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Tecnicamente já é dia de final do Carioca. Dia de Fla-Flu. Quem lê as manchetes pode não perceber, mas o Flamengo venceu o primeiro jogo e agora tem vantagem. Vale ainda dissecar o jogo.

Em meio a tanto ruído, vamos falar sobre aquilo que a gente realmente gosta: futebol.
O Fluminense veio a campo praticamente com a mesma formação que usou na final da Taça Rio. A única diferença foi a entrada de Digão na zaga, no lugar do lesionado Nino. Nenê seguia preso ao lado direito, com Marcos Paulo pela esquerda e o jovem Evanilson na frente.
Já o Flamengo teve mudanças importantes. Gustavo Henrique, Diego, Vitinho e Pedro entraram como titulares. Com isso, o time tinha um centroavante mais fixo para brigar entre os zagueiros tricolores e um ponta mais agudo.
Diferentemente da final da Taça Rio, o Fluminense veio com uma proposta de apertar a saída de bola rubro-negra, deixando o jogo menos controlado. O Flamengo também pressionava a defesa tricolor e o início foi bem equilibrado

Aí veio o lance que mudou a cara do primeiro tempo: Aos 15 minutos, Arão consegue escapar da pressão no meio, bate metade do time do Fluminense e Gabigol leva perigo pela primeira vez.

A partir daí, o Fluminense mudou de estratégia: passou a jogar mais recuado, esperando o Flamengo dentro do próprio campo, protegendo a própria área e colocando o maior número de jogadores no menor espaço possível.
Ao contrário de Everton Ribeiro, que é um armador e tende a centralizar, Vitinho ficava colado à linha lateral na esperança de esgarçar a defesa tricolor. Muitas jogadas passavam pelo camisa 11, sempre buscando algo mais incisivo. Mas o Flamengo não se aproximava do gol...
Odair se defendia em 4-1-4-1 e formava um quarteto para encaixotar os jogadores de lado do Flamengo. Assim que a bola entrava ali, quatro tricolores cercavam e apertava. Foi a mesma dinâmica que usou ainda no Inter.

A marcação se baseava em muita pressão no jogador rubro-negro que tivesse a bola. Assim como Lindoso era a chave defensiva no Inter, Hudson era a chave no Fluminense.

O volante fazia todas as coberturas necessárias e permitia que o esquema de funcionasse sem o time se bagunçar.
Mas ter muitos jogadores pressionando a bola de um lado pode deixar a defesa desguarnecida do lado oposto. Por isso, há um detalhe curioso na transmissão: era sempre possível ouvir no áudio do jogo alguém chamando a atenção dos jogadores mais distantes da jogada.
O Flamengo atacava pela direita, Egídio saía na marcação, e as orientações na beira do gramado eram para Gilberto, do outro lado.

O mesmo acontece quando o ataque sai pela direita. Era preciso estar atento sempre. Afinal, uma virada de jogo poderia ser fatal.
E no momento em que o Flamengo conseguiu girar a bola de um lado para o outro com qualidade, saiu o gol.

Vitinho recebe, segura, resiste a Egídio e Dodi, gira e atrai Hudson, que larga sua posição e gera um efeito dominó que estoura do outro lado.

Foram 30 minutos de pressão do Fla. Recuado, o Fluminense tentava absorver a pressão e até conseguia não levar muitos sustos, mas a bola e o controle das ações eram totalmente rubro-negros. Parecia que viria mais. O ditado diz que água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
Não foi a primeira vez e nem será a última que o Flamengo encontrou dificuldades para furar uma defesa muito recuada. É difícil criar chances contra um time que tem todo mundo dentro da área. Ao contrário do que muitos pensam, o Fluminense se defende bem assim.
O Flamengo é um time absurdamente intenso. Sempre faz mais ações (dribles, passes, chutes, desarmes, interceptações etc) que o adversário. Mas, para além disso, existe uma intensidade “fora da bola” que não entra nas estatísticas.
Todo o modelo de ataque se baseia em pequenos piques, movimentações, rupturas… Abrir espaço e atacar o espaço. Nesse jogo, se viu um time mais estático, com mais dificuldade para manobrar o adversário e criar chances. Talvez um peso físico, talvez mental… Talvez os dois...
O segundo tempo, no entanto, foi completamente diferente.

A marcação-pressão e a pressão pós-perda do Flamengo simplesmente desapareceram. Talvez por uma questão física, talvez por não ser a principal característica de Pedro, também por mérito do Fluminense…
O Flamengo ataca > perde a bola > pressiona > desorganiza o adversário > força a sair errado > a jogada chega mastigada para a defesa > recupera a bola > o Flamengo ataca.

Se um elemento falha, o ciclo do jogo rubro-negro se desfaz.
Assim, os volantes tricolores saíram do sufoco e começaram a se soltar. Yago Felipe e Dodi passaram a aparecer por todos os lados e comandar o jogo. No lance em que Yago quase empata o jogo, há 6 tricolores na área, algo impensável no fim do primeiro tempo.
Para dar um gás novo, Jorge Jesus preparava três substituições no momento em que o Fluminense empatou em um contra-ataque mortal.

De qualquer maneira, Gerson e Everton Ribeiro não entraram bem e não conseguiram mudar o rumo do jogo.
O Flu seguiu em cima. O Fla parecia disperso. Um lance exemplifica bem: posicionamento ruim, time estático, escolha equivocada, passe errado, pressão fraca, perda da primeira bola, espaço nas costas e recomposição lenta. Tudo junto!

O segundo gol do Flamengo veio no melhor momento tricolor no jogo.

Um lance que não tem nada de acaso e mostra a extensão da caixa de ferramentas do time, além de muito talento individual.

A vantagem rubro-negra no placar e o cansaço tricolor praticamente decretaram o fim da partida. Os quinze minutos finais passaram em banho maria. O Fluminense ainda se mandou para um abafa final, mas nada relevante aconteceu em campo, a não ser a lambança do árbitro na expulsão.
Não foi o jogo que muitos rubro-negros esperavam. De fato, o Flamengo não fez uma grande partida. Teve trinta minutos bons depois de um início equilibrado. No segundo tempo, se perdeu e teve trinta minutos ruins até fazer o segundo gol.
Há algo a mais no ar? Algum fator extra-campo pode estar atrapalhando a concentração? Talvez. Mas qualquer afirmação nesse sentido não passa de especulação. É sempre melhor a gente focar no que é concreto.
Há de se ter calma. Primeiro porque no futebol há sempre um adversário do outro lado. O time do Fluminense é melhor do que a maioria diz e merece respeito.

Segundo, nenhum time é perfeito, muito menos esse Flamengo. Às vezes, ainda oscila. É normal.
É difícil manter o controle absoluto sobre todos os jogos e esse time ainda tem algum caminho a evoluir nesse sentido. Em 2019, atuações instáveis contra Chapecoense, São Paulo, Goiás, Botafogo e CSA acenderam um alerta em parte da torcida.
Para além disso, o contexto atual é muito atípico.

Os times ficaram três meses sem chutar uma bola. A readaptação não é simples. Os jogos sem torcida também influenciam. Cada fator pode pesar mais para uns do que para outros. Às vezes a gente esquece, mas todos ali são humanos.
O modelo de jogo proposto por Jorge Jesus exige muito da física e mentalmente. Cada deslize em qualquer um desses pilares cobra um preço alto. Em uma situação de readaptação, é normal que o time oscile de vez em quando. Não dá pra cobrar goleada e show todo dia. É irreal.
Por fim, é impressionante como esse Flamengo segue vencendo mesmo quando joga mal. Além de um grande time, tem grandes nomes e o talento individual decide quando a coisa aperta. É importante seguir assim.
Agora é a final. Não tem mais papo. Houve uma oscilação sim, mas nenhuma queda vertiginosa como tanto se falou durante a semana.

Hora de parar de especulação e jogar bola. Todos esperam um grande jogo e não há nada que indique o contrário!
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