Thread by @marcosvlqueiroz

Sobre Era das Revoluções

Devido ao 14 de Julho, vi muitos textos circulando sobre a Revolução Francesa, evento fundamental da história moderna. Mas sempre acho que narrar esse evento sem pensar na sua dimensão atlântica é um erro, especialmente silenciando o Haiti.

Muito já se escreveu sobre como a Rev. Haitiana levou o universalismo jacobino para outro patamar, alargando os sentidos de liberdade e igualdade para além do marcador racial. No entanto, aqui gostaria de focar em outros dois aspectos da insurgência iniciada em 1791.

a. Primeiramente, a Rev. Haitiana, antes de ser um apêndice da Rev. Francesa ou um desdobramento dos ideais liberais, é uma Revolução Africana. É assim que estudos mais recentes apontam: não só em termos demográficos, mas também políticos, éticos e filosóficos.

Esse enquadramento permite reperiodizar a história moderna, especialmente no que a Rev. Haitiana aproxima o final do século XVIII aos eventos de descolonização do pós-Segunda Guerra Mundial. Forma-se, assim, outro olhar sobre os projetos emancipatórios e a violência colonial.

b. A Rev. Haitiana é um fenômeno eminentemente global, reordenando dispositivos anti-insurgentes e recriando táticas e imaginários libertários por todo o mundo Atlântico. Assim, é impossível estudar as arquiteturas dos diversos estados-nação modernos sem falar do Haiti.

Ademais, neste ponto, dois erros históricos e políticos são muito comuns ao se apagar o Haiti: i. é impossível se falar de Revoluções Democráticas e não se falar de São Domingos; ii. a primeira Revolução Anti-colonial não ocorre no século XX.

O que o Haiti ensina, portanto? Que uma história da liberdade moderna, se realmente contada da maneira adequada, é uma história da luta contra o colonialismo. O colonial que deve ser entendido como o paradigma que enquadra, até hoje, o que entendemos como direitos fundamentais.

A Rev. Haitiana não é apenas um arquivo histórico capaz de alargar a nossa compreensão do passado. Ela foi e é, sobretudo, um arquivo ético sobre o ideal de justiça. Retirar o véu do silêncio sobre o Haiti, como diria Trouillot, diz respeito ao que queremos ser no futuro.

Para quem me segue por outras razões, esse é o meu principal tema de pesquisa, com o qual me engajo nos últimos 05 anos. Pretendo escrever mais sobre ele por aqui daqui para frente.

Quem quiser dar aquela força, o merchan, porque ninguém vive sem haha: lumenjuris.com.br/historia-do-di…