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Talvez vocês não saibam, mas boa parte do Centro de Belém foi erguida por cima de um antigo cemitério que foi diminuindo, diminuindo, até ficar do tamanho de um quarteirão.

E aqui no Centro existem diversos hoteis, de todos os preços, inclusive esse onde eu trabalho.
Bem... muita coisa estranha tem acontecido agora, durante essa pandemia, principalmente porque o hotel ficou vazio, todo mundo voltando para as suas terras, até que fechamos as portas até tudo melhorar.

Mas uma coisa não parou: a manutenção.
Vocês imaginam como é? Todo dia tem 10 torneiras para reparar, portas que não fecham direito, televisão que não liga...

Com o hotel vazio a coisa piora, pois tem que cuidar dos colchões, sofás, poltronas.

E trabalho que não acaba mais, só que não é disso que quero falar.
A manutenção ficou a cargo de um grupo pequeno, umas 10 pessoas, e todo mundo começou a ter uma experiências fantasmagóricas nesse período.

Por exemplo:

Uma colega nossa começou a implicar que estavam tirando com a cara dela. Ela dizia que fazia algo e alguém ia e desfazia.
Segundo ela, a rotina era sempre a mesma: tirar os colchões e deixá-los em pé, preferencialmente perto da janela, no sol. A mesma coisa com os travesseiros.

Mas acontece que toda a vez, quando ela voltava nos quartos, os colchões estavam de volta na cama, com os travesseiros.
Era como se alguém não quisesse os quartos desarrumados e teimasse em rearrumar no meio da noite.

Uma vez, irritada com aquilo, e diante da negativa de todos, essa colega prou no meio do quarto e começou a brincar, a dizer que aquele espírito ia ver só.

Coitada...
A gente só viu quando ela varou na área de manutenção chorando muito, gelada e sem conseguir falar.

- Menina, o que foi?

- Eu não sei... só senti uma sensação de morte, um medo enorme e sai correndo dali.

Mas, mal a gente imaginava que a coisa ficaria pior.
Uma das funcionárias morava sozinha com a filha. Não tinha rede de apoio aqui, transferida do interior. Ela acabava levando a filha pro hotel diversas vezes e deixava a menina brincando no lobby, sempre com a recomendação de não se aproximar da piscina e de não sair dali.
Um dia, quando acabou nosso turno, passamos no lobby antes de ir pra manutenção, só que não achamos a menina.

De cara pegamos o maior susto, porque ela não estava em nenhum lugar.

Aí começou a gritaria, todo mundo correndo por tudo vendo se encontrava a pequena.

E encontramos.
Pois bem... finalzinho da tarde, a menina estava na área da piscina, encolhida no meio de um canteiro desenhando.

Não sei porque ela não respondeu, mas ela me pareceu muito assustada quando a gente finalmente a encontrou.

- Caramba, filha! Porque não respondeu?
- Ah, mãe, tava desenhando com a mulher.

- Que mulher, filha?

- Ela já foi embora, mas eu desenhei ela e a filha dela.

E o segurança do hotel falou:

- Mas não entrou ninguém aqui. De onde ela veio?

Aí a filha da minha colega olhou pro alto e apontou uma janela...
- Como assim, filha? Ela eatava lá em cima e você a viu?

- Não, mãe, foi de lá que ela pulou, mas isso faz tempo. Agora ela fica aqui na piscina, onde ela caiu.
De fato, tem gente reclama daqui. Tem muito hóspedes que não gostava daqui por conta de barulhos, sensação estranhas e fatos bizarros que acontecem.

Um em especial bateu direitinho com o que a menina falou.

De fato teve uma mulher que pulou de uma das janelas...
...e ela realmente caiu bem perto de onde a menina estava escondida, e ela eatava grávida.

Depois de ouvir aqui, ninguém mais queria trabalhar.

Falamos com o gerente, explicamos que estávamos assustados e se poderia, ao menos, aumentar a equipe, assim a gente não andava só.
E na semana retrasada a gente já estava com a equipe maior, até porque parecia que a pandemia ia acabar e a gente podia voltar a receber hóspedes a qualquer momento.

Só que, com a equipe maior, as coisas parece que ficaram piores.
Era porta fechando do nada, sem qualquer corrente de vento - e quando a gente ia abrir de volta, não abria por força alguma, como se algo impedisse.

E aí, do nada, quando ninguém mais forçava, a porta abria num clic...
Belo dia, a gente chegava num quarto e ele estava alagado.

Uma janela aberta, que com certeza tinha sido fechada... e são janelas de correr, nem dá pra dizer que foi vento.

E, mesmo que fosse esquecimento, do nada aconteceu num andar inteiro do hotel, nos quartos do mesmo lado.
E com todas as forças a gente evitava o quarto da suicida que a menina tinha visto, porque todo mundo ae sentia mal ali, com ânsia de vômito e falta de ar, além de sentir um frio desgraçado.

Mas a coisa chegou num pior nível ainda...
Foi semana passada e aconteceu comigo.

Estava andando pelos corredores do último andar e simplesmente esqueci de levar lanterna.

Bem, os corredores são hiper longos e não são muitas as janelas pra iluminação natural.

Basicamente é luz elétrica mesmo.
A gente leva a lanterna porque, se faltar luz, fica uma escuridão danada, que mal dá pra ver qualquer coisa.

Então eu estava lá, já fechando as últimas portas, quando faltou luz e me vi no maior cagaço.

Primeiro, foi aquele silêncio horrendo do escuro...
...e logo encontei as costas na parede, por medo mesmo. E fiquei lá, esperando os olhos se acostumarem com a escuridão, mas isso parecia não acontecer.

E comecei a ter um sentimento muito ruim, como se estivesse cego, do nada.
O despero que foi me batendo era horrendo. E, ao mesmo tempo, comecei a me sentir oprimido, como se estivesse ameaçado, ou talvez fosse só medo.

Pensei então que devia tentar chegar na escada, e aabia que bastava ir tateando numa direção específica.
Só que, quanto mais eu andava, mais parecia distante de chegar nas escadas.

Sem saber bem a razão, comecei a gritar pedindo ajuda. Eu sabia que tinha uma equipe no andar de baixo e que eles poderiam me ouvir, mas, quanto mais eu gritava, ninguém aparecia.
Me agachei no chão, num canto que encontrei, no meio daquela escuridão, e parei de gritar porque comecei a ouvir una cochichos, como se tivesse alguém perto de mim, apesar de não ver ninguém.

Tentei pegar e nada. Perguntei quem era e nada.
Foi quando senti um tapa no rosto, e outro e mais outro, e parecia que tinham várias pessoas ao meu redor me batendo e agora gritando e rindo...

Levantei e corri. O corredor é uma reta e qualquer coisa era melhor do que ficar ali apanhando no mais completo escuro.
E, nessa corrida que eu dei, senti quando cheguei na porta da escada e, do nada, estava tudo iluminado.

Na mesma hora voltou a luz do corredor e não tinha ninguém lá.
Resultado disso tudo é que ninguém mais quer trabalhar na manutenção.

A gente conversou com o gerente e explicou que a coisa está muito pesada e ninguém aguenta mais. Mostrei, inclusive, as marcas de tapas e arranhões que levei.
E mostramos a ele que era grave aquilo. Que se o hotel voltar a runcionar assim, com isso tudo acontecendo, vai ser terrível.

Na quinta-feira passada a gente teve essa conversa e ele prometeu ver...

E amanhã vai lá um pastor amigo dele para ver.
Que seja pastor, padre... qualquer coisa que resolva isso, porque parece que essa pandemia e o hotel fechado despertaram coisas bem ruins mesmo.

E se você está pensando em vir a Belém e ficar aqui pelo Centro, espere mais um pouquinho, pelo seu próprio bem.
Até as coisas melhorarem, pois pode ser que melhorem...

Fim
Esse relato está me sendo contado desde a semana passada, dia a dia, fato a fato, por um seguidor que trabalha num hotel aqui no centro.

Se houver novidades, informo vocês.
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