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Nem tudo na Medicina é baseado em evidências. Alertar um defensor das evidências disso é o mesmo que alertar um defensor da natureza de que está havendo desmatamento.

Nos próximos tweets, explico o óbvio: porque não devemos aceitar como normal algo que pode nos fazer mal.
O médico é um profissional dos mais confiantes. Isso ocorre por duas razões: a) (a maioria de nós) lê a literatura médica, que obviamente nos mune de “armas” para diagnosticar e tratar condições que um leigo não faria; b) a sociedade cobra isso de nós: ai do médico que vacilar.
Esse viés de confiança exagerada acaba cegando o médico.
Imagine que ele prescreve um remédio para reduzir extrassístoles de alguém que teve infarto. O primeiro exame em vigência da terapia mostra “zero extrassístoles”. Aumenta a confiança do médico.

Mas algo inesperado acontece
O paciente não vem à próxima consulta. Ele morreu subitamente em casa.
O médico, muito confiante, pois havia feito exatamente o que o livro da época havia mandado, pensa: “puxa, que pena que OUTRA coisa aconteceu e acabou levando o paciente à morte”.
A subjetividade disso é tão grande que para o próprio paciente (em exemplos que fica vivo, mas passa por algo mau) acaba sentindo que "tinha mesmo que passar por aquilo, porque fazia parte do tratamento". É o viés do "gato de Schrodinger” (outro post aqui do meu feed).
Perceba que pelo fato de estar fundamentado em um livro (ou em um protocolo de alguma sociedade ou ministério), existe uma sensação de que foi feito o que deveria. E se o paciente evoluiu mal, foi por outra causa.
Por que isso não é, necessariamente, verdadeiro?
Porque sabemos que os resultados de intervenções no corpo humano não são previsíveis como o cair de uma maçã no chão. Medicina é probabilidade. Ao receitar um medicamento, existe uma probabilidade de melhora. Às vezes temos que medicar 300 pessoas pra reduzir 01 evento.
E, assim, o médico super-confiante não é ensinado a questionar suas atitudes. “Se eu segui o livro ou a diretriz, o que ocorreu foi uma infelicidade”.
Pois é. É o problema de se enxergar as coisas com confiança demais e sem rigidez metodológica.
O remédio que reduzia extrassístoles é a Flecainida. Era prescrita na década de 80, quando chegou a ser considerado anti-ético pesquisá-la. O CAST trial, estudo com ela, mostrou que ela aumentava a mortalidade. Estima-se que 50 mil pessoas morreram só nos EUA pela droga.
Quantas terapias dessas que médicos super-confiantes batem no peito para falar “isso aqui não tem evidência. É pura observação" podem ter o mesmo destino da Flecainida quando postas à prova?
Quantas terapias já foram postas à prova e falharam, mas continuam sendo defendidas?
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