Sob o disfarce de um “comentário”, Lynch nos critica por assumirmos uma visão plebiscitária: Império x República. O curioso, porém, é que não fazemos um único elogio à República: chegamos mesmo a mencionar seus fracassos no texto como uma explicação para o apelo da monarquia. 
Já que o comentário não é ao nosso texto, vamos aos equívocos de Lynch. Ele começa com uma “incrível salada” para poupar o Império: recua para a Colônia e mistura bandeirantes (cuja mitologia só foi cristalizada no séc. XX) e senhores de engenho (constituintes de outra mitologia)
Qualquer um que não ignore a experiência escravizada deve reconhecer que o Império foi, sim, “o horror do latifúndio escravista”. Ou os cativos não contam e sua existência pode continuar a ser descontada pelos observadores supostamente “objetivos”?
A questão não respondida aqui é porque a restauração da monarquia está geralmente associada ao que há de mais reacionário, e não só no Brasil – basta lembrar da Action Française. Se os conservadores poderiam idealizar algum período republicano, por que preferem o Império?
A avaliação “compreensiva” Lynch é de que é preciso primeiro integrar o bolo nacional para depois permitir a participação política – não foi o que aconteceu nos EUA e mesmo nas repúblicas hispano-americanas, mas não deixemos que a realidade o atrapalhe.
Exportações foram mais importantes do que investimento estrangeiro, e nesse aspecto o Brasil tomou a dianteira. Mais relevante, foram as exportações que forneceram recursos para a consolidação estatal: a causalidade está invertida. Mesmo assim, ficamos para trás!
A consolidação do Estado imperial não foi negativa para as oligarquias, é verdade. Os milhares de mortos na repressão às revoltas diriam o mesmo? O que Lynch está fazendo aqui é reproduzir o discurso dos próprios políticos imperiais, sem reconhecer sua violência constituinte.
Idem ao reproduzir a visão negativa sobre as repúblicas vizinhas. Entretanto, a historiografia recente tem enfatizado o vigor participativo hispano-americano, especialmente até c. 1870. Esse gráfico do Historical V-DEM (@fbizzarroneto) mostra a falta de base do ufanismo imperial.
Essa “análise” apaga a abolição haitiana (1793/4) e o Caribe como um todo. O único exemplo que dá é justamente de uma abolição abrupta. O subtexto talvez seja de que é melhor um processo gradual do que uma guerra civil. Novamente, creio que os escravizados discordariam.
Já esse parágrafo ignora que os processos abolicionistas hispano-americanos se iniciaram durante as independências graças à mobilização negra. A escravidão definhava após 1820 nessas repúblicas enquanto crescia como nunca no Brasil monárquico.
Eu gosto de história contrafactual, mas mais rigor, por favor. Os republicanos fracassados de 1817-37 eram quase todos antitráfico e abolicionistas graduais e suas Repúblicas fragmentadas não teriam sido capazes de resistir à pressão antinegreira britânica por tantas décadas.
Em suma, concordamos com @CECLynch que a história deve ser mais que um “fútil exercício de política retrospectiva” – mas também não deve ser uma reprodução da visão de mundo dos políticos dominantes, que acalma as consciências ao dissociar o regime da sociedade que o sustentou.
