Essa treta do Castanhari só reforça uma coisa: não é só o presidente e o seu governo que enxergam a docência e a pesquisa como "subprofissões", mas boa parte da sociedade.

Além de um desserviço, tal postura só aumenta a conivência com o nosso processo de precarização.
Aliás, é o que eu mais vejo por aí: gente que bate no peito para criticar o Bolsonaro e a direita brasileira, mas age no mesmo sentido de desvalorizar a prática docente.

Professor no Brasil tem que ser santo: viver sem direitos e aceitar todas as agressões cotidianas calado.
Quem é ou já foi pesquisador, provavelmente já escutou a pergunta: mas você não trabalha?

Quem é professor, provavelmente já recebeu aquele olhar de comiseração que no fundo grita: você não tem outra profissão?

Para não falar da ideia generalizada que o nosso trabalho é mole.
O mais triste é alguém, que se diz "difusor do conhecimento", negar-se a compreender essas coisas. Mais do que isso: recusar-se a escutar quem está na linha de frente todos os dias.

Não é por nada não, meu amigo, mas você colabora com a destruição da educação no Brasil.
Para não falar: isso no meio de uma pandemia! Quando a pesquisa e a docência, mesmo precarizadas nesse país, são uma das únicas salvaguardas ao caos social instalado. Quando professores são aqueles que mais têm sido afetados pela lógica destrutiva do teletrabalho.

É brincadeira.
E minha gente, apenas esclarecendo, pois talvez eu tenha me expressado mal: o post não tem nada a ver com a necessidade de diploma para você ser produtor de conteúdo informativo.

Mas: se você vai produzir conteúdo, esteja disposto a ouvir e aceitar críticas de quem é da área.

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Jan 17
O lixo vai falar, e numa boa.

Thread recente conectou o fato das pessoas jogarem lixo na rua a uma suposta destruição da identidade nacional causada por professores de história marxistas. Vish, pesado, eim. Mas será?

E se o lixo pudesse falar, o que ele diria sobre o Brasil? 👇🏾
Bom, bora para um pouco de história. Antes de haver saneamento básico no Brasil, por cerca de 300 anos, eram escravos os responsáveis por coletar urina, fezes e dejetos nas casas das cidades brasileiras. Como todo trabalho degradante, ele era delimitado pela escravidão.👇🏾
Tais trabalhadores eram chamados de tigres, pois o conteúdo carregado nos tonéis sobre a cabeça frequentemente derramava sobre a pele, deixando marcas brancas sobre a pele negra. Tais trabalhadores eram bastante mal vistos, associando o racismo da escravidão com o nojo do lixo.👇🏾
Read 20 tweets
Jan 16
O Brasil tem um tipo de branco bem específico. Nascido ou crescido em uma das grandes cidades coloniais (Rio, Recife e Salvador), é metido a entendedor de cultura negra, mas odeia negros. É “anti-identitário”, mas carrega uma das identidades mais particulares da nossa sociedade.
Há tempos, Beatriz Nascimento já deu a letra sobre esse tipo de gente. Quem sabe, sabe e reconhece de longe. Os trejeitos, a lábia, as roupas, onde frequentam, as profissões (amam ser antropólogos e historiadores). No fundo, não suportam que nós negros falemos por conta própria.
Por ter circulado em espaços negros, mas ainda carregar o poder da branquidade, esse tipo de branco é um dos mais perigosos. Vai relativizar violência com mistificações sobre o Brasil. Onde houve exploração e luta pela vida, ele vai idealizar com ideias sobre sincretismo.
Read 4 tweets
Jan 10
Meu pai compartilhou comigo um vídeo contra vacina de crianças. "Preocupação com as netas". Depois da indignação inicial, falei sobre algoritmos e formação de bolhas de mentira. Dei exemplo com vídeos de futebol. Ele "então por isso que só vejo vídeos de vitória do Botafogo?".
A raiva que tenho do bolsonarismo só não é maior que a de redes como Facebook e twitter. O vídeo que ele compartilhou estava no Face, em um perfil que vive de propagar mentiras. Não é difícil identificar e banir o usuário e a rede que ele mobiliza.
E meu velho ficou em choque quando descobriu que ele não só cedia informações para o Facebook toda vez que dava play em um vídeo, mas, também, que utilizavam essas informações para fornecerem mais vídeos do Botafogo, de músicas dos anos 60 e 70 e de mentiras bolsonaristas.
Read 15 tweets
Jan 9
O PT foi alvo de um golpe e da fraude judiciária. Aceitou tudo dentro do jogo liberal-institucional. Daí, em 2022, as pessoas precisam de um vídeo da Dilma falando por A+B para “atestar” a diferença entre governos petistas e chavismo. Chega a ser ultrajante.
Não é “novidade” e o vídeo não foi escondido por ninguém. Foi mais de uma década de governo, para não falar da vida pública de Lula e Dilma. O que não enganam são essas análises hoje, supostamente desinteressadas, de quem, em um passado recente, fez do PT aquilo que nunca foi.
Chega a ser ridículo ter que ler essas coisas hoje, particularmente se tratando da figura de Dilma, uma das maiores vítimas das mentiras indecentes da direita e de liberais. Se o discurso dela é “novidade” para alguns, é porque participaram da esculhama em 2015-2016.
Read 4 tweets
Jan 4
Tem algo que me irrita mais do que o debate sobre identitarismo. É fazer esse debate utilizando referenciais estrangeiros quando temos no Brasil grandes lições legadas pela LUTA do movimento negro. E como a @SantannaWania colocou: não é sobre identidade, é sobre PROJETO DE PAÍS.
Luta contra a ideologia da democracia racial, luta pela reformulação dos censos, luta pelas ações afirmativas, luta no movimento da educação, luta contra o genocídio, luta nos partidos - se mesmo diante dessa história, é identidade o foco da conversa, vocês não entenderam nada.
A história é muito recente para esquecermos que sempre que o debate sobre identidade entra na sala, é escanteado o debate sobre política de direitos. Política de direitos, não identidade, sempre foi a prioridade da nossa luta. O resto é ser pautado pela branquidade.
Read 4 tweets
Jan 4
Isso aqui quando saiu foi coisa de maluco
LeBron rookie com os desejos universais do negro nos 00s: debut do 50 Cent, GTA Vice City e uvas.
Aí coloca mais essa foto aqui e tu tem o espírito de uma época
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