Fala, galera! Preparei um material sobre o novo treinador do Flamengo, Domenèc Torrent. Analisei a temporada de 2019 inteira do NYC,para entender o estilo de jogo do técnico e projetar como será no rubro-negro. Vi todos os gols feitos e sofridos,estatísticas e formações. Confira!
Torrent, 58 anos, é espanhol, da Catalunha. Como a maioria sabe, ele foi auxiliar de Guardiola por 10 anos, estando ao lado do treinador no Barcelona, Bayern de Munique e Manchester City. Como o próprio Rafinha disse, era o Dome (como gosta de ser chamado) que passava os treinos.
Ou seja, por uma década, Torrent esteve ao lado e aprendeu os métodos de um dos maiores treinadores de todos os tempos. Um técnico fissurado por tática, padrão de jogo e perfeccionismo. Vale destacar que isso não quer dizer que Torrent seja igual ao Guardiola.
Domenèc assumiu o NY City em 2018, no meio da temporada. Teve 8 vitórias, 4 empates e 7 derrotas, levou o time para a semifinal da conferência, mas acabou perdendo para o Atlanta United, que se tornou campeão. Mas, vou analisar 2019, pois foi o primeiro ano inteiro dele no cargo.
A filosofia de jogo lembra o time de Guardiola e também o do Flamengo de Jesus. Não era aquele "Tick-Tacka" sonolento, com passes para o lado sem objetividade. Pelo contrário. Os passes rápidos eram sempre buscando a melhor finalização, tanto de dentro, como de fora da área.
Mesmo não tendo o melhor time em termos de nomes, trabalho no NYC foi interessante. Equipe buscando a marcação pressão,linhas defensivas altas, troca de passes, posse,mas com objetividade, sempre tentando finalizar e fazer gols. Não parava e se fechava após balançar as redes.
O Flamengo de Jorge Jesus no Brasileirão teve médias por jogo de 60,2% de posse, com 426 passes e 15.1 finalizações, ou seja, 28.15 passes para 1 finalização. Já o NYC em 2019 teve 57,6% de posse, 412 passes, 11.9 chutes, precisando de 34.6 passes para 1 chute. Times objetivos.
Me impressionou a forma que o time de Torrent ataca. Por ter a linha alta,assim como Jesus, a equipe atua com vários atletas no ataque, buscando supremacia numérica. Jogadores não fominhas, buscando as melhores jogadas e fazendo triangulações,o que gerou muitos golaços coletivos.
Torrent também é adepto aos chutes de fora da área. Dos 64 gols em 35 jogos da temporada, 11 foram marcados de longa distância com a bola rolando e 2 de falta. A maioria desses foram golaços, diga-se. Além disso, outros gols foram gerados pelos rebotes das finalizações de fora.
Como Guardiola, Torrent não gosta do chuveirinho na área. Ao todo, foram apenas 2 gols de cabeça en 2019. Ainda assim, time marcou 43 vezes dentro da área com a bola rolando. Isso porque,a maioria foram de triangulações ou belas enfiadas,aproveitando a movimentação dos atacantes.
Inclusive, quando um jogador chega na linha de fundo, é mais comum você ver ele dando um cruzamento rasteiro para trás, buscando a finalização de um companheiro, do que levantando. Até as bolas paradas costumam ser jogadas ensaiadas. O time também marcou 10 vezes na pequena área.
Com essa filosofia de jogo, Torrent levou o NYC a ter a melhor campanha da curta história do time (criado em 2013). Foram 64 pontos em 34 jogos da temporada regular. Time acabou caindo na semifinal de conferência, após derrota por 2 a 1. Ao todo, teve média de 1.8 gols por jogo.
O número é inferior aos 2.45 de Jesus no Brasileiro,mas, ainda assim, foram muito bons. Preocupa a defesa. Equipe sofreu 44 gols, com médias de 1.25 por jogo. Desses, 32 foram dentro da área em bola rolando. Mas é preciso destacar também a qualidade individual dos atletas.
Os jogadores do NYC, principalmente os de defesa, são bem inferiores aos do Flamengo. Dos gols sofridos, 9 foram erros individuais grotescos - como goleiro furando a bola no recuo, zagueiro passando a bola errado do lado da área, errando o tempo de bola e fazendo pênalti...
O time ficou 8 jogos sem sofrer gols, enquanto o Flamengo de Jesus no Brasileirão não sofreu em 11 das 29 partidas. A média do rubro-negro foi de 0.9 gols sofridos. Mas, a bola parada cruzada na área é um ponto forte de Torrent. Sofreu apenas 1 gol dessa forma em 2019.
Agora sobre as formações. Diferente de Guardiola, que costuma usar basicamente o 4-3-3, Torrent alterna mais. Ele passou boa parte do campeonato no 3-4-3, com laterais/alas, depois alternou o 4-3-3 e o 4-2-3-1. O 4-4-2, do Flamengo de Jesus, até foi usado, mas poucas vezes.
Nas três formações há algumas semelhanças. Torrent gosta que os atacantes da ponta atuem aberto, mas com liberdade para infiltrar na área e cair para o meio. Centravante também se movimenta bastante. Objetivo é abrir espaços para infiltrações e triangulações.
Em todas, têm um meia que se movimenta muito pelo campo inteiro, sendo o cérebro do time. O argentino Maxi Moralez, camisa 10 da equipe, era uma espécie de Kevin De Bruyne do time. Busca bola no círculo central,cai pelos lados (mais esquerda), entra na área, chuta e da o passe.
Moralez terminou o Campeonato com 7 gols e 13 assistências, muitas delas de uma técnica incrível. No Flamengo,vejo Arrascaeta com características bem parecidas. Inclusive, o uruguaio terminou o Brasileiro com 13 gols e 14 assistências. Everton Ribeiro também pode fazer muito bem.
Os outros 2 meias do time variam. No 4-3-3, há um volante mais próximo dos zagueiros (espécie de Busquets) e um com mais liberdade. No 4-2-3-1, os dois ficam lado a lado. Já no 3-4-3,o 1° volante vira o 3° zagueiro. Moralez e o 2° meia ficam juntos e os laterais atuam nas alas.
Os laterais, inclusive, participam muito dos momentos ofensivos, mesmo nas outras formações, principalmente o direito. O sueco Anton Tinnerholm, 29 anos, estava sempre no ataque pela ponta, entrando muito na área. Terminou o campeonato com 1 gol e 7 assistências (Rafinha deu 5).
Os zagueiros, além de atuarem com a linha adiantada, participam bastante do jogo. Se pegar os 2 principais do time no ano passado, eles tiveram médias, somadas, de 95.8 passes por partida, sendo 20.5 no campo de ataque, além de 7.8 bolas longas. Nenhum gol ou assistência.
Em termos de comparação, Rodrigo Caio e Pablo Marí tiveram, somados, no Brasileiro, 90.6 passes por jogo, sendo 34.7 no campo de ataque e 5.8 bolas longas. Marcaram 3 gols e deram 1 assistência. Os passes no campo ofensivo refletem como o Flamengo conseguia empurrar o adversário.
O time de Torrent tem muita movimentação no campo de ataque, com mudanças de posição no momento ofensivo, mas, menos que o de Jesus. Muitas vezes o time ficava com ER7 na esquerda, Arrascaeta no ataque e Gabigol na direita, por exemplo, e ia mudando, enquanto NYC é mais no lance.
É dificil saber qual vai ser a formação que Torrent vai usar. Como falei, ele não é um técnico fechado em apenas um esquema, então é possivel que mantenha o modelo do Jesus. Até porque, algo que me chamou atenção positivamente, Dome afirmou que viu os jogos do Flamengo em 2019.
Estudioso e bem preparado, é possível que ele entenda no modelo usado por Jesus um estilo vitorioso. Não estranharia também se tentar algo diferente, mas sem tirar as características dos atletas. Não acredito que vá usar o 3-4-3 como prioridade - só circunstancialmente.
Mas, creio que tente o 4-3-3. Arão seria o 1° Vol mais próximo dos zagueiros, Gérson o 2° e Arrascaeta sendo o "Moralez/De Bruyne". BH seria o atacante da esquerda que infiltra e ER7 na esquerda, centralizando, dando espaço para Rafinha avançar. Gabigol se movimentando no ataque.
Não acho que a questão do idioma vai ser um problema. Além de vários jogadores do Flamengo falarem espanhol, as vezes a língua é mais fácil de entender do que o próprio português de Portugal. Já sobre a adaptação, claro que Torrent vai precisar de um tempo.
Porém, vale destacar que ele pega um grupo muito diferente dos padrões do Brasil. Quase um time europeu, pois muitos atletas passaram pela Europa, além do período do Jesus e da clara união do elenco. Além disso, Torrent já trabalhou com vários Brasileiros, inclusive com Rafinha.
Algo fundamental também é os jogadores abraçarem o técnico e as ideias dele. Isso não parece ser problema,tendo em vista os elogios de Rafinha, um dos líderes do elenco, e do Guardiola sobre Torrent. Lembrando que, como auxiliar,ele tinha um papel forte na relação com os atletas.
Então, apesar de pouca experiência como treinador, acho que Torrent é uma ótima aposta do Flamengo e tem tudo para dar certo. Material humano ele tem para implementar as ideias. A torcida só deve ter um pouco de paciência, lembrando que é um novo trabalho e precisa de adaptação.
