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É CHEGADA AQUELA HORA, MEU POVO! 🍾

SAI DO FORNO A THREAD DO NOSSO EP04, E O TEMA É: LIBERALISMO E AUTORITARISMO NO 🇧🇷!

Vocês sabiam que vários liberais apoiaram o golpe de 64 e cresceram politicamente no período? Quer conhecer o caso de um famoso? Então, segue o 🧶!
Nesse fio, vamos contar a história de Jorge Konder Bornhausen (daqui em diante, JKB). Quem acompanhou a política durante as décadas de 2000, 90, 80, 70 e/ou 60, provavelmente, o conhece. Mas, vamos citar aqui parte do seu currículo para vocês.
JKB foi Vice-governador de SC (caso polêmico, falaremos + depois) entre 67-71; Governador de SC indicado pelos militares entre 79-82; Senador de 83-91 e 99-2007; e Ministro da Educação de 86 até 87. E, durante a era FHC foi um importante aliado do governo.
Antes de falar sobre JKB, temos que falar da longeva influência de sua família na política de SC - uma história que data do século XIX. Afinal, esta é uma característica da "comédia ideológica" de parte do liberalismo brasileiro: o seu conteúdo oligárquico.
A história do poder da família Konder-Bornhausen começa com o casamento, em meados do XIX, entre o Tenente Coronel da Guarda Nacional, dono de terras, e escravocrata, José Henrique Flores, com Maria Clara Breves da Silveira, descendente de ricos cafeicultores escravocratas do RJ.
O casal ganhou uma grande gleba de terras na província de Santa Catarina, onde passaram a produzir açúcar e farinha de trigo. A partir de 1860, a cidade de Itajaí ganhou o posto de Vila, e Flores se tornou uma liderança na Câmara Municipal.

"Ok. Mas, e os Konder-Bornhausen?”
O sobrenome Konder entrou para a família quando a filha do casal, Adelaide Silveira Flores, casou-se com o imigrante alemão Marcos Konder Sênior. Este, inicialmente, trabalhou como instrutor para a elite teuto-brasileira local, e depois como comerciante.
Por sua vez, o sobrenome Bornhausen passou a fazer parte da família quando, em 1928, o banqueiro Irineu Bornhausen (pai de JKB) casou-se com Maria Konder, filha de Marcos Konder Sênior e irmã dos políticos Victor, Marcos e Adolfo Konder.

Precisamos falar sobre estes 3 e Irineu.
Victor foi dep. estadual de 22-26 e Ministro da Viação e Obras Públicas de Washington Luís (26-30).
Marcos foi superintendente (similar a prefeito) de Itajaí entre 1915-1930 e dep. estadual entre 13-21, 25-30, e 35-37.
Adolfo foi governador de SC de 26-30 e Dep. Federal de 33-35.
Um grande aliado político dos tios de JKB foi o seu pai, Irineu, que foi: prefeito de Itajaí (36-39); governador de SC (51-56); e Senador (59-67). Além de uma liderança nacional da UDN no Senado, Irineu foi um banqueiro e empresário deveras rico, e ai chegamos em 64...
Segundo a pesquisa mais completa sobre o golpe de 64, feita pelo historiador e cientista político René Armand Dreifuss, Irineu financiou a desestabilização do gov. Goulart. Sua empresa, DELTEC S.A. investiu $ no IPES, principal órgão de propaganda anti Goulart.

Ok, mas e JKB?
JKB e seu irmão mais velho, Paulo Konder Bornhausen, entraram para a política. O irmão foi deputado estadual de 55-59, mas seu maior posto foi durante a ditadura, quando foi Diretor da 3ª Região de Crédito Geral do Banco do Brasil. Negócios e política. Política e negócios.
JKB iniciou sua vida política de forma inusitada: como vice-governador do Estado. Em 66, o regime cassou o mandato do vice-governador Francisco Dall'Igna do PTB. Em um grande acordo de elites, a vontade de Irineu prevaleceu. Ele indicou o filho, JKB, mas havia um problema...
JKB tinha 29 anos e a Constituição Estadual não permitia que ele assumisse o cargo - a idade mínima era 35. Às pressas, uma Emenda Constitucional foi votada na Assembleia Legislativa estadual, diminuindo a idade mínima p/ 25 anos. Em suma: lógica liberal, práxis autoritária.
Aliás, em 2001, JKB falou sobre 64:

“Não lamentei a deposição do (...) Goulart, que representava a continuidade de Getúlio. Na nossa família, tanto os Konder como os Bornhausen, éramos antigetulistas históricos. (...) Jango era a continuidade de Getúlio, seu herdeiro legítimo.”
Durante a existência da ARENA, partido de apoio da ditadura, JKB foi um dos seus principais líderes. Foi presidente regional do partido quando seu primo, Antônio Carlos Konder Reis, governou o Estado (75-79), sendo que em 79, foi JKB o indicado para assumir o governo estadual.
Por sinal, seu primo, Antônio Carlos Konder Reis, afirmou o seguinte em 1997: "no Brasil, de 1964 a 1985, não houve uma ditadura; ditadura, segundo Aristóteles, é o governo de um só. Não houve um governo de um só; na ditadura não há eleição, no Brasil houve, diretas e indiretas”
Voltando para JKB, este foi um dos principais articuladores da Frente Liberal, formada por parlamentares de apoio à ditadura, mas que decidiram por apoiar Tancredo Neves nas eleições indiretas de 85. Foi o pulo do gato de muitos "liberais-autoritários" para a democracia pós-85.
Com a redemocratização, o passado de plena aliança com o autoritarismo de JKB, em muitos casos, foi sendo apagado ou relativizado. Fez parte do governo Sarney - Sarney que, curiosamente, foi o último presidente da ARENA. JKB foi líder do PFL (Partido da Frente Liberal).
Durante os governos de FHC, JKB foi uma das, senão a principal liderança do PFL, partido que dava base congressual para o PSDB, e era o partido do vice-presidente, Marcos Maciel, o qual, também, foi membro da ARENA e governador indica de Pernambuco durante a ditadura.
No período dos governos petistas, JKB foi um dos seus mais ferrenhos opositores. Seus embates com o ex-presidente Lula eram constantes. Em uma de suas declarações mais polêmicas, durante as tensões do Mensalão, JKB afirmou que era preciso acabar com essa 'raça' do PT por 30 anos.
A saga da família na política brasileira ainda não terminou. O filho de JKB, Paulo Bornhausen, já foi dep. estadual (99-03), dep. federal (95-99)/(07-15). Hoje é filiado ao PSB - o que causa estranhamento, vide o forte passado anti-socialista/anti-esquerda da família.
E chegamos ao fim desta thread! O objetivo maior foi apresentar contradições históricas de parcela relevante dos políticos liberais no 🇧🇷, sendo a aliança com a ditadura militar uma das mais graves. Ou seja, os flertes entre liberalismo e autoritarismo no têm longa história.
No caso do liberalismo brasileiro, muitos políticos desta ideologia foram elitistas, rechaçaram profundamente a participação popular na política, apoiaram golpes de Estado, legitimaram a ditadura e cresceram politicamente nela, bem como foram clientelistas e patrimonialistas.
Quer saber mais a respeito destas contradições e tensões do liberalismo brasileiro?

Escute o último episódio do nosso podcast!

leituraobrigahistoria.com/2020/05/25/o-l…
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