Foco no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto.
Na antessala estão lápides de Bárbara Heliodora e de Marília morena.
É a viúva de Alvarenga Peixoto e a musa de Tomás Gonzaga.
Gonzaga quis muito a moça Marília, mas não foi com ela que casou, anos depois.
Sobre a mulher do terceiro poeta, Cláudio Manuel da Costa, o museu não dá uma pista.
Sua mulher era uma escrava alforriada e, com ela, teve cinco filhos.
Por que o Museu da Inconfidência a ignora?
Não há qualquer explicação que o justifique.
Não só porque ele era dono de escravos.
Tiradentes era alferes dos Dragões de Minas. O segundo-tenente de hoje.
Uma das funções dos Dragões era caçar escravos fugidos.
Tiradentes era um trapaceiro, diga-se. Tinha também qualidades, como uma coragem pessoal rara.
Nos EUA, o Movimento Negro tem por pauta botar abaixo ou, no mínimo, ressignificar os monumentos a heróis confederados.
Foi a gente que lutou para que a Escravidão fosse mantida.
Nosso maior problema social nasce da Escravidão. É o racismo real, que impõe violência, nega educação e saúde, condena à pobreza.
Então devemos debater.
Monticello, o museu-casa de Thomas Jefferson, hoje, é um museu ao autor da Declaração de Independência mas também um museu a Sally Hemings, mulher escondida de Jefferson, uma escrava com quem teve muitos filhos.
Ele não é dos meus bandeirantes favoritos. Mas sem os bandeirantes, a gente não conta a história do Sudeste. Não costa a história das fronteiras brasileiras.
Não nascemos de gente civilizada.
É bom dizer que Borba Gato caçava escravos.
Mas a gente precisa realmente pensar na história como uma feita por heróis e vilões?
É assim que a gente entende estas personagens?
É impossível entender Brasil sem passar por esta mancha, e o livro é estupendo.