Thread by @estacaobrasilfm

Como prometido, aqui está a thread complementar do 1º EP do @estacaobrasilfm!

O tema: Lula e FHC na redemocratização brasileira.

Sabia que Lula já pediu votos para FHC? E que FHC via com entusiasmo as greves do ABC e a fundação do PT?

Não? Quer saber mais? Então, segue o 🧶

Comecemos pelas eleições de 1978. FHC era um intelectual muito conhecido, no BR e no exterior, escrevia para a @folha, e tinha se aproximado do MDB durante a década de 1970. Em 1978, o MDB indicou para o Senado: FHC (da ala mais combativa) e Franco Montoro (da ala mais moderada).

Em 1978, Lula já era, pela 2ª vez, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e não gostava dos políticos do MDB. Achava-os oportunistas. Mas, decidiu conversar com Cardoso por um simples fato: era novo e diferente de Montoro, não falava em nome dos trabalhadores.

Lula decide apoiar Cardoso para o Senado em 78, pedindo votos para o sociólogo nas portas de fábrica e sindicatos. A candidatura de FHC conta com apoio de artistas (Chico Buarque, por exemplo), intelectuais e movimentos sociais, mas é derrotada pela de Montoro. FHC vira suplente.

Importante lembrar que em maio de 78, FHC havia usado seu espaço na @folha para prestar apoio às greves do ABC. Disse: "é a democratização em marcha (...), a partir dos pés do povo, de cada um de nós, de todos os que não são direitistas empedernidos ou exploradores sem grandeza".

Ainda no contexto das greves do ABC, mas em meados de 1980, FHC elogiou a liderança de Lula durante as greves. Este seria “uma coisa que não possa se por entre parênteses”, uma “força da natureza”, sendo “o líder operário (...) com mais capacidade expositiva”.

Sobre o processo de fundação do PT em 1979, apesar de certas ressalvas, FHC se demonstrou otimista: "dessa vez pelo menos a proposta de organização partidária não veio de qualquer grupo de notáveis que se autodefiniu como representante do povo. Veio de dirigentes sindicais."

Mas, as relações entre ambos muda entre 82-83. O PMDB (novo MDB) ganha o governo de SP com Franco Montoro; FHC, então suplente, assume cadeira no Senado e se torna Presidente do Diretório do partido em SP; Covas é indicado prefeito de SP por Montoro. E isso é importante pq?

É no início da década de 1980 que a crise da dívida externa estoura na América Latina e Brasil. Os governos Geisel e Figueiredo aumentaram drasticamente a dívida BR e a conta chega. Resultado? Uma massa de desempregados vai às ruas reivindicar melhores condições de vida.

Eis que surge uma tensão decisiva. FHC critica a violência nas manifestações, insinua que elas colocam a redemocratização em risco e apoia a repressão do governo Montoro contra elas. Do outro lado, Lula e o PT apoiam o movimento dos desempregados e criticam a o governo Montoro.

Em 1983, FHC passou a criticar o papel dos movimentos sociais nas lutas contra a ditadura: “Mesmo nos casos mais vibrantes, que foram as greves de São Bernardo, (...) quando se analisa com a perspectiva, não da paixão, mas com o ânimo de entender, foi quase patético”.

A experiência da gestão Montoro é um marco na relação entre FHC e Lula, pois a mesma passou a ser de crescente antagonismo dentro do campo da oposição. Em 86, ambos são eleitos para o Congresso pelo Estado de SP: FHC para o Senado e Lula como Deputado Federal mais votado.

Talvez, o último gesto de maior aproximação político-eleitoral de ambos tenha sido nas eleições de 1989, quando o PSDB de FHC e Covas decidiu apoiar Lula e o PT contra Collor no segundo turno das eleições presidências. (E não foi uma "escolha difícil"...)

Como vocês puderam ver, as relações entre Lula e FHC durante a redemocratização foram complexas, marcadas por aproximações, distanciamentos, acordos estratégicos, e a partir de um determinado momento, prevaleceu um crescente antagonismo - em especial na década de 90. Mas...

Em tempos de crise aguda em nossa democracia, gostaria de lembrar que estes adversários ferrenhos foram capazes de grandes gestos de grandeza: Lula abraçou FHC quando Dona Ruth faleceu; FHC visitou Lula quando este tratou seu câncer e quando Dona Marisa faleceu.

Assim, o desfecho deste🧶 não busca dar contornos edulcorados para a relação de ambos, mas enfatizar: democracia é quando você reconhece a legitimidade do oponente. Nenhum dos dois afirmou que iria "exterminar a petezada/tucanada". E sim, isso é importante.

Ufa! Chegamos ao fim!

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Um abraço e até a próxima!

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