O Centrão desencanou de derrubar Bolsonaro? Sim e não. Por ora, ele ganhou todas as brigas principais e avançou sobre cargos e fundos multibilionários, depois de anos de derrotas. Mas é um jogo mais complexo do que parece (1/15).
Basicamente, Bolsonaro realmente entrou em campo pensando em tirar o Centrão da jogada, dividindo cargos e gestão de fundos apenas com seus aliados mais próximos, os "quadros" fornecidos pelo Olavismo e militares (2/15).
Moro estava no governo para isso: dobrar o Centrão e, ao mesmo tempo, para blindar a família Bolsonaro e ser domado, uma vez que sua "missão", tirar o PT da disputa de 2018, havia sido concluída com êxito. Domar o indomável Moro era uma tara particular de Jair (3/15).
Não é que Moro não tenha, exatamente, tentado "ajudar" Bolsonaro a seguir com seu plano, que era apenas um caso de agenda "muito diferente", mas também que Moro, na função, perdeu as brigas que deveria ter ganho (4/15).
O que o grande público não entendeu é que a magia de Moro funcionou contra Lula e o PT naquele momento por uma simples razão: havia interesses variados em tirar Lula do jogo. A maioria do sistema político, por ação e omissão trabalhou para jogar Lula na cadeia (5/15).
Trabalharam tanto, mais tanto, que até Lula topou e inverteu a coisa naquele momento: a prisão, no fim, foi um tiro no pé que manteve o PT na disputa. Assim, foi fácil para Moro. Uma vez na política e no poder, a coisa mudou e ficou mais difícil (6/15).
Nas tensões do começou do governo, a Lava Jato ainda tentou repatriar uma multa que iria para sua fundação. Se as coisas não seriam fáceis, elas ficaram mais difíceis com essa manobra não só ilegal como preocupante. Quem começou a barrar isso, lembrem-se, foi Gilmar (7/15).
Dessa confusão toda, chegamos na prisão de Temer, que até então havia cooperado, introduzido os militares novamente na cúpula do poder e, ainda passado a faixa para Bolsonaro. Prisão dele e de Moreira Franco. Aí foi o grande erro de Moro e Deltan (8/15).
Sem o vento a favor, na verdade, com ele contra, Moro perdeu a utilidade para o governo e, de repente, inverter o jogo passou a ser uma hipótese considerada pelo Capitão, isto é, ter Moro não deixava de ser ativo precioso, só que não pelos motivos de início. (9/15).
Bolsonaro já havia rifado Moro aí, mas não toparia ainda topar um arrego com Maia. Lembrem-se, contudo, que foi o próprio General Ramos que desmentiu Villas-Bôas nas falas mais contundentes contra a soltura de Lula. E Moro se ressente disso (10/15): noticias.uol.com.br/politica/ultim…
Bolsonaro no começo de 2020 tentou mobilizar a base contra o STF e o Congresso, uma vez que a estratégia Lava Jatista já era vaca fria. Veio a pandemia. Ficou mais difícil ainda. Daí, a coisa ruma por realmente isolar e chutar Moro para fora e ceder para o Centrão (11/15).
No entanto, uma vez cedendo cargos para o Centrão, Bolsonaro achou que poderia apertar o acelerador contra o STF. E descobriu que não. Não é que Bolsonaro seja exatamente burro, ele apenas testou seus limites, mas como bom deputado do baixo-clero, sabe recuar (12/15).
Enquanto isso, Aras na PGR, um ser da fauna política de Brasília, é uma das figuras mais espertas nessa confusão toda, usando-se de um blend curioso para chegar a uma PGR que ele jamais ocuparia em situação normal: em troca de blindar a "família", blindou todo mundo (13/15).
O Centrão, que está bem além do PMDB -- e por isso o termo "peemedebismo" sempre me pareceu insuficiente -- é esse ajuntamento de interesses, uma espécie de condomínio informal da "política" vai costurando e ganhando tempo (14/15).
Quem se surpreendeu com a traição do Centão em relação a Dilma e, depois, a Alckmin nas eleições de 2018 pode ficar surpreso com esse zigue-zague, mas é do jogo e, ao meu ver, ele espera mais as eleições americanas do que qualquer outra coisa (15/15).
