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A maior violação contra os direitos humanos deste século está acontecendo na China, numa região que os chineses chamam de Xinjiang.

O mundo parece finalmente ter aberto os olhos.

Conto essa história aqui:
Primeiro é preciso entender a composição étnica desse país.

92% dos chineses são da etnia han - o que torna esta a maior etnia do mundo, equivalente a 18% da população mundial.

Este é o grupo a que pertence Confúcio, Jackie Chan, Jet Li, Xi Jinping, Bruce Lee e Mao Tsé-Tung.
Ao longo da história, a China teve diferentes territórios, conquistados e governados por diferentes dinastias.

E em diferentes épocas foi comandada por diferentes etnias. Foi o caso da dinastia Yuan (1271-1368), em poder dos mongóis, e Qing, governada pelos manchus (1636-1912).
Este cara aqui, por exemplo, foi o Imperador Qianlong, um manchu que governou a China entre 1733 e 1796.

Ele é o responsável por liderar campanhas militares para a expansão do território controlado pela dinastia Qing, conquistando e às vezes destruindo reinos da Ásia Central.
Foi no reinado de Qianlong que o império chinês cresceu para um tamanho sem precedentes em sua história, incluindo o domínio sobre o Tibete.

À exceção de terras que pertencem à Rússia e à Mongólia, a dinastia Qing conquistou aquele que é virtualmente o atual território chinês.
Nesse mapa, ao noroeste, há dois territórios conquistados por Qianlong.

A parte vermelha era então comandada por um khanato - uma confederação de tribos budistas tibetanas mongóis.

E a azul habitada majoritariamente por agricultores muçulmanos de língua turca: os uigures.
Entre 1755 e 1758, Qianlong liderou um genocídio étnico dos budistas mongóis na região.

A ordem aos generais era matar os homens e dividir suas esposas entre os soldados.

80% da população morreu. A parcela restante foi transferida para outros territórios da dinastia Qing.
Com o espaço despovoado, a dinastia passou a patrocinar o assentamento de membros da etnia han.

Em 1884, os territórios conquistados no noroeste foram unificados. Eles passaram a atender pelo nome de "Nova Fronteira" (新疆) - em mandarim: Xinjiang.
Xinjiang faz fronteira com Mongólia, Rússia e 4 dos 7 países no mundo com o sufixo “istão”: Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Afeganistão.

Os outros 3 estão próximos: Paquistão, Turcomenistão e Uzbequistão.

"Istão" vem da raiz iraniana "stan" ("lugar de morada").
A relação entre uigures e han, sem nenhum passado em comum, jamais foi saudável.

E piorou com os comunistas, que intensificaram o assentamento dos han na região como estratégia de domínio territorial.

Os han eram 6% da população de Xinjiang em 1953. Hoje são 40%.
Pequim também tem interesse econômico na região.

Xinjiang é responsável por quase 40% das reservas de carvão na China e quase 20% das reservas de gás e petróleo.

Quanto mais o país depende de recursos energéticos, mais o território é indispensável às suas pretensões.
Com 11 milhões de uigures em Xinjiang, o grupo é uma ameaça a Pequim.

A principal razão é o pleito para o território ganhar independência e virar mais um "stan": o Turquestão Oriental.

Desde a ascensão de Xi Jinping, em 2013, a China intensifica a violência contra o grupo.
Em agosto de 2018, a ONU citou estimativas de que entre 1 a 2 milhões de uigures foram forçados a campos de concentração na região de Xinjiang.

Essa é a maior detenção em larga escala de uma minoria étnico-religiosa desde a Alemanha Nazista.

reuters.com/article/us-chi…
Desde então, os principais veículos do mundo denunciaram o que ocorre em Xinjiang.

Alguns exemplos abaixo.

A britânica BBC:
bbc.co.uk/news/resources…

A alemã Deutsche Welle:


A japonesa NHK: www3.nhk.or.jp/nhkworld/en/ne…
O brasileiro Estadão:
internacional.estadao.com.br/noticias/geral…

A americana CNN:
edition.cnn.com/videos/world/2…

O francês Le Monde:
lemonde.fr/international/…

O argentino Clarín:
clarin.com/new-york-times…

O italiano Corriere della Sera:
corriere.it/esteri/19_agos…

O espanhol El País:
elpais.com/internacional/…
Em 2019, uma investigação feita por 75 jornalistas de 17 veículos de 14 países - como The New York Times, BBC, NBC, Associated Press e The Guardian - apresentou inúmeros documentos revelando a natureza violenta desses campos.

nytimes.com/interactive/20…

icij.org/investigations…
Os campos para os uigures também são denunciados pelas principais organizações de direitos humanos do mundo.

Da Human Rights Watch...
hrw.org/news/2020/02/2…

à Anistia Internacional.
amnesty.org/en/get-involve…

A ONU chama a região de "zona sem direitos".
nytimes.com/2018/08/10/wor…
Na ONU, aliás, as maiores democracias do mundo denunciaram as violações aos direitos humanos em Xinjiang.

É o caso de Canadá, Austrália, Alemanha, França, Reino Unido, Japão, Suíça, Holanda, Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Irlanda e Nova Zelândia.

hrw.org/news/2019/07/1…
Em Xinjiang, uigures são levados aos campos de concentração pelos motivos mais estúpidos possíveis - como recitar o Alcorão em funerais, deixar a barba crescer, usar véu, receber ligações do exterior, portar livros sobre cultura uigur ou vestir camisetas com símbolos muçulmanos.
Mulheres também são detidas. Inúmeras são forçadas ao aborto e à esterilização - o que caracteriza genocídio segundo a Convenção das Nações Unidas para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, de 1948.

apnews.com/269b3de1af34e1…

npr.org/2020/07/04/887…
Nas duas cidades com maior presença uigur em Xinjiang, as taxas de crescimento populacional caíram 84% entre 2015 e 2018.

Em 2019, as taxas em Xinjiang caíram mais 24%, com as cidades com maior presença uigur registrando quedas de até 56%. No resto da China, a queda foi de 4,2%.
Dentro dos campos em Xinjiang, os uigures são submetidos à lavagem cerebral, tortura, estupro e privação física. Em algumas instalações, também estão sujeitos a waterboarding - a prática de afogamento simulado -, são mantidos isolados sem comida e água, e impedidos de dormir.
Cerca de 1,5% da população chinesa vive em Xinjiang. Mas a região é responsável por 21% das prisões no país. E o número vem aumentando.

A proporção de prisões na região aumentou 306% entre 2013 e 2017 comparado aos 5 anos anteriores. Quase 70% dessas prisões aconteceram em 2017.
Há ainda suspeitos 74 campos de trabalho forçado em Xinjiang.

As estimativas mais conservadoras do Center for Strategic and International Studies, levantadas com imagens de satélite e documentos oficiais, apontam para 100 mil escravos modernos na região.

nytimes.com/2019/12/30/wor…
Xinjiang responde por 84% da produção chinesa de algodão. A China é o maior exportador de algodão do mundo - produz 22% do mercado global.

É só fazer as contas: são consideráveis as chances de você ter uma peça de roupa produzida por um escravo uigur.

wsj.com/articles/did-a…
Nesse mês, os EUA apreenderam quase 13 toneladas de perucas enviadas para o país, produzidas com cabelo humano linkadas com os campos de concentração de Xinjiang.

Há uma forte suspeita, com amplos relatos, de que os fios sejam dos próprios prisioneiros.

edition.cnn.com/2020/07/02/us/…
Protestos contra os campos de Xinjiang acontecem em todo o mundo.

Mas mesmo uigures que conseguem o exílio, vivendo em democracias, relatam sofrer perseguição de Pequim quando protestam, com ameaças de punição aos seus familiares que permanecem na China.

theatlantic.com/international/…
O que acontece em Xinjiang tem nome: é crime contra a humanidade.

Nenhuma nação no mundo sustenta um programa de Estado tão abertamente racista quanto a China - com direito a campo de concentração e escravidão.

A pergunta que fica é: até quando, @ONUBrasil?

#UyghursLivesMatter
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