tumultos tomou conta da cidade de Detroit. Na madrugada quente de 23 julho de 1967, a polícia da cidade resolveu fazer uma batida em um bar sem licença, na região oeste da cidade, com grande concentração de população negra.
Mais de 80 pessoas estavam no bar aquele dia e a polícia decidiu que ia prender todo mundo. Em pouco tempo, pessoas se juntaram e começaram a arremessar garrafas nos policiais e a saquear lojas próximas.
A confusão escalonou e durou seis dias, o "Longo e Quente Verão de 1967" marcou a história dos EUA. Foi o maior evento deste tipo até aquele momento: 43 mortes, mais de mil feridos, 7.200 presos, 2 mil prédios destruídos.
O governador do Mississipi declarou estado de insurreição e por meio do Insurection Act, lei de 1807 que permite ao governo norte-americano usar tropas contra seus próprios cidadãos em caso de insurreição contra o governo.
O presidente dos EUA, Lyndon Johnson mandou mais de 10 mil militares para Detroit. O vídeo a seguir é um clipe da TV CSPAN com imagens da época e que resumem um pouco do que foi o levante de Detroit, em 1967.
O governo chegou a pesquisar e preparar um relatório, concluindo que os levantes haviam sido causados por problemas estruturais da população negra de Detroit e pelo racismo nos EUA. Mas pouca coisa mudou. Em 4 de abril de 1968, Martin Luther king foi assassinado a tiros.
Em 1980, um levante aconteceu em Miami. Um grupo de policiais da cidade assassinou Arthur McDuffie, um vendedor negro e ex-soldado, após uma perseguição de 8 minutos pela cidade. Após a polícia pegar Arthur, seu crânio foi esmagado de tantas pancadas que levou dos policiais.
Arthur morreu dias depois no hospital, em 21/12/1979. Os policiais foram a julgamento e todos foram absolvidos em maio de 1980. O veredito revoltou a comunidade negra de Miami. Entre 17 e 20 de maio daquele ano, 18 pessoas morreram, 350 ficaram feridas e 600 foram presas.
Este vídeo é uma reportagem da CBS Evening News, com o âncora Dan Rather, no dia 19.05.1980. Nele, podemos ver imagens da destruição em Miami.
Estes dois depoimentos foram retirados do documentário Miami History McDuffie Riots Liberty City e mostram o posicionamento e a indignação da comunidade negra contra o racismo do sistema penal norte-americano.
Esses eventos impulsionaram o crescimento do Gangsta Rap, um estilo musical específico na costa Oeste dos EUA. O termo é de Ice Cube na sua banda, Niggaz With Attitude (NWA). Um dos maiores clássicos da banda dispensa maiores apresentações.
Ao longo da década de 80, o papel do povo negro norte-americano passa por mudanças na estética do cinema. Em 1989, o filme Faça a Coisa Certa, do diretor negro Spike Lee, conta a história de um levante no bairro do Brooklyn, em Nova Iorque.
A violência da polícia branca está no centro da trama. Dá uma olhada nesse trecho e sente a tensão entre os moradores do bairro e a patrulha policial.
O rap e o cinema vão trazendo outros ingredientes e escancaram ainda mais as tensões raciais dos EUA. Se tu ainda não assistiu o Faça a Coisa Certa, bota na lista aí e assiste agora pelo menos a abertura, que toca Fight the Power, da banda Public Enemy.
Em 1992, mais uma vez a brutalidade de policiais brancos contra cidadãos negros. Rodney King foi agredido por cinco policiais, após uma perseguição. Desta vez, a agressão foi gravada.
Pela primeira vez na história uma acusação tinha imagens: um homem negro, deitado no chão e sendo espancado por policiais brancos. Os policiais foram absolvidos e a comunidade negra de Los Angeles se revoltou.
Nesse trecho do programa Larry King Live na CNN, após a absolvição dos policiais uma membra do juri entra por telefone e conversa com o advogado de Rodney King, a vítima.
Esse clipe aqui mostra imagens dos tumultos em LA (1992) ao som da música We Had to Tear this Mothafucka Up, de Ice Cube. "Alguém sabe o endereço do júri? Faça uma visitinha: quem é?"
Os tumultos de 1992 foi o uso mais recente do Insurrection Act, autorizando o governo federal norte-americano a mandar tropas do exército para enfrentar seu próprio povo. Ontem, Trump ameaçou utilizar novamente esta lei, que foi usada apenas 19 vezes em toda a história do país.
O assassinato brutal e covarde de G. Floyd é mais um triste capítulo na história. Um homem inocente, negro, asfixiado por um policial branco, em vídeo. O racismo explícito nas câmeras revoltou a comunidade negra dos EUA e todos aqueles que não aguentam mais esse estado de coisas.
Angela Davis nos ensinou que não basta não ser racista, temos que ser antirracistas. Temos que lutar contra o racismo todos os dias e de todas as formas possíveis.
A gente queria encerrar essa thread com a indicação de algumas arrobas pra quem nos segue aqui acompanhar também. Primeiro, o pessoal do @GepaUfsm, o Grupo de Estudos sobre o Pós-Abolição da UFSM.
Também o pessoal do @Historia_Preta e essa lista de Podcasts Negros que eles mantém. twitter.com/i/lists/126383…
E a Rede Brasileira de Jornalistas Negros @_rbjn que mantém essa aqui, de jornalistas negras e negros no Brasil. twitter.com/i/lists/126761…
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